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Emir Sader: A direita brasileira procura um candidato de centro

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Reprodução

 

Centro era o PSDB, alternativa ao PT e ao Lula. Era FHC aliado ao PFL, implementando o neoliberalismo no Brasil. Esse era o “centro”.

O fracasso do Plano Real, a vitória do Lula, o sucesso dos governos do PT e as quatro derrotas sucessivas dos candidatos tucanos levaram o centro a aderir à alternativa do golpe. O projeto era o mesmo – restauração do modelo neoliberal, mas se abandonava a via democrática.

A penosa imagem do PSDB é a cara do que aconteceu com o “centro” brasileiro. Repudiado nas urnas pela população, dividido entre candidatos acusados de corrupção, rejeitado nas pesquisas, o PSDB deixou de ocupar o lugar do “centro”.

O PMDB foi sempre o coadjuvante, seja dos tucanos, seja do PT. Não era alternativa, até que o golpe deu a possibilidade de que assaltasse o poder e constituísse o governo mais corrupto da historia do país, assumindo o modelo neoliberal a que se havia oposto nas eleições presidenciais.

O golpe destruiu o “centro” e promoveu a radicalização de setores de classe média, que se reconhecessem em Bolsonaro, a expressão mais clara da extrema direita brasileira. Aí começa o pânico na direita, que se preocupa não com o conteúdo das posições do Bolsonaro – que ela pregou e incentivou na campanha de desestabilização que levou ao golpe –, mas com a fraqueza dessa candidatura para enfrentar a força do Lula.

As capas de revista passam a substituir as acusações mentirosas contra o Lula pela tentativa de promover o medo da alternativa Lula/Bolsonaro. E a correspondente busca de um candidato de centro.

Meirelles, candidato do centro? Ele, que representa o eixo do governo antipopular, responsável em grande medida pela rejeição da imagem do Temer? Pode se apresentar aos eleitores como responsável de uma retomada do crescimento que ninguém sente, além de responsável pela destruição dos direitos dos trabalhadores, pelo congelamento de recursos para as políticas sociais, pela recessão e pelo desemprego? Ilusão desesperada de quem não pode encarar uma eleição democrática.

Huck é a outra cara dessa busca desesperada, depois que o Doria se desmanchou no ar. A imagem de alguém supostamente de fora da política, com imagem projetada pela mídia, é o refúgio de quem não pode encarar alternativas políticas. Mas as pesquisas são implacáveis com nomes inconsistentes, convocados para uma mágica a favor de uma direita impotente.

Está aberta a temporada do anti-Lula, porque é disso que se trata. Bolsonaro pertence a esse pacote.

Imaginem um debate entre o Lula e qualquer um desses nomes ou outro que venha a ser inventado.

Daí o desespero da direita. Porque, além disso, não basta um nome, é preciso um discurso, um programa.

Meirelles tem a ilusão de que possa pregar a continuidade do ajuste fiscal, que tantas desgraças provoca na vida da grande maioria dos brasileiros, anunciando uma suposta retomada do crescimento econômico, visível apenas para os bancos.

A direita já gastou o seu discurso de colocar a culpa da crise nos governos do PT. Lula faz a contraposição inquestionável de como foram esses governos em oposição ao que é o governo do Temer. O discurso da corrupção do PT se desgastou totalmente diante dos gigantescos escândalos de corrupção dos dirigentes do PMDB e do PSDB.

Mas a operação de busca de um nome está aberta e é prioritária para a direita. Nomes anódinos como Álvaro Dias e outros se propõem a ser o anti-Lula, já que os candidatos do PMDB e do PSDB são inviáveis.

O medo ao Lula tem pouco peso, diante do pânico do que o governo Temer provoca no país e sua eventual continuidade com alguém como Meirelles, que assume abertamente o modelo neoliberal ou outros, que disfarçaria a ascensão desse modelo.

Pode restar um quadro de candidaturas com Lula, Bolsonaro, Alckmin – ou outro similar. A polarização maior será sempre entre governo neoliberal ou retomada de governo antineoliberal. Personificado pelo Lula contra um anti-Lula qualquer.

*Emir Sader é sociólogo e colunista do Brasil 247

Brasil 247