Funaro confirma o “estancar a sangria”: Temer e Cunha tramaram golpe
Em delação premiada, o doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador financeiro de lideranças da cúpula do PMDB ligada a Michel Temer, disse o que o Brasil inteiro já sabe: “Temer e Eduardo Cunha tramavam diariamente a saída da presidente Dilma Rousseff”. Ou seja, foi golpe.
Por Dayane Santos
A declaração está em um dos anexos da delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Funaro, enquanto Temer atuava no núcleo político do PMDB viabilizando interesses de empresas que subornavam o grupo para terem preferências em licitações, Cunha arrecadava vantagens ilícitas para garantir a sua base aliada nas votações do Congresso.
“Na época do impeachment de Dilma Rousseff, eles confabulavam diariamente, tramando a aprovação do processo e, consequentemente, a nomeação de Temer como presidente”, disse o doleiro em trecho da delação.
De acordo com matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, Funaro disse que a relação entre Temer e Cunha era bastante volátil, e dependia muito do “momento político” em que o partido atravessava.
A defesa de Cunha não negou as declarações de Funaro, apenas se limitou a dizer que, enquanto o sigilo da delação não for levantado, não irá se comentar.
Crime notório
Tal conspiração foi diuturnamente denunciada por diversos parlamentares, lideranças políticas e do movimento social. A própria presidenta Dilma denunciava a trama golpista antes mesmo de deixar a presidência.
“Temos de dar nomes aos bois. Este é um processo [de impeachment] conduzido pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e pelo vice-presidente [Michel Temer]. Os dois proporcionaram ao país esta espécie moderna de golpe, um golpe feito rasgando a nossa Constituição”, disse Dilma em discurso em 10 de maio do ano passado.
Recentemente, após votação que engavetou a denúncia por corrupção passiva contra Temer no esquema revelado pela delação de Joesley Batista, a presidenta eleita afirmou: “Os deputados que salvaram o presidente golpista de ser julgado no STF por crime de corrupção são os mesmos que, no ano passado, deram início ao impeachment fraudulento. São os mesmos que elegeram Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. E são os mesmos que, agora, salvam Temer”.
Além disso, a conversa entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, gravadas em 2016, já escancaravam a trama do golpe contra a democracia. A conversa ocorrida semanas antes da votação na Câmara dos Deputados, na época era presidida por Cunha, revelava que o processo de impeachment contra Dilma foi fabricado pelos aliados de Temer.
“Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está”, disse Jucá. “Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, disse Jucá, que defendia a construção de um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”, já que nas investigações começavam a aparecer nomes da cúpula do PMDB e PSDB. Machado concorda: “Aí parava tudo”.
As investigações feitas a partir das gravações de Machado foram arquivadas pelo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, nesta segunda-feira (11), por considerar que a trama do golpe era apenas uma “eventual intenção”.
Do Portal Vermelho