O golpe de Temer, na visão dos trabalhadores
Não existe abordagem neutra da história e da política e, neste momento em que estas linhas estão sendo lidas, a história e a política estão sendo feitas, inclusive por quem as lê e quem as escreveu. Está é uma premissa com a qual o jornalista Umberto Martins escreveu “O golpe do capital contra o trabalho” e o autor não é neutro: não escamoteia que tem lado – o do trabalho contra o capital, o do golpeado que decifra o golpeador.
Por Carlos Pompe*
Trabalhadores foram ás ruas contra o golpe
O livro inaugura a série de publicações que a Central dos Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil (CTB) pretende promover em conjunto com a editora Anita Garibaldi. Como anuncia o presidente da CTB, Adilson Araújo, trata-se de “um texto engajado na luta da classe trabalhadora por uma sociedade mais justa, voltada para a satisfação das necessidades e demandas populares e a construção de um Brasil próspero, democrático e soberano”.
Desmistificando o interesse de classe dos golpistas
A abordagem consciente dos fatos históricos requer a investigação das relações reais, totalizadora e desmistificadora. Umberto vale-se do conhecimento adquirido com anos de estudos e trabalho com o jornalismo econômico, partidário e sindical, sua militância pela causa socialista e o rigor na investigação objetiva dos acontecimentos recentes. Expõe fatos essenciais, entrelaçados por relações causais. Com isso, descarta o mero relato cronológico do golpe.
O autor demonstra a conexão interna dos que promoveram o falso impeachment de Dilma Rousseff ao longo de ações e pregações de vários anos, reduzindo, segundo sua concepção classista, os acontecimentos políticos a efeitos e causas que, em última instância, são econômicos. Desmascara as relações promíscuas entre os capitalistas nacionais e forâneos, interesses de setores, castas e corporações em acabar com a experiência que vinha se realizando nos governos Lula e Dilma, aspectos contraditórios desses dois governos que chefiados pelo primeiro operário e primeira mulher na Presidência do Brasil, os interesses da mídia burguesa oligopolista – também aqui nacional e forânea.
Vê a história de uma forma proletária, colocando a luta pelo socialismo e comunismo como parte da investigação histórica, incorporando na análise o objetivo histórico da classe assalariada. Leva, assim, em conta o alerta de Friedrich Engels, cofundador, com Karl Marx, da concepção materialista dialética, exposto em “A ideologia alemã”, onde afirma que nós “temos que examinar a história dos homens, pois quase a totalidade da ideologia reduz-se seja à interpretação adulterada dessa história, seja à completa abstração dela. A ideologia é em si mesma um dos aspectos dessa história”.
Focaliza a história cotidiana de nossa época, debruça-se sobre os acontecimentos no próprio momento em que eles se desenrolam, escreve sob sua pressão direta. Novamente como Engels, para ele a história “não faz nada, ‘não possui uma riqueza imensa’, ‘não dá combates’, é o homem, o homem real e vivo que faz tudo isso e realiza combates; estejamos seguros de que não é a história que se serve do homem como de um meio para atingir – como se ela fosse um personagem particular – seus próprios fins; ela não é mais que a atividade do homem que persegue os seus objetivos” (A sagrada família).
O livro traz para os trabalhadores e trabalhadoras os esclarecimentos e os conhecimentos proporcionados por este momento histórico. Florestan Fernandes, na introdução para o volume sobre Marx e Engels da coleção “Grandes Cientistas Sociais”, registra: “A história da vida cotidiana e do presente em processo, encarada da perspectiva do materialismo histórico, propõe-se lidar, simultaneamente, com os fatos históricos que permitem descrever tanto o ‘superficial’ quanto o ‘profundo’ na cena histórica”. No plano interpretativo, essa abordagem busca descobrir a rede, ou redes, de causação histórica, e é esse o objetivo de Umberto ao oferecer esta obra.
Para além de apresentar e interrelacionar fatos econômicos, políticos e sociais, “O golpe do capital contra o trabalho” também apresenta, em linguagem acessível para o trabalhador, o ativista e o estudioso da conjuntura conceitos fundamentais do marxismo, como o de classes e luta de classes, Estado, mais valia, ideologia e outros que auxiliam ao próprio leitor fazer sua análise da realidade em que vivemos.
Todas as condições de uma exposição de conjunto da história que se desenrola diante de nossos olhos encerram inevitavelmente fontes de erros, mas isso não impede ninguém de escrever a história de nossos dias e Umberto Martins nos apresenta sua colaboração para compreendermos e atuarmos para enfrentar e modificar, para melhor, o mundo que nos foi legado e que legaremos às gerações futuras.
É o autor que afirma que sua obra “procura abordar e compreender o golpe à luz dos interesses e das lutas de classes, sob a ótica do marxismo, que nos sugere, assim como a própria experiência em curso, que os atores principais do drama histórico nem sempre são os políticos que dele participam. Mais relevantes são as ações das classes sociais e, dentro delas, das chamadas classes dominantes, que se movimentam preferencialmente nos porões do poder, à margem do senso comum”.
“O golpe do capital contra o trabalho” terá lançamentos em várias atividades pelo país, a começar pelo 4º Congresso Nacional da CTB, entre 24 e 26 de agosto, em Salvador. Pode ser adquirido no Portal da CTB e na editora Anita Garibaldi .
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Carlos Pompe é jornalista.
Portal Vermelho