“Barragens de minério da região não diferem da que se rompeu em Mariana”, diz especialista
Depois do desastre de Mariana, distrito de Bento Rodrigues, cidade mineira distante 145 km de Belo Horizonte, as atenções hoje se voltam para as outras milhares espalhadas por todo o Brasil. São várias as grandes barragens, centenas de médias barragens e de represas pequenas ou particulares, e o que se tem notícia é que a situação deve receber a devida atenção para evitar a já considerada maior catástrofe natural da história do país: a morte do Rio do Doce.
É sabido também que nada ou muito pouco foi feito ao longo dos anos em se tratando de monitoramento, controle e cobrança das empresas exploradoras do solo para se evitar tragédias como a tal. Em Catalão, por exemplo, existem seis barragens de contenção de rejeitos de minério. Então a pergunta é: será que são seguras? De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (PNPM), não.
A agência observou em recente estudo que as barreiras de contenção mineral em Goiás têm classificações parecidas com a Barragem do Fundão, em Mariana, o que contraria a alegação dos responsáveis pelos diques na região de Catalão, em específico, após inspeção da Secretaria do Meio Ambiente de Catalão (Semmac), Defensoria Pública e outros órgãos no fim do mês anterior. As empresas asseguraram que todos os procedimentos de segurança são seguidos rigorosamente com o objetivo de evitar quaisquer danos.
Especialistas no assunto avaliam que o rompimento da represa não foi um mero acaso ou acidente, e reforçam que os riscos desta catástrofe se repetir é muito grande. “Pelo contrário, ele poderia ter sido evitado. Não é um acidente, é um acontecimento de total responsabilidade das empresas”, afirma Marcio Zonta, membro do Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente à Mineração (MAM), que esteve em Catalão a pedido do Campus local da Universidade Federal de Goiás.
Para ele, a empresa faz a barragem e não há uma fiscalização constante. Além disso, aponta, há o descumprimento com a legislação local, com as comunidades e com as questões ambientais. “As mineradoras em Catalão estão invadindo as propriedades rurais… os moradores rurais não estão sendo consultados. A Vale, por exemplo, está com um projeto de aumento da barragem que ela tem, e ela está chegando nos imóveis dos produtores colocando preço nas propriedades deles. Se eles não quiserem, ela deposita em juízo e as famílias do campo que resolvam na Justiça o valor que ela determinou. Isso é de uma violência e está acontecendo aqui”. Zonta disse ainda que a Vale está diretamente ligada ao rompimento da barragem de Mariana, tendo ela 50% das ações da Samarco.
Com quase 15 mil barragens no país, entre rejeitos minerais, industriais, reservação de água e hidrelétricas, cerca de 450 são fiscalizadas constantemente e, de todo o montante, somente 165 tem algum plano de emergência para não afetar drasticamente a população.
Zonta reforça que o modelo de mineração no Brasil, a exemplo de Mariana, está ultrapassado e não tem a menor preocupação com a população local. “Temos uma mineração preocupada apenas em saquear o povo, em extrair o mais rápido possível com o menor custo e sem se preocupar em reverter os danos causados por ela. A solução é garantir que quem for afetado de alguma forma tenha poder de fiscalizar e denunciar”, reforçou.
Durante a entrevista Zonta comentou que uma universidade do Mato Grosso concluiu que os cânceres mais comuns em Catalão estão ligadas a respiração, o que denuncia a péssima qualidade do ar existente aqui.
A Semmac e o Ministério Público vão divulgar em breve os resultados das avaliações das represas da região.
Por: Gustavo Vieira