Ex-diretor da SAE fala ao Blog…
Gente boa do Blog, quem realmente acompanha os blogs de Catalão e outros meios de informação, já percebeu que o blog do Mamede é diferente, aqui ouvimos os dois lados da notícia, valorizamos a informação, não a inventamos e muito menos soltamos para nossos leitores apenas o que ‘achamos’.
Assim, fomos procurar quem entende do assunto SAE e trouxemos aos nossos leitores uma entrevista feita com o ex-superintendente Fernando Ulhôa que por 12 anos esteve lá cuidando de nossa água. As mesmas perguntas serão feitas ao atual superintendente César Ferreira, claro, quando conseguirmos falar com ele.
Tido como um filho da Prefeitura Municipal de Catalão, a Superintendência Municipal de Água e Esgoto, a SAE, desde que se transformou em mais um órgão municipal, deixando de ser a exploração de água e esgoto a serviço da SANEAGO, sempre foi a repartição do município mais importante e rentável para os cofres públicos.
Como água é abundante no país, mesmo com a pontual escassez dos últimos dois anos, especialmente no Centro-Oeste, o negócio não deixou de ser altamente lucrativo e viável pelo consequente e natural aumento da população, que por sua vez resulta em mais e cada vez mais consumo.
Em Catalão a SAE foi, é e sempre será um dos temas mais debatidos e discutidos na cidade, e na administração do prefeito Jardel Sebba (PSDB) o assunto tem ganhado dimensões incalculáveis e inimagináveis tempos atrás; não muito tempo assim.
A concessão dos serviços de abastecimento e esgotamento sanitário da autarquia para uma empresa privada vem sendo muito almejada pela administração Sebba, e o tema virou projeto de lei e está em tramitação na Câmara dos Vereadores. O Projeto de Lei nº 70/15, de autoria do Executivo, prevê que a SAE seja administrada por terceiros no prazo de 35 anos, podendo haver prorrogação para mais 35.
Em recente entrevista para o Blog o prefeito alegou que o município não tem condições de investir o que acha necessário para garantir água nas torneiras dos catalanos por longos anos, o que, sustenta ele, seria ao custo de mais de R$ 130 milhões de reais. “A SAE foi municipalizada há pouco mais de dez anos e ela recebeu aproximadamente R$ 110 milhões de reais e apenas R$ 8 milhões foram investidos, fora as dívidas que giram em torno dos R$ 140 milhões resultado das últimas administrações. O sistema de abastecimento da repartição está podre, defasado, carcomido e nós precisamos de mais de R$ 130 milhões para adaptarmos o nosso sistema de água e esgoto para a sociedade não sentir os efeitos da falta de água”. Com relação ao apelo de grande parte da população para que a SAE não seja terceirizada, Jardel conta que não quer ser responsabilizado por não ter tomada a iniciativa. “Eu acredito que nós precisamos de uma concessão privada pra fazer uma sociedade com a SAE. Eu não quero ser culpado caso venha faltar água no futuro”, explicou.
Sobre o que foi tratado na reportagem o ex-superintendente da repartição, Fernando Vaz Ulhôa, por telefone, se posicionou contrário a tudo e disse não concordar também que a SAE, “patrimônio dos catalanos”, observou ele, seja concedida a uma empresa particular da maneira que o atual governo pretende.
Ulhôa foi superintendente da empresa durante as gestões de Adib Elias e Velomar Rios, ambos do PMDB, e várias perguntas de relevante interesse aos catalanos foram feitas a ele. Acompanhe a entrevista:
Blog do Mamede – O prefeito vem dizendo que é necessário investir no abastecimento de água e esgotamento de Catalão, mas alega não ter dinheiro suficiente nos cofres públicos do município para isso.
Fernando Vaz Ulhôa – Nas últimas gestões, do PMDB, a SAE funcionou permitindo fazer investimentos com a arrecadação de R$ 1,6 milhão/mês. Todos os funcionários eram contratados por uma empresa e todo o serviço administrativo e operacional feito por ela consumia apenas 30% do total arrecadado. Essa de a SAE não ter dinheiro é balela porque quando saímos conseguimos recursos na ordem de R$ 27,5 milhões oriundos do PAC 2.
Blog – A atual administração alega que muito pouco foi investido nas gestões passadas e que por isso a SAE encontra-se em condição caótica. O que pensa a respeito?
Ulhôa – Quando nós começamos a operar o sistema tínhamos vinte mil ligações de água e oito mil de esgoto em Catalão, quando deixamos a SAE, no final de 2012, eram 35 mil ligações de água e 17,5 mil de esgoto, ou seja, mais que dobramos o sistema e com recursos próprios. Pelo que estou vendo aí o que estão querendo fazer é uma bola de neve com a SAE.
Blog – O prefeito Jardel Sebba vê como única alternativa a concessão dos serviços da empresa para o setor privado para garantir o abastecimento ao longo dos anos. Essa é mesmo a melhor alternativa para Catalão?
Ulhôa – Eles já fizeram empréstimos para isso e não sei onde eles foram aplicados. Pra quê fazer isso se a SAE tem dinheiro? Estimo que com uma tarifa criada logo no início desse governo e mais ligações feitas, tanto de água quanto de esgoto, eles devem estar lucrando perto dos R$ 3 milhões de reais/mês. Só o valor dessa tarifa, que acho que deve dar cerca de R$ 200 mil no mínimo, daria para pagar mais uma equipe de atendimento de campo na superintendência.
Blog – É sustentado que ainda no governo do PMDB foi estudado e elaborado projeto sobre a água, e que os levantamentos previam que a SAE teria problemas para atender a população em um futuro próximo. Se isso realmente procede, por que nada foi feito enquanto a oposição de hoje governava o município?
Ulhôa – Isso não procede e não entendo a razão disso. Não existe projeto elaborado por nós nesse sentido, e se ele não existe, eu garanto, como é que você pode estimar um custo sem projeto? Isso é uma grande mentira e peço ao prefeito que apresente à população esses documentos; é uma justificativa pretenciosa para vender a SAE.
Blog – O prefeito diz que encontrou a SAE com muitos problemas logo que assumiu o Executivo, e que se deparou com dívidas astronômicas deixadas pela gestão do PMDB.
Ulhôa – Insisto que ele apresente documentos que comprove isso. Quando saímos deixamos a SAE sem dívidas e quase R$ 1 milhão em caixa. É só ele apresentar o extrato do saldo bancário do dia 31 de dezembro de 2012 e tudo se resolve.
Blog – Falando em documentos, recentemente arquivos importantes, não se sabe ainda acerca do que, foram queimados em uma sala restrita da Superintendência e a polícia considerou o ato criminoso. O caso está sendo investigado e segue em sigilo. O que pensa sobre isso?
Ulhôa – Isso foi plantado para que eles não sejam fiscalizados quando entrar outro governo. Insisto mais uma vez que me diga aonde os recursos da SAE, que estimo ser de R$ 3 milhões hoje, estão sendo aplicados. Eles querem é esconder algo para não serem fiscalizados posteriormente.
Blog – Então a SAE tem dinheiro para investir no que for necessário?
Ulhôa – Sim. Ao invés de passar os serviços dela para terceiros, e na necessidade de dinheiro que é algo que eu duvido que esteja acontecendo, eles poderiam usar programas de crédito dos bancos públicos, por exemplo, que têm juros reduzidos e com parcelas bem menores. Eles não podem tirá-la dos catalanos e dar para outros fazerem o que bem quiserem, o povo não pode deixar.
Por: Gustavo Vieira/Foto: reprodução