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A terceira onda de imigrantes europeus rumo à América

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A primeira vez que chegaram aqui, vieram com a espada e a cruz. Para dominar e explorar. Impuseram os maiores massacres que nossa história viveu: a colonização, a dizimação das populações indígenas e a escravidão. Deixaram legado monstruoso, pelo qual pagamos preço até hoje. Foram expulsos pelas guerras de independência, mas ficaram heranças da sua primeira visita.

Por Emir Sader, na Rede Brasil Atual

 

Eles chegam à América Latina buscando trabalho e esperança. Ninguém é devolvido a seu país, como ocorre com os milhares que tentam perigosamente chegar às costas da EuropaEles chegam à América Latina buscando trabalho e esperança. Ninguém é devolvido a seu país, como ocorre com os milhares que tentam perigosamente chegar às costas da Europa

A segunda onda foi muito diferente. Eram trabalhadores imigrantes, que séculos depois vieram em busca de trabalho e melhores condições de vida. Foram parte essencial na formação das nossas classes trabalhadoras, trouxeram experiências de luta, ideologias populares, calor humano e cultura para nós. Foram muito bem recebidos, vieram para ficar e ficaram.

Passou muito tempo e o movimento de migração mudou de direção. Fomos nós a buscar melhores condições de vida por lá. Em países como a Espanha foram centenas de milhares de latino-americanos, em particular equatorianos e bolivianos, que foram fatores essenciais para o boom econômico centrado na construção civil. Enquanto foram necessários, foram recebidos, parte deles legalizados, em situação menos ruim do que os trabalhadores africanos.

Quando chegou a interminável crise recessiva por lá, a partir de 2008, os imigrantes começaram a voltar para seus países, até porque, enquanto no Equador e na Bolívia a situação melhorou claramente, na Espanha os imigrantes estavam entre os primeiros a pagar o preço da crise.

A partir dali começou uma terceira leva de imigrantes de lá para cá. A Europa, um dos continentes mais ricos do mundo – porque acumulou riquezas nos explorando, na sua primeira vinda para cá –, passou a exportar gente. Veio uma nova leva de imigrantes expulsos pelo desemprego, pela expropriação de direitos, pela recessão, pela falta de futuro.

A nova tendência da migração internacional: levas de europeus chegam à América Latina buscando trabalho, melhores condições de vida, esperança de futuro. São bem recebidos. Ninguém é devolvido para seu país, como ocorre com os milhares que tentam chegar em precárias embarcações às costas da Europa. A ninguém é negado documento, como o tiveram milhares de latino-americanos que se submeteram a trabalhar em condições subumanas por lá. Todos são bem recebidos, como são os haitianos, os sírios e tantos outros que buscam refúgio e trabalho.

Quando havia centenas de milhares de equatorianos e bolivianos na Espanha, houve uma manifestação de equatorianos reivindicando documentos. Havia um cartaz com uma frase muito expressiva: “Estamos aqui, porque vocês estiveram lá”.

Desta vez nós os acolhemos, como fizemos com os trabalhadores imigrantes italianos, espanhóis e de outros países que vieram ajudar a constituir a nossa classe trabalhadora. Hoje encontram países diferentes, diminuindo a pobreza e a desigualdade, solidários, a receber fraternalmente essa terceira leva de europeus que chegam por aqui.

Portal Vermelho