SEM REDE, MARINA ANUNCIA FUTURO NESTA SEXTA
A ex-senadora Marina Silva vai anunciar hoje (4), em entrevista coletiva à imprensa, se vai concorrer às eleições do ano que vem por outra legenda. Na noite desta quinta-feira, por votos a 6 votos a 1, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou registro ao partido Rede Sustentabilidade, fundado por Marina. Os ministros entenderam que a legenda não conseguiu o mínimo de 492 mil assinaturas de apoiadores exigido pela Justiça Eleitoral.
Após o julgamento, Marina Silva disse que não está decepcionada com a decisão do TSE, porque entende que a corte reconheceu que a Rede preencheu os demais requisitos da Justiça Eleitoral. “O mais importante é que nós obtivemos nesta corte a declaração de todos os ministros de que nós temos os requisitos mais importantes para ser um partido político. Eles disseram que nós temos um programa e representação social. O registro é só uma questão de tempo”, declarou.
De acordo com a lei da Justiça Federal, Marina tem até este sábado para anunciar filiação a algum partido caso ainda queira concorrer em 2014.
O tucano Aécio Neves (PSDB) até sondou a possibilidade de ter Marina como vice em sua chapa. Mas como segunda candidata das pesquisas, ela deve usar sua força sozinha, como uma das alternativas contra Dilma no palanque. Segundo nota do Painel, da Folha, o senador mineiro vai telefonar hoje para Marina. Dirá que ela terá papel fundamental em 2014, qualquer que seja sua decisão sobre concorrer ou não.
Entre as saídas consideradas pelo grupo de Marina estão:
PPS
Originado do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o partido estava esperando a adesão de José Serra, que ameaçava deixar o PSDB. O presidente da sigla, Roberto Freire, deixou claro ontem mesmo que a ex-senadora é bem-vinda, mas disse que “cabe a Marina tomar uma decisão.” “No PPS, ela não enfrentará nenhum constrangimento. Se houver divergência é de ideia, não de princípios éticos”, disse.
PEN
O Partido Ecológico Nacional (PEN) foi criado no ano passado e tem bandeiras semelhantes às de Marina. A sigla até poderia ser rebatizada de Rede, mas a falta de estrutura partidária é um ponto negativo.
PV
Em 2010, Marina concorreu à Presidência pela sigla, após ela deixar o PT. No entanto, saiu brigada com a cúpula.
Abandonar 2014
Sair da disputa com o sentimento de que tentou de tudo, perder a credibilidade de aderir a um partido convencional ou deixar um terço de eleitores na mão?
Leia o artigo de Marina publicado nesta sexta, na Folha:
Eu já sabia
É claro que o título acima é uma brincadeira. Escrevo antes da sessão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que vai julgar o pedido de registro da Rede e não posso antecipar o resultado, embora mantenha viva e forte minha confiança na Justiça.
A Rede é uma realidade e já contribui para a ampliação e o aprofundamento da democracia no Brasil. Em primeiro lugar, porque oferece um espaço de reencantamento com a política para uma vasta parcela da população que se mantinha afastada, profundamente decepcionada com os partidos, discursos e práticas dominantes.
A Rede abre uma porta especialmente para a juventude. Oferece aos jovens uma possibilidade de expressão, ação e elaboração de novos ideais e projetos identificatórios. Isso é de uma importância incalculável, uma estreita ponte para um futuro possível.
Mesmo enfrentando a resistência de quem quer manter o “status quo” a qualquer custo, a Rede cria uma agenda estratégica para o país e inscreve o debate sobre a sustentabilidade em sua página central. Questiona os falsos consensos sobre produção e consumo, energia, infraestrutura e todos os elementos de uma ideia de progresso que herdamos do século passado e que já chegou ao seu limite.
E até nas dificuldades para se institucionalizar, a Rede denuncia os limites do sistema jurídico e político do país e abre a possibilidade de mudanças. Invertendo a prática comum dos partidos, de primeiro se registrarem para depois buscarem representatividade social, a Rede surge como movimento social amplo e profundo e é sintomático que passe apertadíssima nas estreitas aberturas do sistema político hoje existente (em que organizações artificiais, diga-se de passagem, passam com folga).
A Rede, enfim, já nasce cumprindo seu destino: democratizar a democracia.
Mas, para tornar séria a brincadeira do início, disso tudo eu já sabia. E é essa certeza que quero compartilhar: o encontro do Brasil com os limites e fragilidades de sua democracia, sua superação e fortalecimento, é uma hora da verdade que não pode ser evitada. Sem a atualização de todo o seu sistema político, sem sua passagem ao século 21, o Brasil corre o risco de uma entropia que desfaça todos os avanços que obteve desde o fim da ditadura.
De nada adianta criar obstáculos e dificuldades, os organismos vivos de um novo tempo já surgem para substituir as estruturas que se fossilizaram com o tempo. Como dizíamos em nossa juventude, mesmo que matem milhares de flores não poderão impedir a chegada da primavera.
Há quanto tempo sabemos disso, não é mesmo?
Brasil 247