Rennan Martins: “O recado das ruas, urnas e redes”
A eleição mais acirrada desde a redemocratização deixou-nos uma série de sinais e desafios. A voz das ruas, redes e urnas posicionou-se, e é de fundamental importância dar ouvidos a ela. A participação social ampla é um dos pontos-chave se pretendemos construir um país solidário, justo e plural.
Por Rennan Martins, publicado no Blog dos Desenvolvimentistas
A primeira coisa mais notável dessa eleição é o fato dos cidadãos não mais confiarem na grande mídia. A reeleição de Dilma deixou claro que os brasileiros já notaram que nossa imprensa age partidariamente, que tenta influir de forma suja no desenrolar de nossa democracia. A resposta que deram a este latifúndio da voz foi uma clara rejeição.
O elitismo e o preconceito de classe também foram derrotados. Uma parte do eleitorado tucano influiu de forma decisiva na derrota do próprio candidato. Com suas intervenções de ódio contra nordestinos, gays e outras minorias promoveram uma ampla contrapropaganda. Sem dúvida muitos viram o teor destes comentários e preferiram manter-se ao lado de Dilma.
Outro sinal importante dado pelos eleitores é de que desprezam o falso moralismo. O resultado das urnas deixou claro que a população não se deixa mais levar por moralismo de ocasião, por surtos éticos puramente eleitoreiros. Qualquer candidato que queira disputar o Palácio do Planalto precisa entender que não serão discursos rasos de “limpeza” que os catapultará. O brasileiro entendeu que o combate a corrupção se dá com atitudes, não com retórica.
A vitória de Dilma indica que o povo é consciente de que o país avançou, que o nível de vida das pessoas melhorou. Isso não significa, porém, que há conformismo. O que se pretende é a continuidade da inclusão social, do crescimento econômico que não deixa de lado as pessoas.
A derrota de Aécio é também um claro não ao projeto que quer sujeitar o povo aos “fundamentos macroeconômicos”. O brasileiro entendeu que há divergências entre o mercado e os interesses populares, e assim declarou que não mais deseja o país submetido a ajustes ditados por tecnocratas de instituições internacionais especializadas no arrocho.
A reeleição também sinaliza que o país vê com bons olhos a postura pró-ativa e independente do Brasil no cenário internacional. A cooperação Sul-Sul, a integração latino-americana o Brics foram aprovados. A construção de uma ordem internacional multipolar foi compreendida e recebeu seu voto de confiança.
Dilma irá para seu segundo mandato com enormes desafios. A economia precisa de novas bases que criem condições para mais um ciclo de crescimento e desenvolvimento. O país necessita com urgência de reformas que tornem nossa democracia mais próxima dos anseios dos cidadãos.
Em termos econômicos, o desafio é romper em definitivo com o neoliberalismo, assumir de vez que perseguimos outro modelo, de prioridades diversas. É preciso deixar claro que essa proposta prevê o lugar do Estado na economia, que não se quer relegar tudo ao mercado, que a esfera pública não será mínima.
Quanto as reformas, Dilma deu ênfase de que pretende deflagrar a reforma política, a mais estratégica delas. O fim do financiamento de campanhas por pessoas jurídicas é um dos mais importantes pontos que devem ser perseguidos.
A imprensa brasileira também precisa ser revista. As verbas publicitárias estatais devem ser distribuídas seguindo princípios inclusivos, democráticos e plurais. A grande mídia não mais dialoga com a realidade, atua a margem dela, com objetivos próprios. Incentivar outras visões e desconcentrar os anúncios estatais é fundamental para nossa democracia.
Como já dito acima, os desafios continuam enormes. Os brasileiros que desejam o bem comum certamente permanecerão debatendo, se engajando, fazendo política a todo o tempo.
Portal Vermelho