Com depoimentos e documentos históricos, como vídeos, áudios e fotos, documentário relata as atrocidades cometidas pela ditadura até o ano de 1976
Publicado pelo Portal Vermelho
Considerado o “filme das Diretas”, Jango, de Silvio Tendler, conta a trajetória política de João Belchior Marques Goulart, o Jango, 24° presidente brasileiro, deposto pelo golpe militar em 1º de abril de 1964. O documentário captura a efervescência da política no País durante a década de 1960 e narra os detalhes do golpe.
Produzido em 1984, penúltimo ano da ditadura, o filme não conta com diversos fatos que foram descobertos desde então, sobretudo os que envolvem a misteriosa morte do ex-presidente. Gaúcho de São Borja (RS), nascido em 1º de março de 1919, filho de um estancieiro e coronel da Guarda Nacional e de uma dona-de-casa, Jango ingressou na carreira política em 1945, por influência de um ilustre amigo da família: Getúlio Vargas.
Dali para que ele se tornasse ministro do Trabalho foram oito anos. De orientação progressista, o nome de Goulart no ministério ajudava Vargas a lidar com os trabalhadores – que, desde a posse de Vargas, em 1951, protestavam contra o alto custo de vida.
Como ministro, Jango tomaria uma medida radical que custaria seu cargo: em janeiro de 1954, enfrentou a mobilização dos trabalhadores por um reajuste salarial de 100% – e também a rejeição dos empresários. Como o desfecho foram os 100% pleiteados pela classe trabalhadora, Jango sofreu uma forte pressão dos empresários e da imprensa, o que o levou a renunciar ao cargo.
Em 1955, Goulart foi eleito vice-presidente, na chapa PTB/PSD, tendo obtido mais votos que o presidente eleito, Juscelino Kubitschek (naquela época, as votações para presidente e vice eram separadas). Na eleição de 1960 ele foi novamente eleito vice-presidente, concorrendo pela chapa que fazia oposição ao prefeito eleito, Jânio Quadros.
Só que o Brasil não esperava que o excêntrico Jânio Quadros, pouco tempo depois de assumir a Presidência da República, renunciasse ao cargo, em agosto de 1961, o que abriu uma das maiores crises políticas de nossa história. Ministros militares, contrariando a Constituição, vetaram a posse de Jango. Diziam que ele encarnava a ameaça comunista.
Começou, então, a Campanha da Legalidade, liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Ao organizar uma cadeia de mais de cem emissoras de rádio para conclamar o povo a sair às ruas, Brizola ajudou a garantir o que estava previsto na Constituição: a posse de Jango.
A crise foi contornada pela adoção do parlamentarismo, com parte do poder presidencial deslocada para um primeiro-ministro. Dessa forma, Jango assumiu a Presidência em 8 de setembro de 1961, sendo Tancredo Neves seu primeiro-ministro.
Desde o início do mandato, Jango teve uma atuação peculiar. Sua inclinação progressista acirrava a efervescência política e cultural vivida no Brasil nos primeiros anos da década de 1960.
No famoso Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, realizado em frente ao Edifício Central do Brasil, no Rio de Janeiro, cerca de 150 mil pessoas ouviram o presidente anunciar uma série de medidas, que instituiriam as reformas de base.
Mas, se por um lado os movimentos sociais e os partidos de esquerda se fortaleciam, por outro, a direita se organizava. Em 19 de março, a ultraconservadora Marcha da Família com Deus pela Liberdade tomou as ruas, manifestando-se contra o governo Jango. Naqueles dias ocorreu também a revolta dos marinheiros e fuzileiros navais no Rio (28 de março de 1964). Incentivados pelo filme soviético O Encouraçado Potemkin, de Serguei Eisenstein (1925), aqueles trabalhadores lutaram contra os baixos salários e as más condições de trabalho, transformando tais reivindicações trabalhistas em um autêntico ato político.
A assembleia foi chefiada por José Anselmo dos Santos, mais conhecido como Cabo Anselmo, que era (descobriu-se depois) um agente policial infiltrado no movimento social. O fato de Goulart ter se recusado a punir os insubmissos provocou a indignação dos oficiais da Marinha.
Em 30 de março, em discurso na festa promovida pela Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar, no Automóvel Clube do Brasil, Jango denunciou a existência de uma forte campanha contra seu governo.
Na madrugada do dia seguinte, o general Olímpio Mourão Filho iniciou a movimentação de tropas de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio de Janeiro. Foi o início do golpe que derrubou o governo de João Goulart. Leonel Brizola ainda sugeriu que Jango resistisse, mas ele não acatou, para evitar “derramamento de sangue” (uma guerra civil).
João Goulart teve seus direitos políticos cassados após a publicação do Ato Institucional Nº Um (AI-1). Exilado no Uruguai e, mais tarde, na Argentina, onde faleceu em 1976, Jango só voltou para o Brasil para seu funeral. Aclamado pelo povo, seu caixão foi carregado por milhares de pessoas já cansadas do regime repressivo dos ditadores.
Através de depoimentos e documentos históricos, como vídeos, áudios e fotos, Jango relata as atrocidades cometidas pela ditadura até o ano de 1976. Com as informações que poderiam ser obtidas naquela época, o filme é um primoroso e melancólico documento sobre a história do Brasil. Mas o tempo nos mostrou que a ditadura militar, além de anos de chumbo, representou anos de segredos de Estado. E ainda há muito a ser revelado sobre essa história.
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