Após dois anos de investigação, a Polícia Federal (PF) concluiu o inquérito sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, ocorridos em junho de 2022 no entorno da Terra Indígena Vale do Javari, em Atalaia do Norte (AM).
O documento, encaminhado ao Ministério Público Federal em 1º de novembro, indicia nove pessoas, incluindo o mandante do crime, Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”. Os demais indiciados são acusados de participação na execução dos crimes e na ocultação dos cadáveres.
A investigação aponta a atuação de uma organização criminosa ligada à caça e à pesca predatória na região. Os assassinatos teriam ocorrido em retaliação às atividades de fiscalização de Bruno Pereira, defensor dos direitos indígenas e da preservação ambiental.
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Segundo a PF, “Colômbia” forneceu cartuchos para os assassinatos, financiou a organização criminosa e orquestrou a ocultação dos corpos. A ação do grupo gerou impactos socioambientais, ameaçando servidores de proteção ambiental e populações indígenas.
A PF afirma que continuará “monitorando os riscos aos habitantes da região do Vale do Javari, bem como a continuidade das investigações acerca de ameaças contra povos indígenas que vivem na localidade”.
O deputado federal e ambientalista Nilto Tatto considera a elucidação dos crimes um passo importante contra a impunidade, mas ressalta a necessidade de avanços legislativos para proteger defensores dos direitos humanos e do meio ambiente. Ele defende “a aprovação, no Congresso Nacional, do Acordo Especial Latino Americano no âmbito da ONU para proteção a estes ativistas”.
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Reflexos de um período nefasto
A partir de 2019, com Bolsonaro no poder, iniciou-se uma política de anistia a criminosos ambientais, resultando em recordes de desmatamento e outras agressões ao meio ambiente. O próprio Bolsonaro foi multado por pesca ilegal e chegou a exigir anistia à sua pena, incentivando práticas semelhantes.
A sugestão do então ministro Ricardo Salles, de “passar a boiada” para flexibilizar leis ambientais, abriu a porteira a inúmeros crimes ambientais, que terminaram por criar o ambiente radicalizado para os assassinatos de Bruno e Dom em 2022, além de inúmeras formas de violência no campo e em terras indígenas.
Suely Araújo, ex-presidente do Ibama, observou que, nesse período, “prevaleceu o discurso de enfraquecimento contra a fiscalização”.
Da Redação