Categories: Sem categoria

Contra escola cívico-militar, governo defende pluralidade e apreço à tolerância

Spread the love

Contra escola cívico-militar, governo defende pluralidade e apreço à tolerância

 

Em audiência convocada por Gilmar Mendes no âmbito de duas ações de inconstitucionalidade, representantes do poder público e da sociedade apontam retrocessos desse tipo de ensino

 

Foto: Andressa Anholete/STF

Durante audiência pública nesta terça-feira (22), convocada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para debater o programa de escolas cívico-militares do estado de São Paulo, representantes do Ministério da Educação, da sociedade civil, órgãos de controle e parlamentares apontaram as limitações e retrocessos do modelo, criado por Jair Bolsonaro (PL) e extinto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A educação que o Ministério da Educação defende é aquela que, conforme preceitua a Lei de Diretrizes e Bases da Educação [LDB], é baseada no pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, respeito à liberdade e apreço à tolerância”, explicou Rodolfo Cabral, consultor jurídico do MEC, representando o ministro Camilo Santana.

Por isso, é necessário “garantir que a educação básica continue a ser um espaço de formação democrática e cidadã, livre de intervenções que não estejam alinhadas com os valores republicanos e educacionais consagrados pela nossa Constituição Federal”, completou.

Leia também: AGU considera inconstitucional modelo de escolas cívico-militares em SP

Outro ponto ressaltado por Cabral é que a LDB e o Plano Nacional de Educação (PNE) “não preveem a inclusão dos militares na gestão e no suporte direto às atividades de educação básica”.

Segundo o consultor jurídico, a Constituição Federal “não atribuiu aos militares a responsabilidade para produzir, implementar e executar políticas públicas de educação básica”.

Inconstitucionalidade

A audiência foi chamada por Gilmar Mendes como parte do processo de julgamento de duas ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs), apresentadas pelo PT e pelo PSol, contra a lei paulista que institui o programa nas escolas públicas estaduais e municipais de educação básica.

Em julho de 2023, o governo federal publicou decreto anunciando a revogação do programa de escolas cívico-militares, criado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), de maneira que elas fossem extintas até o final do ano passado.

No entanto, alguns governos estaduais e municipais optaram por manter esse tipo de instituição. Estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, por exemplo, resolveram continuar ofertando esse tipo de ensino, apesar dos questionamentos e manifestações contra seu caráter autoritário e avesso à pluralidade.

Leia também: Em sua cruzada moralista, bolsonarismo usa educação para controlar e punir

No dia 21 de maio deste ano, a Assembleia Legislativa do estado aprovou a proposta encaminhada pelo governo de Tarcísio de Freitas, mesmo sob fortes protestos de estudantes, professores e movimentos sociais, repelidos com truculência pela Polícia Militar. No dia 27, o projeto foi sancionado.

As ADIs em pauta no Supremo questionam essa lei. Entre outros argumentos, as legendas alegam que o programa cria um modelo de ensino sem respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei federal 9.394/1996), ao prever a presença de policiais militares em atividades escolares.

Os partidos também sustentam que o programa estabelece “verdadeiro projeto de militarização da escola civil”, desvirtua as atribuições previstas constitucionalmente para a Polícia Militar e afronta a gestão democrática do ensino público.

Rechaço

Durante a audiência, muitas foram as manifestações contrárias a esse modelo de ensino. Gabriele Bezerra, do Núcleo Especializado da Infância e Juventude da Defensoria Pública do Estado de São Paulo,  ressaltou que a conversão de escolas para o modelo cívico-militar não consta dos planos nacionais ou estaduais de educação como meta ou estratégia de melhoria da qualidade de ensino. Segundo ela, a indisciplina no ambiente escolar é multifatorial e precisa ser enfrentada com intervenções pedagógicas articuladas.

Por sua vez, Élida Graziane Pinto, procuradora do Ministério Público de Contas de SP, destacou que a lei invade a competência privativa da União para definir o que é ou não despesa para a manutenção e o desenvolvimento do ensino.

Simão Pedro, deputado estadual (PT-SP), argumentou que a educação é a formação para a autonomia, a autorresponsabilidade e para a vida, enquanto o ensino militar se orienta para a simples obediência e para a supressão da vontade individual.

Representante da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca), Salomão Barros pontuou que nenhuma instituição de pesquisa em educação de referência no Brasil e no mundo defende a militarização das escolas como solução para a área.

Para ele, o modelo não é uma saída aceitável do ponto de vista científico, pedagógico e da Constituição Federal, além de colocar o país na contramão mundial do que é o direito à educação.

De acordo com Fábio Santos de Moraes, do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), o modelo não vai contribuir com a qualidade da educação, que necessita de professores com melhores condições de trabalho.

Moraes também pontuou que o programa agride o ambiente educativo, que deve ser plural e democrático, além de ser uma clara tentativa de imposição de pensamento único para criminalizar juventude da periferia.

Com informações do STF

Blog do Mamede

Recent Posts

Projeto de Pedro Uczai combate desinformação e fake news nas redes sociais

Projeto de Pedro Uczai combate desinformação e fake news nas redes sociais Apresentado por deputado…

18 horas ago

Prevenção: MS adquire 69 milhões de doses de vacinas contra Covid-19

Prevenção: MS adquire 69 milhões de doses de vacinas contra Covid-19 Imunizantes foram adquiridos por…

18 horas ago

Ele Voltou! “O Programa do Jardel” Está De Volta

Gente boa do Blog, para quem está com saudades do ex-prefeito Jardel Sebba está aí…

18 horas ago

CFM entra na Justiça contra cotas na formação de médicos, ignorando desigualdades

CFM entra na Justiça contra cotas na formação de médicos, ignorando desigualdades   Conselho médico…

18 horas ago