A chapa Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) teve 29,06% dos votos e foi para o segundo turno disputar a Prefeitura de São Paulo com Ricardo Nunes (MDB), que teve apenas 0,43% de votos a mais. Numa das mais acirradas disputas do país no primeiro turno das eleições de 2024, ambos deixaram para trás Pablo Marçal (PRTB) que, na véspera do pleito, publicou um falso laudo médico contra Boulos. As redes sociais do candidato do PRTB foram suspensas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Em seu primeiro discurso após a divulgação dos percentuais de votação, Boulos agradeceu os mais de 1,7 milhão de votos, traçou os perfis da sua candidatura e de seu opositor, abriu diálogo com os que não votaram nele e se disse confiante na vitória.
“Confio muito na decisão do povo de São Paulo que vai optar pela mudança, e essa mudança que hoje foi majoritária nas urnas estará representada no segundo turno por mim e pela Marta Suplicy. É isso que vai dar em jogo. Quero aqui reafirmar esse compromisso, vamos ganhar essa eleição e vamos, a partir de primeiro de janeiro do ano que vem, governar para toda a cidade de São Paulo”, ressaltou.
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Para atingir seu objetivo, Boulos se dirigiu àqueles que optaram por outro candidato. “Do lado de lá, temos um candidato apoiado por Bolsonaro, um candidato que acredita que Bolsonaro fez tudo certo na pandemia, um candidato que no primeiro turno se colocou contra a vacina, que acredita que o 8 de Janeiro foi apenas um encontro de senhoras, não uma tentativa de golpe”, disse ele.
As declarações do candidato foram reforçadas por Marta Supicy, ex-prefeita cuja gestão é avaliada pelos paulistanos como a melhor em 40 anos.
“Ontem, em SP, demos um importante passo: levamos o Boulos ao segundo turno e isso é uma vitória. Mostra que realmente SP quer mudança e reprova a gestão do atual prefeito. Porém, nossa caminhada ainda não terminou”, disse a petista, na rede social Bluesky. “Para fazermos a melhor mudança, precisamos que o Boulos vença o segundo turno e seja o próximo prefeito de SP. Há uma ameaça real em SP e não podemos ter um prefeito despreparado e que representa a má política”, acrescentou.
Time da democracia
Boulos e Marta estão confiantes de que as forças democráticas que se uniram para eleger o presidente Lula estarão novamente juntas para vencer em São Pauo e evitar o retrocesso. Esse também foi um dos aspectos destacados por Boulos. “Do lado de cá, temos o time que ajudou a resguardar a democracia no Brasil. Temos o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin, a ministra Marina Silva e todos aqueles que há dois anos se juntaram e venceram a eleição em São Paulo para que o nosso país se livrasse do autoritarismo”, ressaltou.
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Ainda no pronunciamento após o resultado do primeiro turno, ao anunciar que vai governar com metade das secretarias da Prefeitura de São Paulo comandadas por mulheres, Boulos disparou contra o oponente, que tem trajetória de agressões contra a esposa.
“Do lado de lá tem alguém que precisa responder e esclarecer sobre agressão contra a mulher, violência física e psicológica. É isso que vai estar em jogo nas próximas três semanas”, disse ele.
“Do lado de lá nós temos alguém com uma trajetória muito suspeita, que eu tenho certeza que nos debates vai ter muita dificuldade para dizer o que fez nos verões passados, alguém que tem histórico de relação com crime organizado, com tráfico de drogas, que botou o crime organizado no comando da Prefeitura de São Paulo e nos contratos, alguém que tem inclusive que responder por boletim de ocorrência de violência contra a mulher. É isso que está em jogo”, disparou Boulos, que tem 42 anos e duas filhas adolescentes.
Denúncias contra oponente
Ao expor e esmiuçar as denúncias contra seu oponente, Boulos traça uma estratégia caracterizada como “um aceno maior para o eleitorado da centro-direita, principalmente o apoio de Tabata Amaral”, destacou o site BBC em matéria publicada neste domingo (6).
Nunes é alvo de investigações no Ministério Público de São Paulo, diz a BBC, que apuram se o atual prefeito teria beneficiado aliados em contratos da prefeitura. Num deles, a prefeitura teria repassado R$ 7 milhões, mesmo após decisão judicial que dizia que a prefeitura não era obrigada a fazer o pagamento, informou a BBC.
A matéria cita ainda que a Polícia Federal pediu abertura de inquérito para investigar a relação de Nunes com duas empresas envolvidas no esquema da “máfia das creches” quando era vereador, e movimentou R$ 1,5 bilhão entre 2016 e 2020.
Em agosto o Uol publicou denúncias de superfaturamento em um contrato e compra de água e alimentos para a população em situação de rua, com diferença de preços de mais de 400%.
Na campanha de 2022, Boulos foi o deputado federal mais votado em São Paulo e segundo mais votado do país, com 1.001.453 de votos. Nas redes sociais, ele expressou sua fé na vitória em 2024.
“Estamos no segundo turno e vamos vencer as eleições. Muito trabalho pela frente agora! São Paulo merece muito mais!”, escreveu Boulos em suas redes sociais após o anúncio do resultado na noite deste domingo (6).
Cidade mais humana
Ainda em sua fala na noite de domingo (6), Boulos resumiu sua trajetória comprometida com a luta daqueles que mais precisam. “A minha vida foi passada a limpo em quatro eleições e tudo o que eles disseram é que eu lutei com os sem teto, que bom! Eu reafirmo isso”, sublinhou Boulos, que é professor, psicanalista, escritor, ativista dos direitos à moradia.
A missão da chapa, segundo Boulos, é fazer com que a riqueza de São Paulo chegue a todos com um projeto de justiça social de uma cidade mais humana. “Foram as periferias da cidade que nos levaram para o segundo turno. Eu e a Marta, a Marta que fez o Ceus, a Marta que fez o bilhete único e que hoje é minha vice”, assinalou, ao reforçar que combater as desigualdades é bom para todo mundo.
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Da Redação