Economistas não chegam a acreditar numa possível recessão nos EUA. O maior problema tem sido as operações de “carry trade”
Publicado pelo portal Vermelho
Os dados do mercado de trabalho norte-americano, que se esperava com uma ocupação de 180 mil postos, mas que ficou abaixo de 120 mil, não foram determinantes para causar uma turbulência nessa segunda-feira (5) nas bolsas de valores do mundo todo.
Economistas ouvidos pelo Porta Vermelho não chegam a acreditar numa possível recessão nos Estados Unidos. O maior problema tem sido as operações de “carry trade”, que é quando o investidor pega dinheiro em países com baixa taxas de juros e aplica nos mercados onde a taxa é alta.
Dessa forma, o mercado financeiro pegava dinheiro emprestado no Japão com uma taxa de juros próximo de zero e investia em outras economia que praticavam juros altos como a brasileira.
O Banco Central japonês dificultou essas transações ao elevar a taxa de juros e valorizar o iene frente ao dólar.
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“O que eles faziam é pegar dinheiro emprestado no Japão com juros muito baixos e aplicavam em países com juros altos para ganhar no diferencial da taxa de juros, quando o Japão sobe a taxa faz com que essa diferencial seja menor. Então, todo mundo voltou para desfazer essas operações, devolver o dinheiro para o Japão e pagar suas dívidas”, explica o economista Diogo Santos, doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A operação de “carry trade”, segundo o economista, é uma operação de especulação. “Os grandes agentes financeiros fogem para onde é seguro, porque o mercado financeiro sempre está atrás de especular. Então houve uma corrida para ativos financeiros mais seguros que são os ativos financeiros dos países ricos, sobretudo dos Estados Unidos”, observa.
Para ele, o capital financeiro global entra nos países com alta taxas de juros para especular. “Eles entram nos países sobretudo para especular e não para ficar mais tempo, assim eles saem e geram esse movimento muito forte de desvalorização das moedas dos países e desvalorização dos índices das bolsas”, afirma Santos.
“Desde a crise de 2008 não se encontra um caminho de desenvolvimento sustentável, mas essa espécie de bolha financeira que desloca recursos do mundo todo. Ainda é cedo para fazer um prognóstico, mas não diria que há sinais claro de uma grande crise financeira”, observas.
Imposto
Para o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro, esses fluxos internacionais de capitais de curto prazo também são os maiores responsáveis pela instabilidade.
“Para mim o que fica muito claro com esse tipo de episódio é que o mundo deve pensar seriamente numa velha ideia que foi proposta pelo prêmio Nobel de economia James Tobin, que é impor um imposto internacional sobre o fluxo mundiais de capitais”, defende.
O economista explica que um dos principais argumentos de Tobin é que os fluxos internacionais de capitais de curto prazo reduzem a capacidade dos governos nacionais em adotar políticas que sejam apropriadas para as suas respectivas economias.
“Nesse contexto, tais fluxos seriam prejudiciais à obtenção da estabilidade macroeconômica de curto prazo, o que pode ter inclusive efeitos sobre a trajetória de crescimento econômico de longo prazo”, diz o professor.
Oreiro destaca que o G20 deveria debater o tema da criação do imposto, além da discussão da taxação dos super-ricos.
“É o momento de se colocar essa discussão para que se possa diminuir um pouco dessa volatilidade, desses fluxos mundiais de capitais altamente desestabilizadores”, afirma.
Oreiro também não vê razão para o dólar ter variado entre R$ 5,65 e R$ 5,70. “Trata-se de um país que tem mais de US$ 350 bilhões de reservas, que tem um déficit de conta corrente em torno de 2% do PIB ou menos de 2%, que é confortavelmente financiável com investimento direto produtivo e que deve fechar o ano de 2024 com um salto comercial entre US$ 80 bilhões ou US$ 90 bilhões. Enfim, os indicadores de solvência externa são espetacularmente bons. Então nada justifica a taxa de câmbio em torno de R$ 5,70”, argumenta.
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