A Polícia Federal indiciou, na quinta-feira (4), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no inquérito que investiga o desvio e a venda ilegal de joias de alto valor presenteadas por delegações estrangeiras e pertencentes ao acervo da Presidência da República. Nas condutas do capitão da extrema-direita, a PF vê indícios de associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato (apropriação de bens públicos).
Além de Bolsonaro, outras 11 pessoas também foram indiciadas: todas por organização criminosa, sete por peculato e uma por advocacia administrativa (quando um servidor público defende interesses particulares junto ao órgão em que atua). No relatório final da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, não foram pedidas as prisões preventivas ou temporárias de nenhum dos suspeitos.
Veja quem são os aliados do ex-presidente envolvidos no escândalo das joias e os crimes de que são suspeitos:
– Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (associação criminosa e lavagem de dinheiro)
– Tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato)
– General Mauro Cesar Lorena Cid, pai de Mauro Cid (associação criminosa e lavagem de dinheiro)
– Frederick Wassef, ex-advogado da família Bolsonaro (associação criminosa e lavagem de dinheiro)
– Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro (associação criminosa e peculato)
– Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque (associação criminosa e peculato)
– Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal (associação criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação de bens públicos e advocacia administrativa)
– Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República (associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato)
– José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do ministro de Minas e Energia de Bolsonaro (associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato)
– Osmar Crivelati, assessor de Bolsonaro (associação criminosa e lavagem de dinheiro)
– Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro)
Depois de enviado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, o documento da PF será remetido à Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai analisar as evidências colhidas pelas autoridades policiais e decidir se arquiva o caso, se pede novas diligências ou se denuncia os envolvidos ao próprio Supremo.
A caminho do banco dos réus
Por meio do “X”, a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que Bolsonaro está acuado e, por isso, “anda tão nervosinho nas redes sociais”, fabricando mentiras a esmo contra o governo Lula. Gleisi lembrou que o escândalo das joias sauditas constitui somente um dos crimes pelos quais o extremista de direita deve responder.
“O indiciamento de Jair Bolsonaro pela PF no caso das joias é mais um passo na busca da verdade e da justiça. Essa é apenas uma das muitas contas que ele terá de prestar pelos crimes que cometeu contra o país e contra o mandato que recebeu (…) Não tente desviar as atenções, Bolsonaro, falando mentiras sobre um presidente e um governo que estão consertando o que você destruiu. Quem está a caminho do banco dos réus é você”, publicou a presidenta do PT.
Também no “X”, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) sublinhou o prazo firmado pela PGR para se manifestar sobre o sumiço das joias. “Foi estabelecido que a decisão deve ser feita até 16 de agosto. O tempo de Bolsonaro está acabando”, estimou o parlamentar.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG), por sua vez, publicou um vídeo da GloboNews em que os comentaristas da emissora caem na gargalhada com o fato de Bolsonaro ter envolvido no escândalo um almirante da Marinha do Brasil, que “serviu de mula”, segundo o jornalista Otávio Guedes. Correia tachou o ex-presidente de “ladrão de joias”.
Histórico transgressor dos Bolsonaro
Além do escândalo das joias de alto valor, Bolsonaro ostenta uma série de processos pelos quais responde. Não é apenas o ex-presidente, contudo, o único membro da família enrolado na Justiça. Todos os quatro filhos do capitão da extrema-direita, além ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, são suspeitos de transgressões.
Em 2020, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi acusado pelo Ministério Público (MP) de praticar as famosas “rachadinhas”, quando ainda era vereador na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). De acordo com o MP, o filho “01” do ex-presidente surrupiou R$ 6 milhões de seu gabinete. A mais recente polêmica de Flávio é a mansão adquirida por ele, em 2021, por R$ 6,1 milhões. O senador pagou, há dois dias, os R$ 3,4 milhões que faltavam para quitar o imóvel.
A compra abaixo do valor de mercado de dois imóveis no Rio de Janeiro, pagos em espécie pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), é alvo de uma investigação na PGR. Em 2022, reportagem do UOL revelou que Eduardo, seus irmãos e filhos adquiriram 51 imóveis por meio de pagamentos com dinheiro vivo. Dos R$ 13 milhões registrados em cartório, R$ 5,7 milhões foram pagos em cédulas, cerca de R$ 11 milhões em cifras atualizadas.
Tal qual Flávio, Carlos Bolsonaro (PL) também é investigado pela prática das “rachadinhas” na Alerj, entre 2009 e 2018. Laudo elaborado pelo Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, do MP do Rio, aponta que Carlos embolsou R$ 2 milhões dos salários de seus funcionários.
O filho mais novo de Bolsonaro, Jair Renan, também se mostra afeito a desvios e transgressões. A PF cumpriu mandados de busca e apreensão em residências dele, suspeitando de que tenha cometido crimes de falsidade ideológica e contra a ordem tributária, além de associação criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro. Renan é investigado ainda por tráfico de influência.
Já Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente, consta nas movimentações financeiras de Mauro Cid e de Fabricio Queiroz, outra figura marcante nos escândalos dos Bolsonaro. O pagamento de uma fatura do cartão de crédito de Michelle, feito em dinheiro por Cid, mas emitido em nome de uma terceira pessoa, levanta suspeitas da Justiça.
Além de estar inserida no escândalo das joias, embora não tenha sido indiciada, a ex-primeira-dama também esteve no centro das “rachadinhas”, já que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou, nas contas dela, depósitos atípicos feitos Queiroz.
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Da Redação, com informações de BBC Brasil, Poder360, G1