Categories: Sem categoria

Mulheres vão às ruas contra projeto que equipara aborto a homicídio

Spread the love

Mulheres vão às ruas contra projeto que equipara aborto a homicídio

 

Em diversas cidades do Brasil, manifestantes pediram respeito aos direitos adquiridos desde 1940 e salientaram que proposta da extrema direita prejudica principalmente meninas

 

Rio de Janeiro (RJ) 13/06/2024 – Manifestação de protesto contra o PL 1904/24, que equipara aborto a homicídio, com pena de até 20 anos, reúne mulheres na Cinelândia. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A aprovação-relâmpago do requerimento de urgência, na Câmara,  para a tramitação do absurdo projeto de lei que iguala o aborto após a 22ª semana de gravidez ao crime de homicídio, inclusive quando resultante de estupro, levou milhares de mulheres às ruas em diversas cidades do país — entre as quais São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília — nesta quinta-feira (13).

Os atos também foram chamados para as cidades de Belo Horizonte (MG), Recife (PL), Vitória (ES), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Manaus (AM) e João Pessoa (PB).

Os manifestantes, formados majoritariamente por mulheres, repudiaram a manobra usada pela extrema-direita e viabilizada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PL-AL), que levou a uma aprovação simbólica (sem votos no painel) do requerimento em apenas 23 segundos, na quarta (12).

Com isso, o projeto não passará pelas comissões e irá direto à votação em plenário, inviabilizando o debate com a sociedade.

Ato em Brasília. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Os protestos também rechaçaram o deputado bolsonarista Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), autor do projeto 1904/24, que tem o apoio da bancada da Bíblia, e pediram respeito às mulheres e a garantia, ao menos, dos direitos já previstos em lei.

O aborto legal no Brasil já é bastante restrito, e a proposta consegue piorar essa situação, provocando um retrocesso de pelo menos 84 anos. Em 1940, o Código Penal passou a autorizar, sem penalização, o procedimento nos casos de estupro e risco de vida às grávidas.

Leia também: Extrema-direita quer que vítimas de estupro sofram duplamente

Já a possibilidade de aborto de fetos anencéfalos passou a ser autorizada em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Nestas três situações, não há limite de tempo para o procedimento. Já a proposta estabelece o máximo de 22 semanas.

Segundo especialistas, isso pode inviabilizar o aborto porque é comum meninas novas demorarem para saber que estão grávidas, coloca vidas em risco e, além disso, nem sempre o processo até a sua realização é suficientemente célere.

“Entre essas crianças e meninas adolescentes, a principal causa de morte são justamente as complicações da gravidez. E a segunda é o suicídio devido à depressão, gerado muitas vezes pela situação de vulnerabilidade causada pela violência sexual. Então, o projeto vai condenar essas meninas muitas vezes à morte”, disse, ao UOL, o obstetra Olímpio Moraes, referência na luta pela democratização do aborto no país.

O Conselho Nacional de Saúde advertiu, em nota, que se passar a valer, o projeto fará com que milhares de cidadãs brasileiras percam “o acesso à justiça e segurança jurídica, provenientes das taxativas e excepcionais hipóteses legais de aborto na legislação penal brasileira, o que ampliará os já alarmantes índices de morbimortalidade materna, sobretudo, de cidadãs pobres e negras”.

Criminalização das mulheres

Para ficar ainda mais nefasta, a matéria ainda criminaliza as mulheres que fizerem o procedimento, deixando a pena, contraditoriamente,  mais pesada para as vítimas do que para o criminoso.

Segundo as leis vigentes, um estuprador pode ficar preso entre seis e 12 anos; já o projeto estabelece que as vítimas que fizerem aborto após 22 semanas podem ser condenadas entre seis e 20 anos de prisão.

Após a repercussão negativa da aprovação do requerimento e do caráter da proposta, o autor disse que pretende aumentar a pena para o estuprador — como se isso resolvesse a criminalização das mulheres.

Outro ponto ressaltado nos protestos — com palavras de ordem como “crianças não são mães, estupradores não são pais”— é o fato de que essa mudança pode prejudicar, em especial, meninas ainda na infância e na adolescência, que são as principais vítimas de estupro no Brasil.

Leia também: Bolsonaristas atacam direitos das mulheres ao equiparar aborto a homicídio

Segundo o Anuário 2023 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, quase 75 mil pessoas (89% do sexo feminino) foram estupradas no Brasil em 2022. Desse total, 61% eram crianças com até 13 anos de idade.

Uma das entidades que mobilizou as mulheres para as manifestações e que tem se dedicado à luta contra o projeto é a União Brasileira de Mulheres (UBM). Em nota, ela convocou a militância a tomar as ruas “contra este nefasto projeto de lei”.

Lembrou, ainda, que o “aborto legal foi uma importante conquista das mulheres brasileiras. É assegurado pela nossa legislação em casos de estupro, fetos anencéfalos e risco de morte da mãe. Não aceitaremos retrocessos. Defendemos incondicionalmente a laicidade do Estado. É pela vida das mulheres e meninas”.

Tramitação

Após a aprovação do requerimento, a proposta será votada no plenário da Câmara e, se passar, seguirá para o Senado. Nesta quinta-feira (13), o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), declarou que “uma matéria dessa natureza jamais, por exemplo, iria direto ao plenário do Senado Federal”.

Ele completou dizendo que a proposta deve “ser submetida às comissões próprias e é muito importante ouvir, inclusive, as mulheres do Senado, que são legítimas representantes das mulheres brasileiras, para saber qual é a posição delas em relação a isso”.

Blog do Mamede

Recent Posts

STF condena mais 14 réus pelos atos antidemocráticos que recusaram acordo com o Ministério Público

STF condena mais 14 réus pelos atos antidemocráticos que recusaram acordo com o Ministério Público…

10 horas ago

Bolsonaro deve explicações ao Brasil, além de pagar pelos seus crimes

Nota: Bolsonaro deve explicações ao Brasil, além de pagar pelos seus crimes Punição para todos…

11 horas ago

20 de novembro: Um chamado à luta por espaços de poder e representatividade

20 de novembro: Um chamado à luta por espaços de poder e representatividade É essencial…

11 horas ago

Boletins de crimes raciais crescem 968,5% em SP, aponta relatório

Boletins de crimes raciais crescem 968,5% em SP, aponta relatório   Ouvidoria das Polícias estadual…

11 horas ago

Plano para assassinar Lula foi discutido na casa de Braga Netto, diz Cid

Plano para assassinar Lula foi discutido na casa de Braga Netto, diz Cid   PF…

11 horas ago

Mercado de trabalho, a evidente discriminação e desigualdade racial

Mercado de trabalho, a evidente discriminação e desigualdade racial   É preciso desenvolvimento com valorização…

11 horas ago