Estudo da Fiocruz e do ISA mostra que garimpo ilegal na região do Alto Rio Mucajaí contaminou toda população das aldeias do subgrupo Ninam, na Terra Yanomani em Roraima
Publicado pelo Portal Vermelho
Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Socioambiental (ISA), divulgada nesta quinta-feira (4), realizada com indígenas do povo Yanomami, do subgrupo Ninam, em nove aldeias em Roraima, mostra que todos os 287 indígenas que participaram do estudo estão contaminados por mercúrio. O metal líquido é utilizado de forma irregular nos garimpos ilegais para separar o ouro de sedimentos, poluindo o meio ambiente e a população.
O relatório ‘Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente’ destaca: “Em todas as amostras de cabelo estudadas foram detectadas concentrações de mercúrio: em homens, mulheres, crianças, adultos e idosos, sem exceção.”
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As coletas foram realizadas em outubro de 2022, na região do Alto Rio Mucajaí. A localidade é dominada pelo garimpo ilegal, que leva não só a contaminação e prejuízos para a saúde dos indígenas, mas carrega também violência e destruição.
Os indígenas oriundos das aldeias Caju, Castanha, Ilha, Ilihimakok, Lasasi, Milikowaxi, Porapi, Pewaú e Uxiú tiveram amostras de cabelo e de células de mucosa oral coletadas. Os pesquisadores ainda coletaram 47 amostras de peixes e 14 amostras de água e sedimentos do rio Mucajaí.
Nas amostras de cabelo, 84% dos indígenas estavam com níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 µg/g (micrograma por grama) e outros 10,8% ficaram acima de 6,0 µg/g. Para estes mais de 94% é necessária uma notificação ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Conforme preconiza a Agência Proteção Ambiental dos Estados Unidos, o nível de mercúrio não deve ser maior que 1 micrograma por grama, ainda que não exista um nível de exposição considerado seguro. Somente três indígenas, que correspondem a 1% do total, apresentaram níveis abaixo de 1,0μg/g.
Nas amostras coletadas ficou evidente que “indígenas com níveis mais elevados de mercúrio nas amostras de cabelo apresentaram déficits cognitivos e polineuropatia periférica (danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas) com mais frequência.”
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Também foram realizados exames clínicos em que se constatou elevado índice de doenças como pressão alta, anemia, diabetes, doenças crônicas, além de serem realizados testes de doenças infecciosas e parasitárias. No caso da malária, 80% relataram já ter tido a doença, com três episódios em média por indivíduo.
Todas as amostras do pescado analisado apresentaram contaminação por mercúrio. Em duas amostras de sedimento foram encontrados mercúrio acima do nível 1 da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 454 (teores de Hg de 0,344 mg/kg na amostra de sedimento coletada a montante no rio Mucajaí; e 1,386 mg/kg na amostra coletada na região antes da Cachoeira da Fumaça). No entanto, na análise das águas não foi detectada contaminação.
“Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crônica ao mercúrio, principalmente nos menores de 5 anos”, explica o coordenador do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisador da Ensp/Fiocruz.
“O garimpo é o maior mal que temos hoje na Terra Yanomami. É necessário e urgente a desintrusão, a saída desses invasores. Se o garimpo permanece, permanece também a contaminação, devastação, doenças como malária e desnutrição e isso é o resultado dessa pesquisa, é a prova concreta!”, diz o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Vitório Kopenawa.
Confira o estudo completo aqui.
*Informações ISA
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