A casa de Jair Bolsonaro em Brasília foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (3). A PF também visitou outros 15 endereços e prendeu preventivamente o braço-direito de Bolsonaro, o tentente-coronel Mauro Cid Barbosa, e outras cinco pessoas ligadas ao ex-presidente (veja lista abaixo).
A ação faz parte de uma operação que investiga, segundo a PF, “associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde”.
Embora não esteja entre os presos, Bolsonaro foi chamado para prestar depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília ainda nesta quarta-feira. O celular dele e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foram apreendidos.
“Dia quente logo cedo em Brasília. PF faz buscas na casa de Bolsonaro e prende ex-ajudante Mauro Cid. Operação investiga fraude em cartões de vacinação e rede de dados em saúde de Bolsonaro, familiares e outros para emitir certificados falsos”, escreveu no Twitter a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) ironizou o fato de Bolsonaro ter se recusado, ao menos a princípio, a fornecer as senhas dos celulares apreendidos: “Quem não deve não teme…”.
Lista de pessoas presas:
– Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
– Max Guilherme, ex-policial militar e ex-assessor especial de Bolsonaro
– Sérgio Cordeiro, ex-assessor e segurança de Bolsonaro
– João Carlos de Sousa Brecha, secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ)
– Luís Marcos dos Reis
– Ailton Gonçalves Mareas Barros
Sigilo de 100 anos
Batizada de Venire, a operação faz parte da investigação sobre “milícias digitais” que tramita no Supremo Tribunal Federal. Além de autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, a ação conta com o respaldo da Procuradoria-Geral da República (PGR), que informou se tratar de uma decisão “correta” do ponto de vista legal, segundo a Folha de S. Paulo.
De acordo com a PF, a suspeita é que informações mentirosas foram inseridas no banco de dados do Ministério da Saúde para permitir a emissão de cartões de vacinação falsos para Bolsonaro e outras pessoas, incluindo a filha dele, Laura, de 12 anos, e Mauro Cid.
Dessa forma, teria sido possível emitir certificados de vacinação fraudulentos e burlar restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia. Ou seja, Bolsonaro teria, segundo a suspeita da PF, fraudado documentos para viajar sem vacina para o exterior.
Depois, ele ainda tentou esconder a história decretando sigilo de 100 anos sobre seu cartão de vacinação. Mas o segredo acabou derrubado este ano pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Associação criminosa
Os crimes que o grupo investigado pode ter cometido são: infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
“Tudo isso durante a pandemia, enquanto o Brasil enfrentava a maior crise sanitária da sua história”, lembrou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Qualquer ação criminosa que visa atacar o Plano Nacional de Imunização deve ser apurada e punida pela Justiça brasileira”, completou.
O secretário nacional de Comunicação do PT, deputado federal Jilmar Tatto (SP), lembrou que, se comprovado, este é apenas um dos crimes praticados na pandemia de Covid-19 por Bolsonaro, que sempre sabotou a vacinação.
“Não podemos esquecer que, desde o início da pandemia, Bolsonaro escondeu dados sobre a real situação, obrigando a imprensa a fazer um consórcio para buscar informações sobre infectados e óbitos. É preciso ter rigor para investigar essa fraude e punir eventuais culpados”, declarou.
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Realizada em 2022, a CPI da Covid, no Senado, pediu o indiciamento de Bolsonaro por 12 crimes ao todo, incluindo crimes contra a humanidade, epidemia com resultado de morte, incitação ao crime, charlatanismo, prevaricação.
Outro dos crimes apontados pela Comissão Parlamentar de Inquérito era justamente o de falsificação de documento particular.
Da Redação