Pesquisa Ipec é uma amostra da divisão na sociedade brasileira: 45% dizem que o País “corre o risco” de virar comunista, enquanto 48% discordam.
Publicado pelo Portal Vermelho
Faz pouco mais de 175 anos que dois jovens filósofos e ativistas europeus – Karl Marx, de 29 anos, e Friedrich Engels, de 27 – entregaram à Liga dos Comunistas os originais de um manifesto político-ideológico. Os dois autores entendiam que, se todas as “potências da velha Europa” haviam se aliado para combater o “espectro do comunismo”, duas conclusões se impunham.
A primeira é que essas potências já reconheciam o comunismo como uma potência também. Não por acaso, a “santa aliança” anticomunista reunia todas as grandes representações do Antigo Regime – das burguesias aos governos, das forças policiais ao papa.
A segunda conclusão é que os comunistas precisavam se contrapor “à lenda do espectro do comunismo”. Numa época ainda sem mídias eletrônicas, em que jornais e panfletos eram os principais meios de comunicação de massa, a campanha anticomunista dava a tônica do noticiário, à base não de fatos, mas de distorções e inverdades.
Para Marx e Engels, já era “mais do que tempo de os comunistas exporem abertamente perante o mundo inteiro o seu modo de ver, os seus objetivos, as suas tendências”. Assim nasceu a ideia daquele que talvez seja o mais conhecido dos manifestos em todos os tempos – o Manifesto do Partido Comunista, ou só Manifesto Comunista, lançado em fevereiro de 1848.
De tempos em tempos, os herdeiros daquela pioneira “santa aliança” anticomunista anunciam a morte definitiva do mal. Foi o que ocorreu em maio de 1871, quando o povo francês “assaltou os céus” e instituiu a Comuna de Paris, o primeiro governo proletário já visto. “Agora, o comunismo morreu para sempre”, arriscou-se a dizer, no calor da hora, o chefe da burguesia francesa, Louis Adolphe Thiers.
Nada mais falso. Marx, de imediato, acertou na avaliação: “A Paris operária, com sua Comuna, será sempre celebrada como o arauto glorioso de uma nova sociedade”. Mais tarde, Lênin, o líder da Revolução Russa, concluiu que “a Comuna de Paris foi um passo prático bem mais importante do que centenas de programas e teorias”.
No século seguinte, foi a vez de o filósofo norte-americano Francis Fukuyama proclamar não apenas a morte do comunismo – mas também “o fim da História”. Ante a debacle da União Soviética, Fukuyama vaticinou um mundo unipolar, uma ordem permanente, hegemonizada pelos Estados Unidos. A democracia liberal burguesia seria, segundo ele, uma forma final de governo – o ponto culminante da História.
Não foi preciso esperar mais do que alguns anos para ver que as predições de Fukuyama estavam mais para vontades pessoais do que deduções científicas. O comunismo não está morto nem como ideia, nem como prática. O legado da União Soviética segue vivo especialmente entre os russos – pesquisadores usam o termo “nostalgia soviética” para denominar o fenômeno.
Além disso, a acelerada emergência da China como potência econômica e geopolítica, sob a liderança do Partido Comunista, mostra que há alternativas viáveis ao capitalismo neoliberal. Com relação à promessa de estabilidade, os ataques terroristas de 11 de Setembro, em 2001, e as crises do capitalismo – notadamente a iniciada em 2007/2008 – são apenas alguns dos muitos episódios que mostram a História em constante trepidação.
Mas, volta e meia, a extrema-direita, no Brasil e no mundo, ressuscita a “lenda do espectro do comunismo”. Seu porta-voz internacional mais conhecido é Steve Bannon, ex-estrategista do governo Donald Trump e um dos ideólogos da família Bolsonaro. Para Bannon, o Partido Comunista Chinês encarna “a ameaça existencial contra os Estados Unidos” – e, por efeito, contra o Ocidente.
O discurso anticomunista é parte do ideário propagado por muitos líderes ultradireitistas que ascenderam ao poder nos últimos anos. É o caso de Viktor Orbán na Hungria, Rodrigo Duterte nas Filipinas, Trump nos Estados Unidos e Jair Bolsonaro no Brasil.
A pregação tem como base o medo. Políticos “vermelhos”, com suposto apoio da grande mídia, de empresários e até do Judiciário, estariam sempre prestes a implantar um regime autoritário, que calaria a população e imporia o caos econômico. Para simplificar ao extremo, a ameaça é de que o Brasil vire Cuba, Venezuela ou Nicarágua.
A adesão ao anticomunismo parece ser maior em cenários de crise política e econômica. Embora o receituário de presidentes de extrema-direita não tenha levado crescimento ou prosperidade em país nenhum, uma das bases de sustentação desses governos é se vender como mantenedor da ordem ou de qualquer outra esperança irrealizável, já que pautada pela desinformação e por falsas guerras culturais.
É uma fórmula que ganhou vigor nos Estados Unidos, com Trumpo, e se espalhou mundo afora, incluindo no Brasil. Segundo o professor e pesquisador Pedro Abelin, da Universidade de Maryland, a direita brasileira “muitas vezes importa a retórica, a gramática e as estratégias” da direita norte-americana. Se Trump ainda desponta como um presidenciável competitivo, é porque seu discurso continua a influenciar amplas bases, ainda que minoritárias.
No Brasil, a disputadíssima eleição presidencial entre Lula e Bolsonaro mostra que a desinformação avançou nos últimos anos, transformando fake news como o “fantasma” do comunismo em receios concretos. Nem Lula nem seu governo são comunistas, mas a cantilena da extrema-direita “colou” para muitos segmentos do eleitorado brasileiro.
Basta ver a pesquisa Ipec divulgada no domingo (19). O próprio instituto absorve parte da pauta ultradireitista ao questionar os eleitores se “o Brasil corre o risco de virar um país comunista”. Risco? Que tipo de pergunta mais enviesada é esta? Será que o Ipec indagaria aos cubanos ou aos chineses se seus países correm o “risco” de se tornarem capitalistas?
O resultado da sondagem, para todos os efeitos, é uma amostra da divisão na sociedade brasileira: 45% concordam que, sim, o País pode virar comunista, enquanto 48% discordam. A voz da nova “santa aliança” anticomunista foi longe demais e por pouco não nos custou a vitória nas eleições 2022 – Lula superou Bolsonaro por margem pequena: 50,90% a 49,10%.
Um governo à altura do que os brasileiros esperam e precisam é a receita mais óbvia para o atual presidente conquistar (ou reconquistar) parte dos eleitores que optaram pelo bolsonarismo. É consenso que erros como a negligência no combate à pandemia de Covid-19 foram decisivos para o fracasso de Bolsonaro na tentativa de reeleição.
Com relação ao “espectro do comunismo”, que não seja o temor do desconhecido. “Os comunistas se recusam a dissimular suas visões e seus propósitos”, enfatizaram Marx e Engels no Manifesto. A extrema-direita insistirá em desvirtuar o marxismo-leninismo, associando-o maliciosamente a práticas controversas e até criminosas. Cabe uma contranarrativa contundente, que esclareça e mobilize. O Manifesto Comunista é só o ponto de partida.
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