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Artigo: “Trabalho escravo no Brasil, uma chaga que não fechou”, por Paulo Cayres

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Artigo: “Trabalho escravo no Brasil, uma chaga que não fechou”, por Paulo Cayres

Durante trezentos e oitenta e oito anos, o Brasil fez homens e mulheres escravos/as, destaca o secretário Nacional Sindical do PT e presidente da CNM/CUT

Paulo Cayres, secretário Nacional Sindical do PT e presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM) – Foto: Adonis Guerra

Trezentos e oitenta e oito anos de trabalho forçado a base de torturas, humilhações e mortes, 388 anos em que a economia nacional da extração de ouro e pedras preciosas, das plantações de cana de açúcar, das lavouras de café, da criação de gado e dos trabalhos domésticos para as sinhás, fizeram a fortuna dos escravagistas do Brasil Colônia.

Com início por volta de 1530, a economia brasileira foi tocada pela mão de obra escravizada, no começo com a escravização dos povos originários e de maneira gradativa com a incorporação de populações africanas, arrancadas de sua terra natal por traficantes de seres humanos, que trazidos em condições degradantes nos navios negreiros, vendidos/as tornavam-se propriedade dos senhores/as de escravos.Foi o trabalho escravo que fez funcionar a economia do país por muitas décadas.

Depois de muitas revoltas e lutas, que tem entre seus maiores símbolos o Quilombo dos Palmares, comandado por Zumbi, figura heróica da luta contra a escravidão, que é comemorada pelo movimento negro no dia 20 de novembro, que em 13 de maio de 1888 a princesa Isabel de Orleans e Bragança assina a LeiÁurea. Logo em seguida, em 5 dias o Senado e a Câmara do império aprovaram o fim da escravidão.

Uma liberdade sem direito a nenhum tipo de reparação, ou sem que o respeito a cultura e as crenças do povo negro liberto fossem estabelecidas, submetendo essa população a condições de vida precárias que vigoram até hoje, como mostram todos os indicadores sociais.

Racismo, piores empregos, salários menores, piores condições de moradia, dificuldade de acesso a educação de qualidade, alvo preferencial das forças de segurança, o que resulta num verdadeiro genocídio da juventude negra, são as heranças desse passado escravocrata.

Um passado escravocrata que não terminou em muitos setores da economia brasileira, nem no imaginário de muitos brasileiros.

Em 2022, o número recorde de 2575 pessoas foram resgatadas de trabalho em condições de trabalho análogo a escravo.  O recente caso de 207 trabalhadores resgatados em vinícolas famosas de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, deu forte visibilidade ao tema. Visibilidade que incomodou parte da elite, que tudo indica, não gostou da exposição dessa chaga aberta no país.

Incomodou a ponto de um descendente da Princesa Isabel, deputado príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, do PL, estar colhendo assinaturas para apresentar uma PEC para extinguir o MPT, órgão responsável pelo combate ao trabalho escravo no Brasil e, pasmem, ele já conseguiu 66 assinaturas, deputados do RS e de SC estão entre os que mais assinaram.

A mentalidade escravocrata, como se vê, persiste em uma parcela da sociedade brasileira. A escravidão foi extinta oficialmente a 135 anos, mas é preciso extirpar de uma vez por todas essa chaga que não fechou e que envergonha a maioria do povo brasileiro.

Os que se valem de mão de obra análoga a escrava, e seus apoiadores, precisam ser punidos com rigor pelo Estado brasileiro e sofrer um forte boicote a seus produtos por parte da população brasileira.

A luta pela cidadania, pela liberdade e por trabalho e vida digna para todos/as é uma luta de todos/as.

Essa ferida aberta precisa fechar, o que não significa esquecer.

Paulo Cayres é secretário Nacional Sindical do PT e presidente da CNM/CUT

Blog do Mamede

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