Gente boa do Blog, Dom Tomás Balduíno morreu na última sexta feira por complicações no coração, não tenho dúvidas nenhuma, nos deixou um dos maiores brasileiros do século XX, sua história merece virar filme.
Defensor da união entre fé e política, fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Centro Indigenista (CIM), grande defensores dos sem terra, dos presos políticos, quilombolas e excluídos de forma geral, soube como poucos interpretar o verdadeiro evangelho. Abaixo republico um texto sobre ele que escrevi tempos atrás para a Revista Atual. Leiam, ainda em tempo, em época de informação supersônica, somente hoje fiquei sabendo de sua morte, ainda há pouco quando lia alguns jornais do sábado e do domingo que vi e me deparei com triste notícia.
Do outro lado da margem
Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas, há os que lutam toda a vida; e estes são imprescindíveis”.
(Bertold Brecht)
Imprescindível é o adjetivo que me vem à cabeça no momento para tentar definir Tomás Balduíno, Dr. Honoris Causa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC) por sua luta pela construção da cidadania e em defesa dos direitos humanos. Ganhador do prêmio Reflections of Hope, da Oklahoma City National Memorial Foudation, como exemplo de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo.
O nosso Dom Tomás Balduíno, nascido na cidade de Goiás, dominicano no estilo de grandes heróis brasileiros, como os freis: Tito, Betto e Leonardo Boff, também incompreendidos por parte da igreja que teima em não ser o fermento na luta do povo. Aperfeiçoou os estudos em Saint Maximin na França, onde concluiu o mestrado em 1950, sempre falando em liberdade também para os mais humildes.
Antropólogo, linguista e professor de filosofia na década de 60. Conviveu nos anos 70 com camponeses pobres do Pará e também com os desterritorializados indígenas do Norte brasileiro. Vive uma história forjada na luta em defesa dos fracos e oprimidos; é o pentecostes em pessoa.
A forma lenta de caminhar, a voz calma e a expressão serena, denuncia que o tempo agiu sobre seus poucos mais de metro e 60 de altura. Pequeno no tamanho, mas um gigante na luta em defesa do povo brasileiro, que apesar de tantas batalhas continuam ainda a não poderem se sentar a sombra e contemplarem as margens do Ipiranga,
Balduíno, um grande marginal, pois bebe água nas margens onde povoa os explorados desse país. Reforma Agrária, capitalismo, exploração, miséria, seres humanos, são algumas palavras que tremulam na bandeira e no cotidiano deste brasileiro que não desiste nunca e nem se curva na presença dos opressores.
O Presidente Lula, o filho do Brasil, o mesmo de tantas lutas juntos, não resistiu e esmoreceu, assegura ele. Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente não recebia os desterrados, mas em contrapartida, falava com os latifundiários do naipe de Ronaldo Caiado, garante o já tarimbado bispo-emérito de Goiás.
Para ele a luta pela Reforma Agrária no Brasil é uma questão de vida e morte. Aos que querem um Brasil livre e soberano, é preciso fomentar a esperança e lutar contra a impunidade estabelecida nesse país, onde apenas um homem está atrás das grades por crimes contra os camponeses, apesar de termos mais de mil assassinatos em apenas duas décadas; somente 70 processos abertos e o número irrisório de 14 condenações pela nossa justiça, que teima em continuar fazendo injustiças com os legítimos brasileiros, herdeiros de Canudos, dos Quilombos e de tantos bravos combatentes que tombaram em prol de tantos irmãos e irmãs que não se deixaram subjugar pela mão covarde do latifúndio.
A ti, nosso dom Tomás Balduíno, ainda haverão de reconhecer e fazer de teu exemplo uma forma de inclusão social.
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