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VIDA RURAL DE ANTIGAMENTE
(Por Luís Estevam)
Houve um tempo em que o município de Catalão era enorme. Davinópolis, Ipameri, Campo Alegre, Ouvidor, Três Ranchos, Goiandira, Cumari, Anhanguera, Nova Aurora e Corumbaíba eram povoados ou distritos pertencentes a Catalão. Nessa época, a vida era basicamente rural. As pessoas somente vinham à cidade em ocasiões de festas ou para cumprir alguma obrigação nos cartórios. No mais, permaneciam nos lugarejos, roças e fazendas do município.
A vida no campo era bastante diferenciada nas grandes regiões do país. Em fazendas de São Paulo, por exemplo, plantava-se café para exportação, primeiramente com mão de obra escrava e depois com trabalhadores europeus assalariados. Nas estâncias do sul do país existiam pequenas propriedades altamente especializadas na lavoura, pecuária e agroindústrias domésticas. Já no nordeste brasileiro as imensas propriedades rurais serviam aos engenhos de cana de açúcar, com bois e mão de obra esparsos em fazendas longínquas, no árido sertão, onde os donos nem compareciam. Em Minas Gerais, por sua vez, a mão de obra escrava predominou por longo tempo, enriquecendo fazendeiros que construíram grandiosos sobrados em suas propriedades rurais.
Em Goiás, a vida rural era muito diferente. Principalmente no município de Catalão que recebeu a primeira onda de migrantes pelo sul do território. Aqui não se construíram sobrados vistosos em fazendas, não havia pequena propriedade e tampouco lavoura de exportação. Os donos da terra residiam nas próprias fazendas com a família e trabalhavam, no dia a dia, juntamente com os agregados, peões e sitiantes, voltados para o desbravamento da terra e a subsistência familiar.
Em Catalão não havia especialização produtiva. Pecuária e lavoura eram consideradas como atividade única. O gado sustentava a fazenda no período em que as lavouras eram preparadas e os moradores plantavam e criavam animais pensando unicamente na própria subsistência, sem objetivo comercial. Apenas o excedente de produção era vendido nos povoados ou transportado, em carros de boi, para o Triângulo Mineiro.
O trabalho diário era pesado e árduo. Sobrava pouco tempo para o lazer e as diversões. Além do que, as distâncias eram grandes e os roceiros viviam isolados e esparsos pelo imenso município.
Ainda bem que a vida rural tinha festas o ano inteiro. O assunto dos moradores, nas roças e nos currais, girava em torno das comemorações religiosas que ocorriam em toda a região. Algumas sobreviveram ao tempo e se tornaram tradicionais como a do Tambiocó, Coqueiros, Lourenço, Custódia, Varão, Cisterna, Mata-Preta, São Domingos, Morro Agudo e Cruzeiro dos Martírios. Eram festas em homenagem aos santos, que normalmente duravam vários dias com leilões, bailes e novenas. Muitos casamentos e uniões perenes começaram nessas celebrações festivas.
Mas, a vida rural carregava também as suas contrariedades. Não era somente um paraíso caboclo. O sonho dos jovens era adquirir um pedaço de terra para cultivar, uma vistosa mula para passear e uma carabina de repetição para caçar e se defender. O que nem sempre conseguiam. As mulheres solteiras, nas fazendas, sonhavam com um casamento livre, uma vida romântica ao lado do amado, o que dificilmente era permitido. As uniões eram escolhidas e determinadas pelos pais e monitoradas pela família.
O paraíso caboclo tinha fortes contradições. A honra valia mais que o dinheiro, a tradição mais do que a liberdade pessoal e o respeito à família era absolutamente inviolável. Por essa razão, desde os tempos remotos houve violência institucional, tanto no seio da família como no convívio entre os moradores.
A lei estava sempre ao lado do mais forte. O pioneiro da região de Goiandira, Tomás Garcia, por exemplo, gabava-se de ter adquirido aquelas terras e mandado alguns jagunços matarem…
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