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A Academia Catalana de Letras recorda que, Catalão teve uma das maiores e mais bem equipadas bandas de música do estado de Goiás. Composta por quase trinta elementos, vindo de diferentes camadas sociais, a banda promoveu alegria para a população durante muitos anos. Era a famosa Lyrica Musical de Catalão, dirigida pelo maestro João Gonçalves Valim Pirahy. O grupo vinha se organizando aos poucos, começando a se apresentar em 1924, incentivado por Mário de Cerqueira Netto (Nhozico), intendente municipal que auxiliou na aquisição de uniformes e de instrumentos.
A banda do Pirahy, como ficou conhecida na segunda metade da década de 1920, esteve presente em praticamente todos os acontecimentos sociais do município. Era uma banda civil mas com organização e fardas militares. Nos dias de apresentação, reuniam-se em formação com uniformes limpos, engomados, sapatos engraxados, quepes na cabeça, desfilando pelas ruas ao som de hinos, dobrados, valsas e choros. Tocavam em festas religiosas, batizados, casamentos, inaugurações e aniversários.
Banda de Pirahy. Desenho de Oswaldo Cândido Camargo Filho
A banda era também requisitada para acompanhamento de enterros das pessoas mais importantes, ocasião em que executava uma marcha fúnebre entristecendo e solenizando o momento. No dia de finados, Pirahy e seu grupo comparecia ao cemitério municipal, na parte da manhã e na parte da tarde, evocando com os seus dobrados fúnebres lembranças nostálgicas e saudosas dos entes queridos.
A história das bandas de música pelo interior do país é interessante. A primeira banda, de origem militar, veio com o próprio D. João VI de Portugal, passando a realizar concertos no Rio de Janeiro. A partir de então, músicos brasileiros foram organizando grupos musicais que, embora civis, se apresentavam à maneira dos militares, nas mais diversas partes do território. Teve uma época em que haviam centenas delas, tanto nas cidades, como em vilas, povoados, até em sítios e fazendas.
No início do século passado, praticamente toda cidade do interior tinha uma banda civil, por menor que fosse, que se tornava um veículo de entretenimento coletivo, participando de movimentos políticos e acontecimentos cívico-religiosos, apresentando-se em coretos e praças públicas.
Interessante que, as bandas eram verdadeiras escolas de música. Desempenhavam um papel importante na formação de novos profissionais e na revelação de grandes talentos. O famoso compositor Carlos Gomes, autor de “O Guarany”, por exemplo, foi um músico da banda de Campinas em São Paulo. Também o maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, internacionalmente conhecido Eleazar de Carvalho, tocava baixo-tuba na banda dos fuzileiros navais.
Em Catalão, o conhecido maestro Frederico Campos, autor da parte musical do hino do centenário da cidade, tocou numa banda de música de São Sebastião do Salitre, em Minas Gerais, antes de vir para cá em definitivo.
A banda do João Pirahy em Catalão se tornou conhecida, não só pelo uniforme de gala ou variedade de instrumentos, mas pela dedicação e capacidade musical de seus membros. Executava hinos e outros gêneros musicais com mestria, exigindo dos integrantes a leitura de partituras e conhecimento de arranjos melódicos. Entre os seus integrantes mais dedicados estiveram: Humberto Righetto, Cacildo Paranhos, João Rabello, Arary Campos Netto, Eutalio Pereira, Chico Leite, Francisco Rodrigues, Pedro Luiza, José Campos Netto, Lacy Pirahy, José Righetto, Luiz Rocha, Sebastião Rocha, Alberto Mendes, Teófilo Nonato, Manoel Matildo, Aliss Costa, José Lins, Adolfo Siqueira, Jorge Elias Democh, Gaudêncio Rocha, Hildebrando Borges, José Roriz, Nego da Ritinha, João Dionísio da Silva e o maestro João Pirahy.
Foto: Antigo Coreto do Jardim Central em Catalão por volta do ano de 1918.
Pode-se observar, entre os integrantes, pessoas de famílias conhecidas em Catalão e que atuavam em diferentes setores profissionais. De sapateiros, serralheiros, professores a funcionários públicos. Chama a atenção também a presença do pistonista Alberto Mendes, atleta do Catalão Futebol Clube. A sua fama como jogador era muito grande, sendo conhecido em toda a região. Tanto que, sessenta anos depois, Alberto Mendes foi lembrado com um estádio de futebol em seu nome, inaugurado no bairro São João.
Entretanto, assim como a maioria das bandas de antigamente, a de Catalão definhou. Com o tempo, a Lyrica Musical foi se desarticulando, perdeu o antigo maestro Pirahy, sendo que, na metade do século passado, não constava mais nos registros históricos da cidade.
Por: Luís Estevam