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História em Pedaços!

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Gente boa o  Blog,

A Academia Catalana de Letras lembra que,

o passado de Catalão não se resume ao simples coronelismo. Enquanto jagunços e chefes políticos atuavam no município, outros filhos de Catalão exerciam tarefas importantes e admiráveis. No início da República, por exemplo, haviam somente três médicos formados em todo o território de Goiás e, dois deles eram filhos de Catalão: Josias Leopoldo Victor Rodrigues e José Netto de Campos Carneiro. O primeiro, exercendo a medicina em Catalão e no Rio de Janeiro, era filho do farmacêutico Chico Manco e Felicidade da Silveira Rodrigues, fundadores da Botica Felicidade. O segundo, o mais conhecido profissional da saúde no âmbito estadual, era filho do Major João Netto Carneiro Leão e Francisca de Cerqueira Netto.

Foto: Vista parcial Centro da Cidade de Goiás/Acervo Cidinha Coutinho

Fora disso, no restante do estado, a medicina continuava nas mãos de charlatães, espalhados por todo o território, “que aplicavam cataplasmas e sangrias a troco de qualquer coisa”, como relatam informativos da época.

Esses dois médicos catalanos haviam se formado no mesmo ano (1885), embora em escolas diferentes. Dr. Josias abrira, de imediato, uma clínica particular em Catalão se especializando na prática de pequenas cirurgias e na área ginecológica. Dr. José Netto, por sua vez, foi para Portugal e França depois de formado, buscando maiores conhecimentos científicos e retornando após dois anos para a Cidade de Goiás, onde residiu pelo resto da vida.
Ambos os profissionais estiveram entre os primeiros médicos a atuar no estado, sendo responsáveis por diagnósticos e procedimentos inovadores nas condições da época.

A história de Dr. José Netto de Campos Carneiro é fascinante. Nasceu em Catalão no ano de 1855, descendente da família matriarcal de Thomásia Netto Carneiro, sua avó, que viera para Catalão ainda no princípio do século XIX, quando aqui era um simples lugarejo. Thomásia, inclusive, herdou de seus ancestrais portugueses a devoção por Nossa Senhora do Rosário e a transmitiu para sua descendência. Por volta de 1860 participou da fundação da Irmandade do Rosário em Catalão. Mais tarde, sua filha Emerenciana e netos concluíram, em 1876, as obras da igreja em homenagem à santa (Velha Matriz).

Era uma família de proprietários rurais bem abastada. Tanto que custearam a formação do estudante José Netto na Bahia, assim como a sua viagem de especialização na Europa. Quem ganhou com isso foi a comunidade goiana, em virtude dos trabalhos sociais empreendidos pelo catalano, que fez da medicina um verdadeiro apostolado e um admirável exercício de caridade.

Foto: José Netto de Campos Carneiro/Galeria de ex-prefeitos da Cidade de Goiás

Em 1887, Dr. Netto como era chamado, já havia se estabelecido na Cidade de Goiás. Não em clínica particular, mas como Inspetor de Saúde em substituição a um médico italiano que se aposentara.

O seu trabalho foi amplo e inovador. Deu os primeiros passos para que todos os habitantes do estado recebessem o máximo de benefícios na área de prevenção, numa época em que os municípios não tinham médicos, nem boticas e sequer medicamentos. Os poucos remédios que existiam eram vendidos em lojas de secos e molhados.

Como diretor do Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, Dr. Netto tornou-se uma figura amada na capital de Goiás. Pautou sua vida pelo atendimento social, despendendo esforços no tratamento de pobres e desamparados. Um simples mendigo ou aleijado era motivo de sua preocupação. De certa feita, por exemplo, no início do século passado, realizou com sucesso uma cirurgia de joelho em um conhecido deficiente físico, proeza muito admirada pela população vilaboense.

Dr. Netto foi eleito deputado estadual em 1892, mas os seus afazeres eram tantos que nem cumpriu o mandato na íntegra. Demonstrou que gostava mais de realizar do que legislar. Alguns anos depois, na continuidade de seu trabalho e dedicação junto aos menos favorecidos foi nomeado Intendente Municipal da Cidade de Goiás por duas vezes. A primeira, de 1899 a 1903, e a segunda, de 1907 a 1911.

Era um político diferente do modelo e da concepção tradicionais. Ostentava, antes de tudo, uma preocupação social na gestão pública, sendo considerado um genuíno protetor dos pobres. Atuou com dinamismo em todo o município, com presença marcante em Ouro Fino, Ferreiro e no Arraial da Barra, onde deixou rastros de sua administração. Na cidade construiu a ponte nova, um belo chafariz e priorizou a conservação e salubridade do rio Vermelho.

Dr. Netto foi também filantropo. Integrou a Sociedade São Vicente de Paulo, na qual foi um dos diretores mais atuantes. Na área de ciências biológicas, publicou vários informativos sobre a febre amarela, posteriormente editados em Portugal com o nome “Das febres em Goiás”. Neles ressaltava suas experiências no combate ao impaludismo e demonstrava preocupação com os diagnósticos e as dificuldades enfrentadas pelos mais pobres para o devido tratamento médico.

Apesar de não cobrar consultas e nem mesmo procedimentos médicos, Dr. Netto recebia muitas doações de moradores. Tornou-se um homem de posses. Porém, antes de falecer em 1921, deixara seus bens (uma excelente fazenda, casas e chácaras) para o Orfanato São José, entidade que ele próprio planejava fundar. O orfanato foi inaugurado um ano depois de sua morte e está até hoje em funcionamento (Lar São José).

Dr. Netto nunca se casou e nem teve filhos. Celibatário por opção, foi um homem muito cortejado pelas moças da Cidade de Goiás. Contam, inclusive, que quando faleceu, o seu caixão foi conduzido por mulheres até o cemitério.
Durante a vida, apreciava muito o cultivo de flores, trazendo sempre uma na lapela do paletó. O seu aniversário, todos os anos, era comemorado com festança pelos moradores com bandas de música e atrações artísticas.
Até hoje, os órfãos do Lar São José visitam o túmulo na data do seu aniversário. Sua biografia é lida e contada nas escolas e entidades da antiga capital de Goiás.

Enfim, o médico catalano, José Netto de Campos Carneiro, deixou forte presença no seio da população vilaboense e nos anais da medicina do estado de Goiás.
Mais um filho de Catalão que não pode ficar esquecido na memória do município.

Por:Luís Estevam

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