A Academia Catalana de Letras relembra que, a instalação do 6° Batalhão de Caçadores em Ipameri contrariou antigos coronéis de Catalão. Aquela cidade, a partir de 1922, passou a contar com a presença efetiva de tropas do exército e de um coronel de carreira, reduzindo a tradicional influência dos chefes políticos de toda a região.
Foto: Arquivo pessoal Luís Estevam/ Desfile do Combatentes do 6º B.C em Ipameri
O poder impessoal (da instituição militar) suplantava a vontade pessoal dos velhos líderes, apontando para novos tempos na hierarquia social. A tensão foi grande. Inclusive, um poderoso coronel da velha guarda quis retirar um jagunço da cadeia de Ipameri, na década de 1920, e foi impedido pela tropa do exército. Ou seja, as antigas patentes da Guarda Nacional, recebidas na monarquia e nos primórdios da república, pouco representavam frente aos militares de carreira do novo exército nacional. Como diziam os antigos, não havia mais espaço para duas onças conviver no mesmo capão.
Os tempos estavam mudando rapidamente. O serviço militar passou a constituir uma alternativa de carreira para os jovens da zona rural, assim como também o emprego assalariado na estrada de ferro.
Ipameri pertenceu a Catalão até 1870. Porém, depois de sua emancipação, buscou vida própria e abraçou algumas modernidades de forma bem peculiar e acelerada, mesmo com relação ao ritmo progressista de Catalão.
Tudo começou com a estrada de ferro que atingiu Ipameri em 1913, no mesmo ano que Catalão. Contudo, enquanto estação final por longo período, Ipameri hospedou o administrador-geral da ferrovia, adotando-o como cidadão ipamerino e elegendo-o Intendente Municipal em 1919.
Com ideias modernas, o engenheiro Marot imprimiu um vigoroso alento ao progresso daquela terra. Atraiu para a cidade, em 1921, a primeira agência do Banco do Brasil em Goiás e, no ano seguinte, conseguiu a remoção do 6° B.C. da antiga capital de Goiás para Ipameri. Na época, o 6° B.C. era um regimento militar de infantaria, muito preparado, que caminhou por mais de 60 léguas (de Goiás Velho a Ipameri) arrastando armas e munições em carroças e carros de boi até a nova sede. A região sudeste era a mais povoada, a mais rica e com grande potencial para o serviço militar obrigatório.
Na verdade, o “Batalhão de Caçadores de Goiás” era muito antigo, existindo desde a metade do século XIX. Atuara na Guerra do Paraguai e em vários levantes pelo interior do país. Mesmo depois de sua transferência para Ipameri, combateu os integrantes da Coluna Prestes e auxiliou na luta contra os revoltosos constitucionalistas de São Paulo.
Vários catalanos participaram dos combates do 6° B.C. em 1932. Os revoltosos paulistas queriam a derrubada do governo Vargas, o que ameaçava diretamente também o poder de Pedro Ludovico em Goiás. Por isso, os aliados do governo foram à guerra. Até mesmo o Intendente Diógenes Sampaio combateu com um pelotão de catalanos no interior de São Paulo, somente retornando, da região de Campinas, depois da revolta debelada. Felizmente não houve registro de baixa naquela empreitada.
Mas, a peregrinação da infantaria foi muito sofrida. Um combatente catalano, que liderou um grupo do 6° B.C. na Revolução Constitucionalista de 1932, foi Eduardo Bernardo Borges. Conta um bisneto dele (historiador Daniel Ferreira da Silva) que, Eduardo levava no seu bornal militar apenas “um queijo e uma rapadura, que não eram suficientes para alimentar todos os seus comandados. Preferiu ficar sem comer do seu queijo e da sua rapadura para sofrer a fome junto com os demais soldados. Quando a guerra acabou, Eduardo Bernardo Borges contou aos soldados o que havia feito e estes, comovidos, choraram e o abraçaram”.
Em novembro de 1973, o 6° B.C. foi transformado no 41 Batalhão de Infantaria Motorizado e, dois anos depois, removido para Jataí. Mas, o 6° B.C. continuou no coração de muitos veteranos de nossa região, que serviram naquele batalhão e guardaram muitas saudades daquela época.
Foto: Catalano Eduardo Bernardo Borges que lutou na Revolução Constitucionalista
Arquivo pessoal Luís Estevam
Por: Luís Estevam