Gente boa do Blog,
A Academia Catalana de Letras relembra que,
Dona Rola e Joaquim de Araújo formaram um casal bem interessante, no início do século passado, em Catalão. Ele, um imigrante português, marceneiro de profissão e dono de alguns alqueires de terra. Ela, moça catalana de tradicional família, nascida e criada na fazenda Pé do Morro. Ele, morreu assassinado e virou nome de grupo escolar. Ela, de luto perpétuo, nunca mais comungou por não perdoar os assassinos do marido.
Os dois parecem ter sido muito felizes na casa em que moravam, posteriormente conhecida como Sobrado da Dona Rola.
Tudo começou com a imigração portuguesa para Catalão que, por incrível que pareça, não foi tão expressiva. Árabes, italianos e espanhóis vieram para cá em número bem maior. Mas, entre os portugueses que chegaram em Catalão depois da metade do século XIX, estava Joaquim de Araújo e Silva. Era um competente marceneiro que logo se integrou à vida da cidade, bem relacionado, inclusive, com o seu conterrâneo senador Antonio Paranhos que foi morto em 1897.
Joaquim logo se casou com Maria José Benvinda Borges, filha de Francelino Martins Borges e Maria do Carmo de Oliveira Novaes, proprietários da Fazenda Pé do Morro.
Joaquim e a esposa vieram residir na cidade, em um sobrado de esquina, abaixo do colégio Mãe de Deus, bem na via de acesso à Rua da Grota. No fundo do terreno do sobrado, o marceneiro construiu uma ponte, bem forte e segura, para utilização da comunidade que circulava entre as ruas da Grota e do Pio, sem cobrança de pedágio. Foi quando os problemas começaram…
Naquela época, primeira década do século passado, haviam poucos locais de travessia sobre o córrego Pirapitinga.
Acervo Luís Estevam
Existiam pinguelas usadas por pedestres. Mas, para cavalos, carroças, carros de boi, charretes e eventualmente automóveis e caminhões, as pontes eram necessárias. Mas, elas eram de propriedade particular e cobravam-se taxas para a travessia. Eram poucas pontes. Registros apontam uma, feita com esteios de aroeira, perto do antigo mercado municipal, conhecida como ponte do Miguel Carroceiro (pai do Prof. Antonio Chaud). Bem abaixo havia uma pinguela, no local indicado como Vau do Alfredo, que ia em direção ao antigo colégio Presidente Roosevelt. À jusante do córrego tinha uma travessia, abaixo da cadeia pública, com acesso ao cemitério municipal. Em seguida, a ponte do Joaquim de Araújo na saída da Rua da Grota. Logo abaixo havia também a ponte dos Margon, exclusiva de suas empresas e empregados.
O fato é que, Joaquim de Araújo, com sua nova ponte sem pedágio, contrariou interesses. O fluxo de entrada e saída oeste da cidade mudou sua antiga direção, esvaziando o trânsito em outras travessias. Em vista disso, de acordo com depoimentos familiares, o português foi assassinado em 1910. A edição do jornal Goyaz, em 30 de novembro daquele ano, noticiou que um dos seus assassinos (Martiniano) foi morto pela polícia e seu comparsa (Martinho) conseguiu fugir para o Triângulo Mineiro. Não houve prosseguimento do inquérito e nem se descobriu o mandante do crime.
A história oral indica que Joaquim de Araújo e Silva foi uma pessoa muito querida pelos moradores, a ponto de, em 1952, ser inaugurada uma escola com o seu nome, próxima ao sobrado em que morou.
A sua esposa herdou a ponte, o sobrado e ganhou o apelido de Dona Rola. Chamava a atenção pela sua vestimenta de cor negra e pela sua profunda religiosidade. Depois que o marido foi assassinado, Dona Rola abraçou o luto perpétuo e não comungou mais. Alegava que não perdoara os assassinos de seu esposo e que, portanto continuaria sempre em pecado.
Dona Rola foi um esteio para as irmãs agostinianas que fundaram o colégio Mãe de Deus em 1921. Como eram madres espanholas, recém chegadas ao Brasil, a viúva dedicou-se a ensinar a culinária, o vocabulário e os costumes da gente catalana para suas vizinhas de quarteirão. A antiga Rua Cel Roque de Azevedo tornou-se parte baixa da Av. 20 de Agosto. Mas, restaram a arquitetura do colégio Mãe de Deus e o sobrado da Dona Rola que também vem resistindo ao tempo. Por sua vez, o prédio da escola estadual Joaquim de Araújo e Silva, edificado em 1952, foi interditado em 2011 para reformas, mas a escola continua funcionando no prédio do colégio Mãe de Deus.
Acervo Luís Estevam
Por Luís Estevam