A Academia Catalana de Letras relembra que,
vários bandos armados assolaram a região de Catalão ao longo de sua história. Um dos mais cruéis foi o do João Afonso, um descendente de índios que circulava, acompanhado de membros de sua família, pelas matas que dividem Goiás e Minas Gerais. Tinha o seu covil no porto Mão-de- Pau, às margens do Paranaíba e interferia, sempre que contratado, em todas as brigas políticas ou desentendimentos que houvessem na região. Agiu muitas vezes na própria cidade de Catalão depois da metade do século XIX.
Conta-se que matava, quase sempre com uma comprida faca, depois dirigia-se a um rego d’água que passava na praça da velha matriz e calmamente lavava o sangue da lâmina, à vista de todos, montava em seu cavalo e partia tranquilamente para seu esconderijo.
João Afonso era um moreno alto, robusto, de feições indígenas, que enganava inteiramente as pessoas que com ele tratavam, devido à sua fala macia e respeitosa. Mas, na verdade, com o seu bando, tornou-se responsável por mais de uma centena de assassinos. Morreu com aproximadamente 80 anos assassinado por um sobrinho pertencente ao próprio bando.
A ironia da história é que, Bernardo Guimarães e o índio Afonso eram muito amigos. Tanto que o antigo juiz de Direito de Catalão e escritor imortalizou Afonso e seu bando em um livro lançado no Rio de Janeiro. Como nunca escondeu de ninguém, o juiz Bernardo Guimarães era um boêmio inveterado. Passava semanas nas margens do rio Paranaíba pescando, caçando e bebendo cachaça ao lado do famoso João Afonso e seus comparsas. O romancista não tinha preconceito social. Com a mesma facilidade que se relacionava com pessoas respeitáveis, misturava-se e convivia com toda espécie de gente.
O escritor Bernardo Guimarães descreveu com grande nostalgia as paisagens de Catalão. Os campos, os rios, os crepúsculos, as noites de luar e as matas virgens do Paranaíba onde vivia o índio Afonso. O livro, cujo cenário se passa no município de Catalão, em suas repetidas edições, levou o nome de nossa cidade a todos os recantos do Brasil. É o índio Afonso, de criminoso acabou virando herói.
Por :Luís Estevam