No Templo de Salomão, os cultos diários contam sempre com fervorosos testemunhos. Às segundas-feiras, o tema é prosperidade na sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo. Em uma das últimas reuniões do Congresso para o Sucesso de 2017, em 18 de dezembro, vários fiéis subiram ao palco para falar durante mais de duas horas sobre a prosperidade que Deus trouxe para suas vidas. Os testemunhos eram intercalados por citações da Bíblia e pela coleta do dízimo: mais de 50 obreiros com máquinas de cartão passavam recolhendo as doações.

De repente, o bispo Edson, que conduzia o culto, disse: “tá cansado de ler as histórias dos outros na Bíblia? Então, suba no altar e escreva sua própria história com Jesus Cristo!” O telão gigantesco que cobre toda a parede atrás do altar projetou fogo, e as pessoas foram incitadas a subir e sacrificar para Deus tudo que tinham para que ele abrisse seus caminhos no novo ano que se aproximava. Centenas de fiéis fizeram isso. Grandes sacos foram enchidos de envelopes e objetos e depois retirados por portas que ficam atrás do altar.

O bispo repetiu várias vezes: quem doasse poderia sair da igreja confiante porque, do lado de fora, estariam esperando oportunidades financeiras revolucionárias.

Nós saímos. Encostadas nos portões da igreja, pessoas entregavam cartões de uma tal Airbit Club. Achamos, na época, que talvez fosse uma coincidência. Depois, descobrimos que as maiores lideranças da empresa, uma mistura de clube de investimentos e marketing multinível, têm uma relação bem próxima e mal explicada com o império evangélico e colecionam reclamações de falta de contrato com os investidores e dificuldades para recuperar o dinheiro investido. O Ministério Público de São Paulo está investigando a empresa.