Acordamos nesta semana num outro país, sem sair do Brasil. Não houve uma simples transição de governo, a alternância do poder de um partido para outro. Mudou tudo, já no dia da posse, uma operação militar em Brasília como nunca se havia visto antes.
Pela primeira vez desde o final da ditadura, assumiu o governo um presidente abertamente radical de direita, que promete reinventar o país, para “libertar o Brasil do socialismo” e de outros fantasmas como a ideologia de gênero, o politicamente correto e o “lixo marxista” nas escolas.
No início da campanha eleitoral, como ocorreu com Trump nos EUA, poucos acreditavam que o capitão reformado pudesse subir a rampa do Palácio do Planalto, eleito pelo voto direto.
Tem gente ainda dando tapas na cabeça para ver se isso é verdade. Agora é tarde. Com um patamar de 20% nas pesquisas antes do atentado de Juiz de Fora, duvidavam que ele pudesse chegar ao segundo turno. Se chegasse, perderia para qualquer um, diziam.
O atentado e o impedimento definitivo de Lula como candidato foram divisores de água. Bolsonaro disparou nas pesquisas e chegou ao poder a bordo de 57 milhões de votos (39,2% do eleitorado). Quem poderia prever que os militares voltariam em eleição direta, apenas 34 anos depois de devolver o comando aos civis? Certamente, nem os generais que agora são seus subordinados.
Quando Bolsonaro começou a juntar pequenas multidões em aparições fugazes nos aeroportos, aos gritos de “Mito! Mito! Mito!”, poucos prestaram atenção no que estava acontecendo nas bases de um eleitorado cansado dos políticos, clamando por mudanças.
Partidos, políticos e a imprensa em geral foram surpreendidos. Mesmo sendo deputado federal por sete mandatos, o capitão se apresentou como o candidato do antissistema “contra tudo isso que está aí”.
Mais que eleitores, conquistou uma legião de fanáticos disseminados nas redes sociais, e foi para eles que fez seus dois discursos na posse, uma coletânea dos memes da campanha.
Antes de falar por menos de dez minutos no Congresso, brincou com os parlamentares: “Estou me casando com vocês”. No parlatório do Planalto, pediu licença ao general Mourão, seu vice, antes de começar o discurso. Dá-se a isso o nome de “nova política”?
Em ambos os pronunciamentos, citou “Deus” 13 vezes e outras quatro a palavra “ideologia”. Nada disse sobre os 12 milhões de desempregados. E tem advertido os aliados sobre a volta da “ameaça vermelha”, como os militares fizeram de 1964.
Em breve saberemos se o Brasil elegeu um presidente ou apenas um “Mito”.
Por Os Amigos do Presidente Lula