Uma reunião de emergência de sindicatos foi convocada logo no sábado em Itabira (MG), a três horas de carro de onde no dia anterior a Barragem 1, da mina de ferro Córrego do Feijão, da Vale, rompeu-se em Brumadinho, liberando uma avalanche de um reservatório com cerca de 12 milhões de metros cúbicos de lama. No desastre, dezenas de pessoas morreram.
No encontro de sindicalistas, cerca de 30 representantes de trabalhadores de diversos sindicatos se queixaram da prática da companhia de armazenar rejeitos, quando já há tecnologia para eliminar esses passivos ambientais, e decidiram unir forças para mudar o cenário, reivindicando também maior participação dos funcionários em decisões por segurança.
Rafael Ávila, diretor-presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes, que representa cerca de 1.500 trabalhadores, disse que ainda é cedo para falar em greve, mas que os empregados vão buscar unificar o movimento com sindicatos de todo o país e pressionar a empresa para serem ouvidos.
“É muito simples. Tem como fazer a filtragem desse material e depositar a seco, sem utilização de barragens, o problema é que é um investimento que eles não fazem”, disse Ávila.
“A Vale, em um trimestre, tem 5 bilhões de reais de lucro, mas isso não traz investimento em mudança do modelo de produção, e isso é uma bomba relógio”, acrescentou ele, queixando-se da ausência de informações sobre segurança nos planos da empresa, que nos últimos tempos está focando seu bilionário fluxo de caixa livre no pagamento de dividendos, oportunidades de crescimento e aquisições.
No sábado, além do Sindicato Metabase Inconfidentes, estavam representantes do Sindicato Metabase Itabira, Sindicato da Construção Civil Pesada (Siticop), Sind UTE Contagem, Sind UTE Barreiro, Sind Rede (professores de BH) e brigadas populares.
Outras duas reuniões de emergência foram marcadas para esta segunda-feira, em Belo Horizonte, uma das centrais sindicais de MG e outra chamada pela Central Sindical e Popular-Conlutas, com diversos representantes de trabalhadores.
Ávila pontuou que “a Vale, só quando é pressionada pela produção, muda alguma coisa”, e que reclamações por segurança feitas por funcionários são desencorajadas, até mesmo por demissões.
Violação de normas
O Ministério Público do Trabalho (MPT) vai realizar um diagnóstico do crime socioambiental de Brumadinho, com vistas à apuração de responsabilidades criminal, civil e trabalhista, afirmou a instituição em nota divulgada no domingo (27). Para a instituição, a tragédia representa um dos mais graves eventos de violação às normas de segurança do trabalho na história da mineração no Brasil.
O procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, constituiu grupo específico de trabalho para investigação e adoção das medidas de responsabilização cabíveis em relação aos trabalhadores vitimados e ao Meio Ambiente do Trabalho. “Essa tragédia demonstra a precariedade das condições de trabalho a que estão expostos os trabalhadores no Brasil e a imprescindibilidade dos órgãos de defesa dos direitos sociais”, disse Fleury. “Imperioso ressaltar que a grande maioria das vítimas são trabalhadores que perderam suas vidas nas dependências da empresa”.
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