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As mentiras que contam sobre a Medicina em Cuba

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Desde que foi criado o Programa Mais Médicos e grande parte dos profissionais que o integram vieram de Cuba, muita mentira tem circulado sobre a formação daqueles profissionais oriundos e suas condições de trabalho no Brasil. As mentiras se espalharam com maior profusão nas redes sociais e se intensificaram depois que Jair Bolsonaro afirmou que fará mudanças no Mais Médicos que tornam inviável a permanência dos cubanos no programa e levaram Cuba a encerrar a parceria.

Por Nésio Fernandes*

Jovens de todo o mundo estudam em Cuba

Espero que este texto ajude a entender como é a formação médica no Brasil e em Cuba partindo de algumas ideias erradas que tem sido divulgadas.

Curso de Medicina em Cuba segue o modelo soviético

Lorota. O modelo soviético de medicina nunca entrou em Cuba. O modelo cubano de formação médica segue o modelo flexineriano clássico, o modelo norte-americano, o mesmo seguido pela formação médica no Brasil. O diferencial na formação cubana é a intensiva carga horária prática, a formação humana e o rigor na avaliação e exigência nos estudos.

Formação médica tem apenas quatro anos

O curso tem 6 anos, divididos em 2 anos de ciências básica e préclinica e 4 anos de clínica. Igual ao Brasil (profundamente parecido as Diretrizes Curriculares Nacionais do Brasil), igual ao modelo flexineriano.

Como a residência médica é universalizada, todos os egressos tem acesso direto à residência médica, sendo obrigatória à residência em Medicina de Família e Comunidade (lá chamada de MGI) antes de cursar uma segunda residência.

Na sede da Escola Latino Americana de Medicina (ELAM) em Havana, os estrangeiros cursam os 2 primeiros anos de ciclo básico e pré-clínico, os 4 anos clínicos seguintes cursam em 18 faculdades espalhadas no País, realizando o estágio nos diversos hospitais e serviços de atenção primária em saúde.

75% da carga horária é hospitalar!


Cuba forma 300 médicos por ano

Cuba universalizou o acesso a universidade a todas as províncias e a maioria dos municípios do país possuem faculdades em diversas áreas. Os cursos de medicina existem em todas as microrregiões do país, cada faculdade deve formar entre 50 e 100 médicos por ano.

A ELAM que recebe estudantes estrangeiros chegou a receber 1.000 estudantes ano, hoje tem uma matrícula bem menor e não se restringe a américa-latina.

Médicos graduados em Cuba querem fugir do Revalida

90% dos médicos graduados em Cuba revalidam seus diplomas em um ou dois anos após formados. Se preparam para os exames de revalidação no Brasil, muitos fazem os mesmos cursos preparatórios para os exames das provas de residências médicas que os médicos formados no Brasil fazem.

Médicos formados em Cuba são do MST, do PT e do PCdoB

A ampla maioria dos estudantes brasileiros e estrangeiros em Cuba não são militantes de partidos de esquerda. Quando existiam as bolsas de estudo, que já não existem mais como na época de Fidel, somente 30% das vagas eram ofertadas às organizações como MST, PCdoB, PSB e PT. Mesmo entre esses, encontramos hoje eleitores de Bolsonaro.

A maioria dos estudantes de Medicina em Cuba, cubanos e estrangeiros, são jovens comuns que sonham em ser médicos, viver a sociedade de consumo e não são nem um pouco politizados. É fato que entre eles encontramos uma proporção importante de jovens interessados em trabalhar com a saúde pública. É uma estupidez afirmar que são agentes de internacionalização do socialismo cubano. Nem estrangeiros, nem cubanos querem “exportar o modelo cubano”.

Médicos Cubanos são agentes infiltrados

Médicos cubanos geralmente não gostam de política, estão preocupados em enviar recursos financeiros a suas famílias e a melhorar de vida como qualquer pessoa comum. São extremamente disciplinados e não se metem nas questões políticas internas de outros países. A maior parte dos países que já receberam missões médicas cubanas são governados por políticas de direita e são países capitalistas.

Médicos cubanos são piores ou melhores que os médicos brasileiros

Existem médicos bons e ruins em todos os países, inclusive entre cubanos e brasileiros, a questão é que os médicos cubanos são funcionários públicos que participam de uma missão oficial de seu país e vão trabalhar em áreas e em condições que os médicos brasileiros não aceitam, até os brasileiros formados em Cuba não vão para onde eles vão.

Foto: Araquém Alcântara

Os médicos cubanos são escravos

Os médicos cubanos recebem aproximadamente R$ 3.300,00 do valor pago a Cooperação com a OPAS/CUBA. Também recebem em média R$ 2.500,00 reais de auxílio moradia e alimentação dos municípios onde trabalham. Isso equivale a R$ 5.800,00 reais de remuneração/mês. Esse valor não tem nada de trabalho escravo. Médicos dos países capitalistas da américa-latina como Uruguay, Chile, Argentina, Colômbia, Perú, recebem médias salariais menores que essa para trabalharem 32h semanais, como trabalham os médicos cubanos no Brasil. Em diversas capitais do Brasil esse valor é próximo a remuneração dos médicos praticadas no SUS.

A presença dos médicos cubanos é um desrespeito a medicina brasileira

No Brasil 40% do orçamento do Governos Federal vai para os juros e amortização da dívida. A carga tributária sobre os trabalhadores e a classe média é absurda. Desconte os 27,5% do Imposto de renda, os 40% da arrecadação federal que ficam com a especulação, os lucros exorbitantes dos Bancos, o valor pago pelo SUS a consulta médica especializada (R$ 10,00), o valor que a Unimed e outras operadoras descontam e repassam aos médicos brasileiros, a terceirização plena, a PJotização da profissão médica e o fim dos direitos trabalhistas: entenda que o problema da medicina no Brasil não está nos cubanos, está na política de ajuste fiscal e neoliberal que o Brasil esta submetido desde o governo Collor.

Consideração Final 

De fato Cuba não é o país das maravilhas, nem Fidel ou Raúl eram Alice, mas entendo que o respeito a autodeterminação dos povos e a boa educação com os imigrantes deve prevalecer diante de preconceitos raciais, ideológicos, políticos, religiosos, gênero etc…

O Brasil viveu anos de ódio e intolerância, penso que o momento é de repensar e unir nos em torno de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento para o país, tornando o Soberano, Desenvolvido, Justo e democrático.

*Nésio Fernandes de Medeiros Junior é médico e educador.

Portal Vermelho

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