Mais da metade da Câmara dos Deputados, cerca de 53%, será composta por novos nomes. É a maior renovação em 24 anos. Patamares como este só foram verificados em 1990 e 1994.
O fenômeno foi causado pelo PSL, atual partido de Jair Bolsonaro, que se tornou a segunda maior bancada da Casa, atrás do PT. Por outro lado, as eleições de 2018 para o Parlamento representam uma manutenção de seu caráter conservador e pela aliança entre diversas bancadas temáticas.
O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) previa uma manutenção de nomes tradicionais muito acima da verificada. Antonio Augusto de Queiroz, diretor da entidade, aponta que o fenômeno observado em 2018 surpreendeu a todos e está “diretamente associado” à campanha presidencial.
“A nossa expectativa de baixa renovação não contava com o tsunami que foi o PSL na Câmara. Nem nós, nem eles. Eles trabalhavam que, no menor cenário, chegariam a 30. Aí explodiu. Como a maioria é novo, aumentou o índice de renovação”, afirma.
Ele destaca que, apesar do sucesso que levou à desidratação de legendas tradicionais de direita e centro-direita, como PSDB e MDB, caso seja eleito, Bolsonaro contará com uma bancada do próprio partido menor do que os presidentes anteriores.
O outro BBB
Ainda não há contabilização exata do tamanho das bancadas temáticas, e alguns levantamentos preliminares apontam, por exemplo, para a diminuição da bancada evangélica. Queiroz, entretanto, aponta que qualitativamente este setor chega fortalecido na Câmara, também por conta do teor da campanha presidencial de Bolsonaro.
“Ele parte de um patamar de 10% na Câmara, um pouco abaixo da média do que outros presidentes elegeram, mas muito próximo. E conta com mais partidos que formariam um núcleo duro por identidade plena: PRB e DEM. Uma coisa já se sabe, ela [bancada evangélica] vem empoderada porque esse debate foi muito forte nas eleições”, diz Queiroz.
A campanha de Bolsonaro parece ter reforçado a aliança entre estas bancadas temáticas. A relação entre as bancadas pró-armamento, cristã fundamentalista e do agronegócio, batizada nos últimos anos como BBB – Bíblia, Boi e Bala – é um fenômeno mais recente na história brasileira do que para outros países. Magali Cunha, pesquisadora em Comunicação e Religião e consultora do Conselho Mundial de Igrejas, explica que o eleitorado evangélico é, na verdade, bastante diverso.
“Tem uma pluralidade muito grande. É difícil falar de apenas um segmento evangélico. São muitas igrejas. Essas pautas mais amplas, que não mexem com a questão da moralidade não há uma unanimidade de posição das igrejas evangélicas. Mesmo nas pautas referentes à sexualidade, ao corpo, há muita diversidade”, pondera.
Ela ressalta que a bancada evangélica representa fundamentalmente as lideranças religiosas, e não o conjunto de fiéis. Em sua origem, sua atuação se limitava ao protagonismo conservador em pautas relacionadas a direitos reprodutivos e sexuais das mulheres e os direitos civis de LGBTs, por exemplo. Mais recentemente, interesses como concessões públicas para canais de rádio e TV aproximara o setor de outros temas.
“Há um jogo discursivo que tem a ver com a lideranças [religiosas] que fecham com os políticos que estão na bancada, que jogam com muitos interesses. É uma novidade na bancada esse envolvimento de questões maiores da política nacional”, defende.
Um indício da mudança da bancada da Bíblia ao longo dos anos, e acentuada em 2018, apontada por Cunha é o fato de que se originalmente era composta basicamente por líderes pentecostais, hoje, o setor é composto também e cada vez mais por empresários que se declaram evangélicos.