Por Dayane Santos, enviada especial
Manuela fez questão de sinalizar que a oficialização da sua candidatura não fechou as portas para a construção de uma frente única da esquerda para as eleições de outubro. Ela reafirmou que o seu desejo e o esforço do PCdoB é pela unidade e que vão buscar construir essa alternativa ainda no primeiro turno.
“Nós do PCdoB laçamos hoje a minha candidatura, mas assim como em todos os momentos dessas 32 semanas em que nós estamos em pré-campanha, nunca fomos e nunca seremos óbice a unidade do nosso campo político”, frisou. “Para nós, vencer a quinta eleição consecutiva é uma obrigação”, acrescentou.
Emocionada, Manuela agradeceu a militância pela acolhida durante toda a sua pré-campanha. Disse que é uma “honra enorme de ocupar essa tribuna pela primeira vez como candidata à Presidência da República”.
“Nunca a menina que há 20 anos se filiou ao PCdoB imaginou que caberia a ela a honra de representar gerações e gerações de homens e mulheres que lutam pelo desenvolvimento do nosso país. Recebo esse desafio com a exata dimensão do que é carregar a nossa bandeira e o sonho de um Brasil livre e desenvolvido.”
Manuela citou em seu discurso a personagem Ana Terra, do romancista gaúcho e comunista Érico Veríssimo, que dizia que sempre que acontecem coisas importantes está ventando.
“Mas se os ventos que sopram são os ventos do aumento das desigualdades, das injustiças, das crianças que morrem afogadas no mediterrâneo, o nosso partido, que é a nossa embarcação, está pronto para atravessar esse mar revolto, abrir as velas e, como diria Bechior, porque nós temos a certeza e vimos vir vindo no vento cheiro de uma nova estação’”, disse ela parafraseando a canção Como Nossos Pais.
Na avaliação de Manuela, o “vento que sopra no mundo de hoje é do estado de exceção” o que demonstra, segundo ela, que o “capitalismo é cada vez menos compatível com a democracia”.
Ela apontou que hoje, 28 corporações internacionais, a maior parte delas na esfera financeira, dominam a economia e dão as cartas da política no mundo.
“Uma série de mecanismos político-jurídicos fazem com que elas funcionem como uma espécie de esponja que suga as riquezas e as mantêm fora da esfera da produção, jogando o Ocidente em uma situação de anomia econômica. É o desemprego, subemprego, a degradação do trabalho, a fome, o desmonte do estado e de um conjunto de políticas públicas”, advertiu.
De acordo com a candidata comunista. Essa gestão das riquezas produzidas pelo trabalho e o “capital fictício” da especulação financeira, esterilizam a economia e mantém “uma camada de burocratas muito bem pagos”.
“São os gestores, os técnicos, as pessoas que supostamente e profissionalmente tem como principal qualidade desconsiderar as pessoas da política. Trata-se de uma dos processos mais perigosos que o mundo vive hoje. A crença de que a técnica é superior a política”, argumentou ela, em referência a campanha insuflada pela direita conservadora da antipolítica como solução para a crise.
“Essa visão é uma das bases ideológicas decisivas desse sistemas porque é ela que dá legitimidade a fé cega nas leis do mercado”, explicou.
“Se a técnica, que é por definição o campo onde não há escolhas, ela também é o campo onde não há democracia. Dito de uma outra maneira: destruir a política é o modo de impor o domínio do capital, porque eles não podem mais se dar ao luxo de deixar ao povo a opção de mudar – através da participação política e do voto – as decisões da política econômica”, completou.
Segundo Manuela, a sua candidatura se contrapõe a esse sistema, reafirmando que a soberania do voto popular e o processo político são a construção de saídas.
“Nós somos aqueles, que nós próximos dias, dialogaremos com as mulheres e homens do nosso país e diremos que não é admissível abrir mão do futuro do nosso país. Que não é admissível deixar de participar do processo eleitoral”, asseverou.
Para Manuela, parte da lógica do capitalismo hoje é uma nova onda neocolonialista. “Eles precisam se apropriar de modo direto das riquezas dos países como o nosso. O golpe de 2016 tem que ser entendido, portanto, nesses marcos. Ele foi dado para instaurar em nosso país um regime de colaboração com os grandes centros internacionais”, disse.
Seguindo essa linha de raciocínio, Manuela classificou o governo Temer como “um comitê gestor de interesses das grandes potências”.
“A sua tarefa é organizar a rapina. Distribuir as riquezas do nosso país”, rechaçou. “Por isso, podemos dizer com todas as letras e sustentar isso do ponto de vista conceitual de que se trata de um governo de traição ao Brasil e ao povo brasileiro.”
Temer é Alckmin
Manuela voltou a afirmar que a candidatura do tucano Geraldo Alckmin (PSDB), alardeada pela grande mídia pelo apoio do chamado centrão, é apenas a continuação da agenda entreguista de Michel Temer.
“Não vamos permitir que eles, com as suas roupas variadas e com a mudança de personagem, continuem com o seu projeto único de entrega das nossas riquezas e de destruição do Brasil e do estado. Precisamos estar o mais unidos possível para vencer as eleições e interromper esse ciclo de destruição do país e dos direitos do nosso povo”, defendeu.
Manuela fez um discurso que contundente, abordando os principais eixos que nortearão a sua campanha. Confira outros trechos de seu discurso:
“Eu sou candidata porque nós acreditamos que é possível defender o desenvolvimento sustentável. Aquele que coloca a região Amazônica no centro das alternativas e que percebe no povo da floresta as possibilidades de desenvolvimento e a necessidade para que vivam com dignidade.
Eu sou candidata porque nós acreditamos na valorização do trabalho. Eu sou candidata porque nós acreditamos que é possível que esse país realize o seu sonho de Nação, retomando a sua atividade industrial, aproveitando as oportunidades e de olhos atentos aos perigos que podem representar a indústria 4.0 se nós não nos abraçarmos as suas potencialidades.
Eu sou candidata porque nós acreditamos na necessidade de um referendo revogatório da reforma trabalhista e da Emenda Constitucional 95, medidas que foram aprovadas sem nenhuma legitimidade política e social.
Eu sou candidata porque acredito numa reforma tributária que isente aos mais pobres de pagar tantos impostos e que faça justiça tributária. É possível onerar a atividade especulativa. É possível taxar lucros e dividendos, não só para compensar a perda da arrecadação, mas para incentivar os investimentos na produção e não na jogatina do mercado financeiro.
Eu sou candidata porque não podemos permitir que eles terminem o desmonte do sistema público de saúde.
Eu sou candidata porque nós acreditamos que não é correto que nenhum LGBT seja morto, executado pelas costas e possa viver plenamente as suas liberdades, porque nós acreditamos que o estado deve servir para que nós pensemos e retomemos o rumo do crescimento da economia. E não para fiscalizar e tutelar os corpos dos brasileiros e brasileiras.
É preciso que o Brasil debata uma reforma de sua segurança que salve e tire milhares de jovens, sobretudo os jovens negros que estão encarcerados e para que nós paremos de perder vidas que são necessárias para que esse país possa ser uma grande nação.”
Lula livre
“Eu sou candidata porque nós acreditamos na necessidade de nos próximos 60 dias não baixarmos a bandeira da defesa da liberdade de Lula, preso injustamente por esse estado de exceção.
O estado de exceção que a periferia, diga-se de passagem, já vivia, se generalizou. De toda essa perseguição, o ponto mais alto é a prisão do ex-presidente Lula. Enquanto estamos aqui em Brasília reunidos, aproveitando o que resta da nossa liberdade de livre organização, o maior líder popular da história do nosso país está encarcerado de forma injusta, sendo inocente.
Como disse durante toda essa pré-campanha: Lula Livre! Todos sabem que Lula está preso porque lidera as pesquisas. Lula está preso porque solto venceria as eleições.
A democracia brasileira está presa naquela cela em Curitiba. Refém de um regime de exceção neocolonial que precisa retirar Lula de circulação para buscar cumprir o seu papel.
É por isso que a nossa pré-candidatura, e agora candidatura, sempre se somou aos gritos de Lula Livre. Para nós, a busca pela liberdade de Lula não representa apenas a liberdade dele, enquanto ex-presidente do Brasil e maior líder popular da nossa história. Representa a luta pela democracia plena, pelo estado democrático de direito.
Do Portal Vermelho
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