A economista ressalta que mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI) está revendo seu conceito sobre a total independência do mercado sobre o Estado, gesto que ganhou celebridade nos anos 80 com as políticas de austeridade de Ronald Reagan e Margaret Thatcher. “Já foi comprovado que tais ações geraram o aumento da miséria e violência urbana, dando margem para discursos fascistas”, destaca.
Lula e o crescimento econômico
Ela classifica como “milagrinho econômico” a política econômica dos governos Lula. “No início do seu mandato, apesar da implementação de diversas políticas sociais, houve a adoção de uma linha mais conservadora para acalmar o mercado. A partir de 2005 ocorrem mudanças significativas. Com o crescimento de diversos setores, verificou-se o aquecimento do mercado interno, culminando na diminuição da desigualdade social na base da pirâmide”, relata.
A economista, que trabalha como consultora de economia do candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, considera que a política articulada no governo Lula tinha diversos desafios, mas optaram pela mudança de foco. “A própria reforma tributária poderia ter contribuído numa maior distribuição de tenda do topo para base, a expansão do investimento público ao invés de desoneração”, comenta Laura.
“Na prática não houve a percepção de que o cenário externo estava virando. O comércio mundial desabou com a crise europeia, e ocorreu a insistência nos mecanismos internos de lucratividade. O erro foi em achar que empresário investe quanto tem taxa de juros maior, quando, na verdade, ele investe por ter demandas, dar crédito esperando um retorno não foi a solução”, examina.
Ao enumerar outros erros cometidos na primeira gestão do governo Dilma, Laura destaca alguns equívocos. “Reduziu-se a taxa de juros muito rapidamente sem criar condições para tal, a inflação acelerou e começou a abocanhar os salários. Além disso, os investimentos são abandonados com o ajuste fiscal de 2011, ajuste esse que foi muito maior do que o realizado 2015”, recorda.
Laura opina sobre as razões de adesão ao discurso de insatisfação com o governo Dilma. “A classe média perdeu participação na média nacional e, quando a desaceleração econômica vem, os conflitos se intensificam, gerando desaprovação do governo da presidenta”, elucida.
Sobre os motivos do declínio econômico brasileiro, intensificado com a ascensão de Temer, a economista frisa o posicionamento limitado da elite brasileira. “Pautar apenas o mercado e projetar intensos cortes sociais geram o caos, uma vulnerabilidade imensa, apenas viabiliza uma ascensão do fascismo e a violência urbana. Quem mais perde hoje com Temer são os trabalhadores que se encontram na escala mais vulnerável da sociedade”, alerta.
Ao enumerar saídas para a crise econômica brasileira, Laura acredita que é necessário promover bom populismo econômico. “Uma economia social, inclusive professores de Harvard defendem essa tese, que seja voltada para as demandas democráticas”, explica.
Ela aponta como chave central para a econômica rever o teto de gastos. “Penso que é necessária uma regra fiscal que seja anticíclica, que permita que o governo invista mais, quando o setor privado está investindo menos, alavancando a econômica dessa crise. Uma opção seria a possibilidade de bandas entorno do superávit primário”, considera.
Na esfera mundial, Laura considera que a globalização está gerando uma espiral pra baixo. “O estado de bem estar social serviu para salvar o capitalismo de si mesmo, caso contrário seria um caos social, violência urbana, miséria, empreendedores nascendo em árvores”, ressalta.
A economista afirma que projeto neoliberal fracassado está sendo revisto em diversos países. “O capitalismo financeiro rentista mantém governos reféns há um bom tempo, mas o próprio FMI o critica do ponto de vista do investimento do capital produtivo”, relata.
Ela acrescenta dizendo que, apesar de o Brasil estar na contramão dessa concepção, no resto do mundo os países estão reconsiderando essas políticas que ganharam notoriedade com o ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan, e a ex-primeira ministra da Inglaterra, Margaret Thatcher. “A própria situação de crise da Argentina mostra que soluções fáceis nunca são as mais corretas”, conclui.
Fonte: Brasil/247
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