Depois de apoiar um impeachment sem crime de responsabilidade – ou seja, um golpe – que colocou Michel Temer no poder, o grupo Globo pressente a queda da “pinguela” e defende que, neste cenário, não ocorram eleições diretas no Brasil; em editorial publicado nesta terça-feira, o jornal O Globo, de João Roberto Marinho, que se aliou a Eduardo Cunha durante o impeachment, diz que “não há motivos para jeitinhos”; no entanto, pesquisas mostram que 63% querem a renúncia imediata de Temer e 91% são contra eleições indiretas, com um novo presidente eleito por um Congresso com mais de 200 parlamentares investigados; contra a vontade popular, Globo defende a eleição indireta e comenta-se que seus candidatos seriam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia; numa pesquisa Datafolha sobre eleições diretas, Lula cresceu e lidera em todos os cenários
A Globo, que apoiou o golpe militar de 1964 e só pediu desculpas 50 anos depois, também foi peça decisiva no golpe parlamentar de 2016, que afastou a presidente Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade e instalou Michel Temer no poder.
Agora, a Globo já pressente a inevitável queda de Michel Temer, mas prepara o chamado “golpe dentro do golpe” – ou seja, a eleição de um presidente biônico por um Congresso em que mais de 200 parlamentares são investigados.
Em editorial publicado nesta terça-feira, O Globo explicita sua posição: é contra eleições diretas em caso de queda da “pinguela”. Ou seja: o jornal da família Marinho não quer que você vote para presidente, embora 63% dos brasileiros, segundo o Datafolha, defendam a renúncia imediata de Temer com eleições diretas (leia aqui). Num levantamento Paraná Pesquisas, 91% são contra a escolha de um presidente pelo Congresso (leia aqui).
Especula-se, em Brasília, que a Globo tenha dois possíveis candidatos para a eleição indireta: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia. Numa escolha pelo voto, Lula desponta em primeiro em todos os cenários (leia aqui).
Abaixo, o editorial contra eleições diretas:
Não há alternativa fora da Constituição
Caso o governo Temer se inviabilize, não há por que inventar soluções quando a Carta prevê todas as possibilidades de escolha de novo presidente
O conteúdo da pré-delação do primeiro dos 77 executivos da Odebrecht a que a imprensa teve acesso faz jus ao apelido de “fim do mundo” que este grande acordo de contribuição premiada ganhou. Divulgados na sexta à noite pelo “Jornal Nacional”, da Globo, fatos relatados pelo ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho, em troca de redução de pena, são mesmo abrangentes e atingem políticos dos partidos mais importantes. Inevitável conjecturar, diante disso, sobre o que poderá trazer o testemunho do próprio Marcelo Odebrecht.
O ex-executivo da empresa jogou estilhaços em Michel Temer, ao confirmar gestões do então presidente do PMDB a fim de obter apoio financeiro da empreiteira a campanhas eleitorais do partido. Não ficou configurada alguma retribuição de Temer, nem o presidente pode ser processado por fatos ocorridos antes do mandato. Mas a simples menção do seu nome no contexto da Lava-Jato o enfraquece e a seu governo, na antessala de votações decisivas para o andamento de reformas sem as quais o país não sairá da crise.
O PMDB do Senado, o núcleo mais forte do partido, também sai avariado do depoimento de Melo Filho. Estabelecem-se vínculos perniciosos entre a liberação de dinheiro da Odebrecht e o recebimento, em troca, de emendas em MPs e a aprovação de projetos de interesse da empresa. O clássico toma lá, dá cá.
Neste ramo, destaca-se o senador Romero Jucá (PMDB-RR), chamado pelo ex-executivo de “o resolvedor da República no Congresso”. Também não escapam o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, e o secretário do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), Moreira Franco. Nem os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Renan Calheiros (AL), o primeiro considerado o sucessor de Renan na presidência do Senado, em fevereiro. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, também foi citado.
A lista é grande, inclui o inevitável Eduardo Cunha, e não livra o PT, representado por Jaques Wagner, Marco Maia (RS) e Antonio Palocci. Por coincidência, na modalidade de compra e venda de emendas a MPs e projetos de lei no Congresso, o ex-presidente Lula e seu filho Luiz Cláudio acabam de ser denunciados pelo MP de Brasília por atuarem nesse comércio subterrâneo. Do lado dos tucanos, fazem parte das delações de Melo Filho o governador Geraldo Alckmin (SP) e o ministro José Serra.
O ecletismo é amplo. E também por isso cresceram especulações sobre o futuro, caso o governo Temer continue a se fragilizar. Como no Brasil há, na vida política, uma conhecida tendência ao salvacionismo, têm surgido fórmulas para a substituição de Temer, como se isto já não estivesse previsto na Constituição. Nada há, portanto, a fazer a não ser seguir as regras que lá estão e em leis correlatas.
Foi assim no impeachment de Dilma Rousseff, sob o acompanhamento do Supremo, avalizador do processo. Caso a gestão de Temer seja interrompida depois do dia 31, quando chega ao fim a primeira parte do mandato no qual ele foi investido presidente, seu substituto será escolhido em eleição indireta, realizada em até 30 dias após ter sido declarado vago o cargo. Pode concorrer todo brasileiro nato, com mais de 35 anos.
Não há, então, motivos para “jeitinhos”. A história brasileira tem exemplos de fracassos no uso desses atalhos. Seguir a Carta é o melhor antídoto contra mais confusões e a defesa eficaz de um mínimo de segurança jurídica, básica em crises desta envergadura.
Brasil 247
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