“Lembro de Marcelo Odebrecht indo ao Jaburu para dizer que queria colaborar com as campanhas do PMDB e que aportaria R$ 10 milhões. O empresário quer entrar pelo Diretório Nacional para que este distribua aos candidatos. A Odebrecht entregou o dinheiro ao PMDB. Depois, eu ouvi uma história de que R$ 6 milhões foram para Duda Mendonça (publicitário) e verifiquei absoluta falsidade. Esses R$ 10 milhões entraram no partido e saíram do partido”, contou Temer.
Sobre o cheque que escancarou a contradição do depoimento de Otavio Azevedo, dono da Andrade Gutierrez, que disse ter pago propina ao PT em forma de doação,mas uma cópia de um cheque da campanha de Temer demonstrou que o o dinheiro da empreiteira foi “doado” a campanha de Temer, o usurpador disse que se sente tranquilo e reafirmou, contra todas as evidências, a separação das contas de sua campanha e das de Dilma Rousseff na chapa vitoriosa em 2014.
“Esse cheque é de uma conta do PMDB, assinado pelo PMDB, nominal à candidatura do vice-presidente. No TSE, não tenho preocupação quanto a isso. Evidentemente, respeito as instituições, se um dia o TSE disser: ‘O Temer tem que sair’. Mas, claro, tem recursos e mais recursos”, afirmou.
A entrevista foi feita por um seleto grupo de jornalistas que apoiaram abertamente o golpe, como Ricardo Noblat, colunista de O Globo; Eliane Cantanhêde, colunista do Estado de S. Paulo; Sérgio Dávila, editor da Folha de S. Paulo; João Caminoto, diretor de jornalismo do Grupo Estado; além de William Corrêa, coordenador geral de jornalismo da TV Cultura.
Temer manteve o discurso contra as manifestações dos estudantes ao criticar as ocupações que protestam contra a reforma do Ensino Médio e a PEC do teto que congela por 20 anos os investimentos públicos. Sem admitir a falta de debate antes de propor a MP, ele tenta culpar os movimentos, ao afirmar que a falta debate e diálogo dos estudantes.
“Admito os movimentos, mas lamento por eles. No nosso tempo de estudante a gente dialogava, chamava pessoas. O que eu vejo hoje são protestos físicos, não há protestos argumentativos, orais. O ministro Mendonça Filho (Educação) veio a mim para dizer que precisávamos fazer essa reforma de qualquer maneira, que a MP ia ensejar o debate. Acabamos de editar e incendiou o país. Aí, veio o esclarecimento. Não é verdade que não houve discussão. E há projetos de lei no Congresso com o mesmo conteúdo e de antes da MP. Se quiserem votar um desses projetos, eu aplaudo”, declarou.
Enquanto critica a falta da “diálogo”, Temer disse que o texto que trata da Reforma da Previdência já está pronto e será encaminhado ao Congresso ainda neste ano, logo após a aprovação da PEC 241.
Questionado sobre o que pensava sobre uma possível anistia dos deputados ao caixa dois — prática que, apesar de ser considerada ilegal, não está claramente previsto na legislação e as punições à prática são feitas com base no artigo do Código Eleitoral que pune diversos tipos de omissão em documentos eleitorais— ele se esquivou, jogando a responsabilidade sobre o Congresso.
“Esta é uma decisão do Congresso, eu não posso interferir nisso. Se eu disser uma coisa ou outra vão dizer que eu estou defendendo”, disse.
Na linha de criar um fato consumado, Ricardo Noblat questionou sobre eventuais convulsões no Brasil, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venha a ter a prisão decretada. Temer, por sua vez, admitiu que isso poderia desestabilizar o país e não seria bom para o seu governo, mas que sua gestão não seria diretamente atingida e prejudicada.
“Se Lula for preso, isso causa instabilidade para o país, porque haverá movimentos sociais de contestação à decisão do Judiciário. Isso pode, sim, criar problemas. Eu não tenho dúvidas”.
Sobre a falta de legitimidade, Temer afirmou que, apesar de não ter o apoio popular, “tenho legitimidade constitucional”. Mesmo com as gravações em que o senador Romero Jucá (PMDB-RR), aliado de longa data, afirma articular o impeachment de Dilma Rousseff para garantir Temer no poder, ele disse que “não fui atrás disso, a Constituição que me trouxe aqui”.
“A chamada legitimidade popular é uma coisa política, não constitucional. Esse vocábulo deveria ser traduzido por ‘impopularidade’. ‘O senhor tem uma impopularidade extraordinária’. Não me incomodo com isso, porque sei que a economia, quando começar a prosperar, quando o Brasil ficar nos trilhos, […] a legitimidade estará tranquila”, declarou.
Ele aproveitou para fazer a defesa de Jucá como líder do governo no Senado, que foi obrigado a se afastar do governo após o vazamento das gravações reveladoras do golpe.
“Não há uma incoerência alguma pelo seguinte: ele não teve a morte política ainda decretada nem a morte civil. Estamos, no Brasil, acostumaos a este fato: se falam de outrem, há a prévia condenação. E o primeiro registro que quero fazer é que o Jucá deixou o governo […] e agora ele está no pleno exercício da atividade política, porque é senador […] e é uma figura capaz de articulação extraordinária”, disse.
Portal Vermelho
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