O deputado José Genoino evitou uma crise política no Brasil. Ao renunciar, hoje, ao mandato de deputado federal pelo PT de São Paulo, ele preservou a Câmara de uma decisão a fórceps, arrefeceu ânimos entre correligionários e adversários e, sobretudo, deu uma lição a seus acusadores. Preso em regime domiciliar temporário na casa da filha, em Brasília, Genoino está proibido de se manifestar publicamente, não pode dar entrevistas e nem escrever artigos. A amigos, porém, expressou o motivo de seu gesto.
– Entre a humilhação e a ilegalidade, preferi a dignidade – é a frase repetida pelos interlocutores do deputado a quem quer saber sobre o estado de ânimos dele.
Genoino evitou que os parlamentares fossem forçados, pela pressão midiática, a cassar um parlamentar sempre citado em todas as listas de mais influentes do Congresso. Os colegas dele, mesmo os das novas gerações, sabem que, ao longo de sua história, o ex-presidente do PT entrou em todos os grandes debates nacionais, da Constituição às eleições diretas para presidente, da cassação do mandato do presidente Fernando Collor à liderança no governo Lula.
No desfecho dramático de uma carreira de 26 anos no parlamento, tempo no qual se destacou como um tipo de deputado dos deputados, sempre dos mais ativos, participativos e assíduos no plenário, na tribuna e nas comissões, Genoino compreendeu os fatos. Se não renunciasse, sem dúvida ele levaria a Câmara presidida por seu amigo e colega de todo período Henrique Alves a ser, literalmente, imprensada entre a mídia tradicional e seus arautos e a consciência coletiva e individual de cada deputado.
Assim, pediu seu afastamento da cena após ter demonstrado o caráter excepcional e persecutório de sua prisão em regime fechado pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa.
Outra coisa que, na Câmara, todos sabem, é que Genoino foi também um dos políticos com menor patrimônio entre todos, dono de uma casa simples num bairro de classe média em São Paulo, apenas. Os motivos para não cassá-lo seriam inúmeros contra, do outro lado, o vozerio dos antigos jornalões e televisões familiares, a pressionar pela degola do homem a ser abatido mais de uma vez.
Na renúncia, Genoino faz um gesto pela pacificação. Sai de cena e se prepara para tentar encontrar alguma paz na prisão à qual foi condenado. Não abriu uma crise que poderia se arrastar por semanas, com todo o ritual processual da Câmara, inflar ânimos e dividir o País, caso esperasse o veredito final na posse de seu mandato popular.
Na mesma medida do atenuar das tensões, o procurador-geral Rodrigo Janot solicitou formalmente ao presidente do STF prisão domiciliar por 90 dias para Genoino, em razão do seu estado de saúde. Barbosa, no entanto, tem em mãos um laudo médico do Hospital Universitário de Brasília, segundo o qual a saúde de Genoino não demanda cuidados especiais em prisão domiciliar.
Será mesmo que Joaquim Barbosa é capaz de tripudiar de quem deixou a cena para cumprir sua pena em silêncio e aplicar-lhe um novo castigo?
Brasil 247
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