Os homens, como bem se sabe, também choram, assim como choram as mães, os filhos, os avós e praticamente todo mundo num momento ou noutro, formando o que o Papa Francisco chamou, na quinta-feira, de um “oceano de desolação”, requerendo misericórdia e compaixão.
O comentário é de Ines San Martin, publicado por Crux, 05-05-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Por esse motivo,Francisco conduziu uma vigília de oração para “enxugar as lágrimas” de todos aqueles que choram.
Entre os grupos que o pontífice mencionou como estando necessitados de consolação especial, estão:
As vítimas cristãs de perseguição, pessoas em perigo iminente de morte e aquelas que sofrem tortura e escravidão ou que estão sujeitadas a experimentos médicos.
Os filhos “que não são amados”, e aquelas pessoas vítimas de abusos, violadas em sua dignidade humana.
As vítimas da guerra, do terrorismo, da violência.
Os doentes, os presos, os deprimidos e ansiosos.
As famílias que perderam um filho, mesmo antes do nascimento, e as famílias forçadas a se separar devido à “injustiça humana”.
O Papa Francisco e os milhares de fiéis reunidos na Basílica de São Pedro nesta quinta-feira tinham lágrimas, e orações, para todas estas pessoas.
“As mais amargas são as lágrimas causadas pela maldade humana: as lágrimas de quem viu arrancar-lhe violentamente uma pessoa querida; lágrimas de avós, de mães e pais, de crianças… Há olhos que muitas vezes param fixos no pôr do sol e têm dificuldade em ver a alvorada dum dia novo”, disse ele.
O pontífice emocionou-se ao escutar as histórias de uma família cujo filho cometeu suicídio, assim como a história de um refugiado político paquistanês perseguido por causa de sua fé cristã.
“Precisamos de misericórdia, da consolação que vem do Senhor”, disse Francisco. “Todos nós precisamos dela; é a nossa pobreza, mas também a nossa grandeza: invocar a consolação de Deus, que, com a sua ternura, vem enxugar as lágrimas do nosso rosto”.
Houve pouquíssimos olhos que não derramaram lágrimas nesta quinta-feira após a Oração Universal – também conhecida como a Oração dos Fiéis– em que as intenções listadas acima estiveram presentes, com o Papa Francisco respondendo a todas elas com uma breve invocação.
Em sua alocução, feita antes da oração, o papa disse que, durante os momentos de tristeza ou doença, ou quando somos vítimas de perseguição, “cada um de nós procura uma palavra de consolação”.
“Experimentamos o que significa estar desorientados, confusos, feridos profundamente como nunca tínhamos pensado acontecer-nos”, disse, acrescentando que nestes momentos “olhamos em redor para ver se encontramos alguém que possa realmente compreender a nossa dor”.
“A razão, sozinha, não é capaz de iluminar o nosso íntimo, compreender a dor que sentimos e dar a resposta que esperamos”, declarou o papa. “Nestes momentos, temos mais necessidade das razões do coração, as únicas capazes de nos fazerem entender o mistério que envolve a nossa solidão”.
No entanto,Francisco disse: “Nesta nossa dor, não estamos sozinhos. Também Jesus sabe o que significa chorar pela perda duma pessoa amada”.
Ele então contou a história evangélica da morte do amigo de Jesus, Lázaro, e das lágrimas derramadas por Maria, irmã do falecido.
“Com esta descrição, o evangelista João quer mostrar como Jesus toma parte na tristeza dos seus amigos e Se solidariza com o seu desconforto”, falou Francisco.
Essa passagem sobre as lágrimas de Jesus, acrescentou o papa, tem embaralhado muitos teólogos ao longo dos tempos, mas também “lavaram tantas almas, aliviaram tantas feridas!”.
Para o papa, o fato de que o próprio Deus chorou mostra que todos podemos chorar também.
“O pranto de Jesus é o antídoto contra a indiferença” diante do sofrimento dos outros, disse Francisco. Segundo o papa, as lágrimas igualmente apresentam-se como um testemunho do consolo que a oração traz em momentos de “confusão, desânimo e lágrimas”.
O pontífice argentino tem falado tanto do poder de choro que alguns analistas até mesmo dizem de uma “teologia das lágrimas” de Francisco.
Em 2013, na missa para a Festa da Exaltação da Santa Cruz, o papa desafiou os católicos a ficarem cara a cara com a miséria humana, como um modo de compreender plenamente a Crucificação de Jesus.
O mistério da Cruz, disse ele à época, somente pode ser entendido “através da oração e das lágrimas”.
No começo daquele ano, enquanto visitava a ilha italiana de Lampedusa, o papa instou o mundo a chorar pelos milhares de migrantes que morrem ao tentar chegar até a Europa pelo mar.
“Quem chorou pela morte destes irmãos e irmãs?”, perguntou Francisco durante uma homilia na ocasião. “Quem chorou por estas pessoas que vinham no barco? Pelas mães jovens que traziam os seus filhos? Por estes homens cujo desejo era conseguir qualquer coisa para sustentar as próprias famílias?”
A globalização da indiferença, disse ele, “tirou-nos a capacidade de chorar”.
Nesse mês de abril, no trajeto de volta a Roma depois de uma visita de cinco horas à ilha grega de Lesbos, onde esteve com milhares de refugiados, o papa disse a jornalistas que as situações que ele encontrou “são de fazer chorar”.
Nessa viagem, ele saudou mais de 200 crianças, muitas das quais lhe deram desenhos, os quais levou para Roma, dizendo a uma criança que ele queria colocar o seu desenho sobre sua mesa.
As produções das crianças retratavam pessoas saltando ao mar depois que os seus barcos viravam e muitos outras experiências traumáticas que elas tiveram. Ao mostrar um desenho que tinha um sol a chorar,Francisco disse: “Se o sol é capaz de chorar, também a nós faria bem uma lágrima”.
“A nós faria bem uma lágrima”, insistiu.
Embora as fotos mostram ele geralmente a sorrir, fazendo aos fiéis na Praça de São Pedro um sinal de positivo, ou com um olhar solene ao celebrar a missa,Francisco tem derramado lágrimas em público também.
Em 2014, por exemplo, o pontífice chorou depois que um padre partilhou a sua história dos anos que passou na prisão, nas mãos do regime comunista albanês.
Fonte: IHU – Instituto Humanitas Unisinos
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