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Catador de material reciclável: um agente ambiental socialmente excluído

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Por Juliana Silva*

O catador de material reciclável é considerado um importante agente ambiental ao aumentar o índice de coleta seletiva no Brasil, dando andamento a uma cadeia sustentável com a possibilidade de reaproveitamento e reciclagem de produtos inutilizados. Somente em 2013, segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil gerou 76.387.200 toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos, o que representa um aumento de 4,1%, índice maior que a taxa de crescimento populacional no País.


Crédito: institutobrookfield.org.br

Imaginemos as cidades sem os catadores de material reciclável? Ainda segundo a Abrelpe, 62% dos 404 municípios pesquisados registraram alguma iniciativa de coleta seletiva, embora muitas delas resumem-se à disponibilização de pontos de entrega voluntária ou convênios com cooperativas de catadores.

Segundo a Cooperativa Cooperglicério, de São Paulo, os catadores podem chegar a carregar em média meia tonelada de material reciclável por dia, expondo-se aos mais diversos riscos. Um dos exemplos está na etapa de separação dos materiais coletados devido a geração de chorume e ao contágio de inúmeras doenças. O índice de cortes e prensamentos de membros são altíssimos e faltam equipamentos básicos de proteção, como luvas e botas de borracha.

Um dos grandes temas do desenvolvimento sustentável é a responsabilidade compartilhada do ciclo de vida dos produtos. Trazida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos objetiva explicitamente a inclusão social dos catadores, ao mesmo tempo em que investimentos são concedidos mediante esta inclusão através da logística reversa.

É claro que a informalidade do setor é um dos entraves. Segundo a pesquisa Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável, 2013, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o problema da informalidade também impacta quando consideramos o risco à saúde destes trabalhadores, uma vez que estão desguarnecidos de qualquer seguro social para o caso de algum acidente ou doença que lhes impossibilite de trabalhar por um período.

Encontra-se aí uma oportunidade para as empresas investirem na sustentabilidade de sua cadeia produtiva. Envolver os catadores de material reciclável em programas de logística reversa ou de capacitação de fornecedores são importantes ações a serem tomadas. Ainda segundo o IPEA, os catadores estão em primeiro lugar entre os principais atores que participam de uma ou mais etapas do processo de geração de valor da cadeia de reciclagem. Por outro lado, o Instituto destaca que, por sofrerem de uma infinidade de carências sociais e econômicas, constituem a parte mais frágil da cadeia, mesmo sendo responsáveis por quase 90% de todo o material reciclado no Brasil.

Estímulos e exemplos começam a surgir com mais velocidade. Precisamos agora colocar em prática o discurso para minimizar a lógica perversa para essas quase 1 milhão de pessoas que se consideram catadoras de material reciclável. São necessárias pesquisas e informações sobre as cadeias produtivas que contam com esses profissionais. Ferramentas existem para se encontrar o equilíbrio ideal entre os benefícios prestados por estes profissionais e os direitos que possuem.

*Juliana Silva é gerente de Socioecoeficiência da Fundação Espaço ECO®.

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