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Renato Rabelo e Ricardo Abreu: 70 anos da vitória sobre o nazifascismo

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No dia 9 de maio de 1945, na Berlim ocupada pelo Exército Vermelho, os nazistas assinaram sua capitulação perante a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – dirigida pelo Partido Comunista da União Soviética –, pondo fim à 2ª Guerra Mundial, ou Grande Guerra Patriótica segundo a tradição dos povos soviéticos.

Por Renato Rabelo e Ricardo Alemão Abreu*

Arquivo histórico

Era a vitória dos aliados contra o eixo nazifascista, com destaque ao particular protagonismo soviético, que resistiu às mais duras batalhas ao custo de mais de 27 milhões de vidas ceifadas nos países da União Soviética. A vitória da União Soviética sobre o imperialismo alemão, tendo como protagonista o Exército Vermelho, significou a resistência de um povo frente ao agressor estrangeiro, mas também representou que o socialismo derrotara o nazismo e o fascismo e que a sina da libertação dos povos trazia aos céus o brilho da estrela vermelha.

Contudo, passados 70 anos da data em que a bandeira vermelha da foice e do martelo foi estendida sobre o Reichstag alemão, a ameaça de uma nova Guerra Fria volta a pairar sobre as relações internacionais. O imperialismo dos Estados Unidos e seus aliados da Otan voltam a ameaçar a paz mundial, e por isto todas as lições aprendidas com os fatos que caracterizaram o antes e o depois da 2ª Guerra Mundial merecem ser cuidadosamente estudadas.

O PCdoB saúda esta data como um evento a ser celebrado não apenas pelos russos, mas por todos os comunistas e povos que resistiram ao nazismo e ao fascismo.

O papel decisivo da União Soviética na derrota do nazismo

A 2ª Guerra Mundial deve ser compreendida como um dos mais importantes episódios da luta anti-imperialista no século 20.

Depois de uma efêmera euforia econômica com o fim da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), no ano de 1929 estourou uma crise que levou à ruína a economia de muitos países capitalistas e que caracterizaria a década de 1930 como um período de radicalização da luta de classes. Nos países capitalistas da Europa e nos Estados Unidos, o desemprego alcançava enormes cifras, a inflação corroía a renda do trabalhador e, à medida que o proletariado mobilizava-se em favor de seus direitos, crescia a repressão policial e as ideologias de extrema direita proliferavam. A derrota das forças republicanas na Espanha e a ascensão de Mussolini na Itália e de Hitler na Alemanha representaram um retrocesso ao movimento comunista.

Não tardaria para o nazifascismo – fenômeno político chamado por Jorge Dimitrov, no 7º Congresso da Internacional Comunista, de reposta terrorista do grande capital financeiro contra a ascensão dos movimentos operários e populares – mostrar sua crueldade autoritária e racista, realizando extermínios em massa contra judeus, comunistas, ciganos, eslavos, imigrantes e toda a sorte de pessoas condenadas por sua ideologia reacionária, terrorista e criminosa. O anticomunismo é uma das principais características do fascismo.

Enquanto nos países capitalistas a fome, a miséria, a pobreza e o analfabetismo eram as marcas da crise econômica, na União Soviética edificava-se pela primeira vez na história um sistema mais avançado que o capitalismo: o socialismo.

Os anos de 1930 caracterizaram-se pelo crescimento da economia a níveis nunca antes observados com desenvolvimento e modernização das forças produtivas. A agricultura passava a ser coletivizada com o estabelecimento dos kolkhozes que colaborariam para a erradicação da fome no país e serviriam para garantir o abastecimento da população e das forças armadas durante a 2ª Guerra Mundial. A produtividade agrícola aumentava com a introdução de modernos tratores e novos equipamentos para o cultivo no campo. A infraestrutura urbana, de geração e distribuição de energia, exploração de gás e petróleo, e a construção de portos, ferrovias, hidrovias e ferroviais receberam altos investimentos estatais. A indústria pesada e de base batia recordes sucessivos na produção de matérias-primas e insumos industriais, e o país já conseguiu ser autossuficiente em produtos de primeira necessidade. A indústria de defesa fora reequipada com a construção de fábricas de tanques, artilharias e aviões e o Exército Vermelho foi adequado às novas condições de ameaça de uma agressão nazifascista.

Em poucos anos pequenas cidades tornaram-se grandes polos industriais, com destaque para Stalingrado, construída às margens do Rio Volga. A União Soviética da década de 1930 mostrava ser possível construir uma economia socialista moderna, avançada e planificada, ordenada pelos Planos Quinquenais que orientavam as metas do projeto de desenvolvimento nacional, sob controle do Estado proletário. Em outras palavras, não fosse a Revolução de Outubro de 1917, que completa 100 anos em 2017, a Rússia e os países vizinhos teriam sido derrotados pelos invasores nazistas e a História teria sido outra.

Mas o sucesso do avanço soviético era um pesadelo para as ideologias extremistas de direita, em particular para o nazismo alemão. Hitler desejava a todo custo eliminar a construção do socialismo na União Soviética e ao mesmo tempo escravizar os povos eslavos baseando-se no discurso racista do nazismo. Em 22 de junho de 1941, os nazistas invadiram as fronteiras soviéticas e chegaram às portas de Moscou onde foram rechaçados pela resistência, obrigando-os a recuar. A nova estratégia nazista passava pelo controle de Stalingrado, onde em julho de 1942 teve início a mais cruel e violenta batalha de toda a guerra. Cada cômodo, cada casa, cada fábrica, cada quarteirão e cada bairro da cidade foi disputado numa batalha corpo a corpo. Ao custo de milhões de vidas, em 2 de fevereiro de 1943, Stalingrado foi declarada libertada.

Os soviéticos também resistiram na Batalha de Kursk em 1943 e ao violento cerco a Leningrado entre 1941 e 1944. A partir de então, o Exército Vermelho pôde marchar ao oeste libertando cada povo oprimido pelo nazismo. Foram libertadas a Ucrânia, a Letônia, Estônia, Lituânia, Bielorrússia e Moldávia, e em seguida a Polônia, Romênia, Bulgária, Hungria e Tchecoslováquia. Em todos esses países, os campos de concentração nazistas, onde eram promovidos extermínios em massa de pessoas inocentes, foram desmantelados e os prisioneiros libertados pelo Exército Vermelho, com destaque para o de Auschwitz, em janeiro de 1945.

Entre abril e maio de 1945, ocorreu a última batalha soviética da 2ª Guerra Mundial em território europeu. Conforme o Exército Vermelho avançava sobre a capital do Estado nazista, Hitler suicida-se no dia 30 de abril e no dia 9 de maio de 1945, os alemães aceitam a rendição perante os soviéticos. Em agosto de 1945, as forças soviéticas ainda venceriam o Japão na China e no norte da Coreia, encerrando sua participação militar no conflito.

No campo político, as conferências de Teerã (novembro de 1943) e Ialta (fevereiro de 1945), com a participação dos líderes aliados Churchill (Reino Unido), Roosevelt (Estados Unidos) e Stálin (União Soviética), além da conferência realizada em Potsdam (julho de 1945), definiram as ações conjuntas e o desfecho do conflito. Logo em seguida, os Estados Unidos lançariam, desnecessariamente – uma vez que já havia uma clara vitória militar dos aliados – sobre Hiroshima e Nagazaki as bombas atômicas para prenunciar a “Guerra Fria” anticomunista que seria consumada em 1947 com a apresentação da Doutrina Truman.

Do ponto-de-vista militar, o Reino Unido e a França tiveram pouco papel no desfecho da guerra e os Estados Unidos só viriam a ter uma presença militar importante na Europa após 6 de junho de 1944, quando invadiram a Normandia. Portanto, de 1941 a 1945, coube ao Exército Vermelho em nome da União Soviética, a resistência e a reviravolta sobre o nazismo. Por mais que os Estados Unidos procurem reescrever a história com filmes e livros que reduzem a importância soviética e supervalorizam seu papel no conflito, o que de fato ocorreu é que jamais a 2ª Guerra Mundial teria sido vitoriosa pelos aliados se não fosse o papel do país socialista e de sua liderança revolucionária na elaboração da estratégia de guerra e no heroísmo de seus soldados no campo de batalha.

A resistência antifascista em outros países e continentes

A luta contra o nazi-fascismo também ocorreu em outras dezenas de países do mundo, nos quais outros milhões de civis e combatentes deram suas vidas e se sacrificaram pela vitória alcançada há 70 anos. Nesses países, inclusive na própria Alemanha, as forças democráticas, e especialmente os Partidos Comunistas, lideraram uma resistência operária e popular que assumiu múltiplas formas, inclusive a luta guerrilheira, como aconteceu em vários países europeus ocupados pelos nazistas como a França, a Grécia e a Itália.

Na Ásia os povos lutaram contra as agressões do Japão militarista, que invadiu e ocupou muitos países na região. Na resistência armada contra os invasores, tombaram milhões de mártires, particularmente da China, principal campo de batalha asiático. Essa resistência debilitou o poderio militar do Japão imperialista, um dos países do eixo nazifascista, e também contribuiu para a vitória dos aliados.

Em muitos países da América Latina e de outros continentes houve mobilizações de massa antifascistas, parte delas clamando para o envio de tropas para lutar na Europa contra os nazi-fascismo. Foi o caso do Brasil, que teve um importante papel na II Guerra Mundial com a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que contou com mais de 25 mil soldados, metade deles, dos “praças”, formada por civis voluntários. A FEB foi vitoriosa na batalha de Monte Castelo na Itália, a qual abriu o caminho para a conquista do país pelos exércitos aliados. A presença brasileira no conflito ao lado dos aliados deu-se por uma decisão de Vargas, tomada sob grande pressão popular das ruas, com destacada presença do Partido Comunista do Brasil.

As lições da 2ª Guerra Mundial para os tempos atuais

A vitória soviética na 2ª Guerra Mundial representou extraordinários avanços libertadores e civilizacionais, além de um grande alento ao movimento comunista internacional. Por todo o mundo, celebrava-se o fim do conflito e crescia a admiração e o respeito pelos líderes políticos da União Soviética. Foi um período de ascenso das lutas de massas em todo o mundo. A vitória de 9 de maio de 1945 alterou a correlação mundial de forças a favor dos trabalhadores e dos povos, e impulsionou os movimentos de libertação nacional e a descolonização. Foi criada a Organização das Nações Unidas, com uma carta pacifista.

Os comunistas e as forças políticas revolucionárias, e todo o campo político democrático e progressista ganharam força e projeção. Os Partidos Comunistas ganharam enorme prestígio e cresceram, passando a jogar um papel político maior em muitos países. No Brasil as consequências diretas foram a legalização do Partido Comunista do Brasil, a conquista de 200 mil membros em poucos meses, e a eleição de 15 deputados e 1 senador, Luis Carlos Prestes, como o mais votado do país em 1945.

Contudo, com o anúncio dos Estados Unidos de que uma nova doutrina estratégica anticomunista pautaria as relações internacionais deste país, teve início um difícil e cruel período de perseguições às forças revolucionárias em todo o mundo. A “Guerra Fria”, representada pela corrida armamentista e a paranoia anticomunista, havia começado e o perigo de um conflito nuclear colocava em risco a própria existência da humanidade.

O fim da União Soviética em 1991 representou para a Rússia um retrocesso geopolítico sem precedentes. Diversas ex-repúblicas soviéticas e ex-países socialistas do Leste europeu passaram a integrar a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e a Rússia entrou em decadência e perdeu muito de seu prestígio internacional. Sob a presidência de Putin, a Rússia fortaleceu seu poder econômico e diplomático, e reestruturou suas forças armadas.

No momento em que comemoramos 70 anos do “Dia da Vitória” da URSS e dos povos contra a guerra imperialista, há novos conflitos em curso e novas sérias ameaças à paz mundial, e o fascismo e o anticomunismo voltam a crescer, com antigas e novas formas. Tal qual nos anos 1930 e 1940, o grande capital financeiro e as potências imperialistas tentam encontrar uma “saída” para a crise do capitalismo que mantenha e amplie seu domínio ideológico, político e econômico, e contenha ou destrua os Estados independentes e as forças operárias e populares que contrariam seus interesses, especialmente os comunistas e revolucionários.

Em uma situação de crise mundial do capitalismo, com os Estados Unidos e a União Europeia em dificuldade econômica, a guerra e a corrida armamentista voltam a ser exploradas pelo imperialismo como formas de manter e a sua dominação e recuperar o crescimento com vultuosos investimentos bélicos. Assim, países vizinhos da Rússia ou com os quais a Rússia tem cooperação militar passam a ser atacados como a Síria, a Geórgia e a Ucrânia. A Otan ameaça seguir com o processo de cerco à Rússia, incorporando novos países outrora soviéticos ao projeto do Escudo Antimísseis.

O golpe de Estado na Ucrânia em fevereiro de 2014, articulado e financiado pelos Estados Unidos, trouxe forças políticas assumidamente nazistas ao governo de um país europeu pela primeira vez desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Isto sem dúvidas representou uma ameaça aos povos e às forças comunistas e de esquerda de todo o mundo, e à segurança internacional. Os Estados Unidos e a União Europeia baixaram pesadas sanções contra a Rússia, e ampliou-se a resistência antifascista em Donetski e Luganski contra o governo Kiev, uma aliança entre a direita e os neonazistas da Ucrânia.

Diante dessas ameaças dos Estados Unidos e da Otan, a Rússia reviu sua política externa e de defesa, e formalizou uma aliança com a China, fortaleceu o papel do Brics na construção de uma nova arquitetura financeira global, e criou a União Eurasiática ao lado de Bielorrússia, Quirguistão, Cazaquistão e Tadjiquistão. Contudo, os Estados Unidos, a União Europeia e a Otan parecem estar dispostos a seguir com seus planos de ameaças e ataques, o que pode levar a novos conflitos e guerras de dimensão imprevisível.

O PCdoB, portanto, saúda o aniversário de 70 anos da vitória da União Soviética socialista sobre o imperialismo alemão e, ao mesmo tempo, convoca seus militantes a travarem o debate ideológico e intelectual acerca do papel soviético nesta guerra, enfatizando os riscos do revisionismo histórico que procura superdimensionar o papel dos Estados Unidos ou diminuir a dimensão dos crimes cometidos pelo regime nazista.

Denunciemos as ameaças atuais de novas guerras imperialistas. Lutemos contra o fascismo contemporâneo e para que jamais volte a acontecer uma guerra mundial imperialista. Abramos caminho para novas vitórias e para o socialismo no século 21, grande aspiração dos trabalhadores e dos povos.

Viva o 9 de maio de 1945, dia da vitória da União Soviética socialista sobre o nazifascismo!

Glória eterna aos milhões de soldados que tombaram e resistiram nesta missão pela Humanidade!

Viva o socialismo e a história libertadora da União Soviética!

Continuemos e intensifiquemos, no século 21, a luta anti-imperialista e pela paz mundial!

*Renato Rabelo é presidente Nacional do PCdoB e Ricardo Alemão Abreu é secretário de Relações Internacionais do PCdoB

Portal Vermelho

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