“Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao colocar minha candidatura à apreciação interna da minha Bancada, eu não o fiz para confrontar o meu Partido, mas para ter a oportunidade, democraticamente, de disputar uma função que me desse condições de me colocar diante de novos desafios.
Tenho 30 anos de vida pública, três mandatos de Deputada Federal. Fui Secretária Nacional de Assistência Social no primeiro governo Fernando Henrique. Fui a responsável por formatar a nova Política Nacional de Assistência Social do País, baseada na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas). Implantei o chamado Benefício de Prestação Continuada ou Benefício Loas, que destina um salário mínimo para os idosos e para as pessoas com deficiência. Formatei a Política Nacional do Idoso e ainda tive a grata oportunidade de criar e de colocar em funcionamento o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), o primeiro programa de transferência de renda do Governo Federal, quatro vezes premiado pelo Unicef.
Estou há 12 anos no Senado, ocupando funções que me foram delegadas pelo Partido. Por três vezes, tentei participar da Mesa Diretora, sem sucesso. Não sou uma pessoa dada ao confronto, mas sou exigente em relação às atribuições que me foram conferidas pelas urnas. Os meus eleitores não me colocaram aqui para ser uma Senadora submissa e subserviente. Não foi com desconfiança que o povo goiano votou em mim como a primeira mulher a representá-lo na Câmara Federal como Deputada Constituinte. Não foi por mero conformismo que o mesmo povo goiano me elegeu a primeira mulher Senadora, proporcionando-me ainda uma honrosa reeleição.
Estou aqui, como muitos dos meus Pares, inquieta, para não dizer inconformada, com a divisão das atribuições que é feita nesta Casa pelos dirigentes partidários. Temos de romper com a ditadura dos partidos e dar oportunidade para aqueles que queiram disputar e discordar, para que façam seus questionamentos. Somente assim vamos ter um rodízio e dar oportunidade para o surgimento de novas ideias, de novos compromissos e de novas práticas, vamos descobrir talentos desconhecidos e ignorados, vamos mudar a prática política dos conchavos e das conveniências.
Querem desacreditar a minha atitude, pondo em suspeição o meu voto para o cargo de Presidente desta Casa. Ao longo da minha vida pública de 30 anos, sempre fui respeitada pela coerência, pela ética, pela sinceridade e pela credibilidade. Credibilidade é um patrimônio de que não abro mão.
O sentimento que me toma neste momento é de profunda tristeza. Fui submetida, sem aviso prévio, de forma intempestiva e incisiva, a uma situação vexatória. Expuseram-me impiedosamente a toda a Bancada do PSDB, à imprensa nacional, ao meu Estado e a esta Casa, com o descredenciamento da minha palavra, com o desprestígio da minha credibilidade. Reduziram em minutos, sem nenhum pudor, 30 anos de dedicação exclusiva e irrepreensível à vida pública a um nada, como se um mero episódio de escolha de cargos administrativos desta Casa tivesse importância suficiente e chegasse ao ponto de manchar toda uma trajetória política.
Não, Sr. Presidente. O povo de Goiás não merece isso. Este mandato que honrosamente exerço é maior do que isso.
Exerci, na legislatura passada, um cargo de confiança da Presidência: a Ouvidoria-Geral do Senado. Procurei exercê-lo com a maior lisura e isenção. No início da atual legislatura, fui informada de uma chapa opositora ao atual Presidente. Consultaram-me se poderiam colocar o meu nome na chapa como candidata a 1ª Secretária. Pedi tempo para comunicar ao Presidente Renan que não poderia votar nele, porque as circunstâncias exigiam que eu fortalecesse a posição do meu Partido, que foi detentor de 51 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais. Portanto, o meu voto seria de Luiz Henrique, seguindo a orientação partidária. Fui ao Senador catarinense e garanti a ele o meu voto. E assim o fiz, com a certeza de que aqueles que conhecem o meu comportamento nesta Casa sabem da veracidade da minha afirmação.
Percebo, Sr. Presidente, por força dos desdobramentos desse episódio, que a reforma política precisa urgentemente passar por esta Casa, para que possamos voltar a acreditar em cada um de nós. O que está em jogo são a credibilidade e a estabilidade das instituições democráticas.
Por tudo o que aqui expus, somam-se ainda diversos outros episódios de desprestígio político-partidário que, em última análise, têm afetado o próprio exercício do mandato que o povo goiano me conferiu.
Sinto ser o meu dever continuar a lutar por Goiás, como o tenho feito há mais de três décadas. Não pretendo, de forma intempestiva, através desta decisão, deixar o mandato que me foi outorgado de maneira tão expressiva, pela segunda vez, como Senadora, e outras três vezes como Deputada Federal, tendo sido, inclusive, Deputada Constituinte. Mas estou disposta a buscar caminhos que possam me deixar mais confortável, que possam valorizar o trabalho de uma pessoa que dedicou sua vida pública inteira a favor do nosso povo, a favor do nosso País.
Talvez, a coisa mais importante e mais bonita da minha trajetória política de 30 anos é poder olhar de frente para todos os meus pares e dizer a eles que, nesses 30 anos, trabalhei incessantemente, trabalhei com raça, trabalhei com força. Posso, sem nenhuma modéstia, dizer que o Estado que represento, o Estado de Goiás, não teve nenhum Senador que pudesse levar àquele Estado os compromissos, os recursos que ele recebeu.
Portanto, eu não poderia deixar de vir a esta Casa, que me respeitou durante todo esse período, para dizer que eu não posso, de forma nenhuma, aceitar a forma sutil, rasteira e muito cruel que fizeram comigo durante esta semana. Eu quero dizer aos senhores que vou continuar a minha luta, mas vou continuar a minha luta ao lado daqueles que acreditam que ainda neste País se pode fazer política com dignidade, com raça, com coragem e, acima de tudo, com a palavra dada.
Os senhores podem atestar nos painéis desta Casa que nunca, nenhum voto meu foi no sentido de desobedecer ou trair o meu Partido. Tive a confiança do Presidente Fernando Henrique. Procurei fazer o melhor de mim. Sempre estive ao lado daqueles que mais precisam e desfruto hoje no meu Estado, o Estado de Goiás, do respeito da maioria do meu povo. Fui eleita com 1,5 milhão, fui reeleita com mais 1,5 milhão, fui três vezes Deputada Federal, fui Secretária Nacional de Assistência Social, responsável por toda a modernização da política social deste País.
Portanto, não posso, de forma nenhuma, agir ou deixar de agir neste momento. Peço aos meus pares que confiem na minha palavra, que confiem na minha seriedade e que, acima de tudo, façam com que esse episódio não venha a se repetir com outras, que poderão, como eu, ficar desiludidas da vida política.
Muito obrigada, Sr. Presidente.
O Sr. Cássio Cunha Lima (PSDB – PB) – Senadora Lúcia Vânia.
A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB – GO) – Quero dizer ao senhor que, mesmo buscando caminhos, eu, Sr. Presidente, tenho o compromisso de dar o melhor de mim para esta Casa, para que ela seja motivo de orgulho de todos os brasileiros e, especialmente, do povo do meu Estado de Goiás.
Quero avocar o testemunho de V. Exª. Na Ouvidoria, que V. Exª confiou a mim, eu procurei reformular, eu procurei fazer daquele instituto um instituto respeitado, um instituto que pode oferecer a esta Casa uma das ouvidorias mais modernas do Legislativo brasileiro.
Portanto, agradeço a V. Exª, Senador Renan Calheiros, a confiança que V. Exª depositou em mim. Continua tendo a minha confiança, e V. Exª sabe, mais do que nunca, que o meu voto, embora tenha toda a gratidão a V. Exª, não foi de V. Exª.
Muito obrigada.”
STF condena mais 14 réus pelos atos antidemocráticos que recusaram acordo com o Ministério Público…
Nota: Bolsonaro deve explicações ao Brasil, além de pagar pelos seus crimes Punição para todos…
20 de novembro: Um chamado à luta por espaços de poder e representatividade É essencial…
Boletins de crimes raciais crescem 968,5% em SP, aponta relatório Ouvidoria das Polícias estadual…
Plano para assassinar Lula foi discutido na casa de Braga Netto, diz Cid PF…
Mercado de trabalho, a evidente discriminação e desigualdade racial É preciso desenvolvimento com valorização…