Com campo realizado na própria segunda-feira 20 em que foi divulgada, a pesquisa Datafolha pegou, no quente, o impacto no eleitorado das cenas de pugilato político entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves nos dois debates presidenciais mais recentes. Em ambos, a petista e o tucano trocaram tanto chumbo quanto puderam.
O levantamento também foi feito após uma semana de ataques do PT à figura do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, nomeado pelo candidato tucano para o futuro Ministério da Fazenda. Tanto quanto, apurou como chegou ao público a estratégia de desconstrução executada diretamente contra Aécio. Do teste não realizado do bafômetro à não aplicação de verbas constitucionais mínimas no setor de Saúde de Minas Gerais, o armário de munição dos petistas foi aberto contra ele.
Em sua defesa, o tucano, sem pestanejar, acusou Dilma, bem mais de uma vez, de “mentirosa” e “leviana”, olhos nos olhos da presidente, em rede nacional no debate do SBT. Dos detalhes ao quadro mais geral, tudo o Datafolha procurou captar na pesquisa feita e divulgada hoje – e deu Dilma.
O quadro de empate técnico, traçado tanto na diferença de 46% das intenções de voto para Dilma contra 43% a favor de Aécio e, especialmente, na projeção dos votos válidos, na qual a presidente abre quatro pontos sobre o senador, é diferente agora. Na semana passada, a pesquisa foi uma repetição, em todos os seus grandes números, da apuração anterior, do mesmo Datafolha. Desta vez, a estabilidade foi trocada por uma virada de Dilma, na mesma metodologia. Um resultado e tanto – e incontestável.
Na geopolítica, o Nordeste está dando uma vitória, segundo o Datafolha, de 70% sobre 30%, para Dilma, e estreitamento da diferença a favor de Aécio no Sudeste.
DESCONSTRUÇÃO FUNCIONOU – Numa retomada que só pode ser atribuída em partes iguais ao trabalho de desconstrução contra Aécio, bem como uma melhor apresentação dos resultados do governo no horário político, Dilma sai fortalecida. A presidente galgou três pontos sobre seu resultado anterior, e viu seu adversário perder dois. Na conta dos votos válidos, a candidata à reeleição ficou a apenas um ponto de abrir cinco de diferença, superando o quadro, ainda existente, de empate técnico. Bom para ela, o placar dos votos válidos marcou 52% contra 48%. Ponha-se no lugar de quem está atrás e sinta se a expressão ‘empate técnico’ lhe transmite sensação de vantagem ou segurança.
Desde a contagem dos votos do primeiro turno, Aécio, corretamente, vocalizou o discurso de que ter-se tornado, ali, mais que ‘um candidato de apenas um partido, mas de toda a oposição’. A campanha baseou a estratégia na vantagem do tucano, que, de fato, chegou a ser mostrada em até 17 pontos numa pesquisa que, também efetivamente, está sendo acusada de fictícia pelo PT, na Justiça Eleitoral. O certo é que o clima foi criado. Como tem apontado 247, a definição desta duríssima eleição estará nos detalhes. Será que discurso do favoritismo soou como um certo salto alto?
Por outro lado, em coisa não superior a dois pontos, Dilma viu sua avaliação de governo descer dois pontos percentuais, de 22% para 20% dos que avaliam sua administração como ‘péssima’. Regular e Ótimo e Bom subiram um por cento cada um. Um viés de alta pela soma de detalhes, que ganham importância em razão do tempo: a eleição acaba no próximo domingo, às 17h00.
O Datafolha aprofundou na campanha tucana a surpresa no PSDB ocorrida diante, horas mais cedo, da pesquisa CNT/MDA. Nela, com 50,5% contra 49,5% para Aécio, Dilma foi vista na frente pela primeira no segundo turno. Após a pesquisa do Datafolha veio a sondagem do Vox Populi confirmando os números, reforçando a dianteira de Dilma.
A novidade foi tão inesperada pelo comando do PSDB que, no horário político desta mesma segunda 20, o programa de Aécio Neves foi aberto com os números do Datafolha da semana passada. O ator que representa o eleitor de Aécio agradeceu o apoio dado a ele. Pelos mesmos motivos, caberá, agora, reconhecer o espaço perdido para a concorrente.
APOIOS DE FORÇA RELATIVA – Outra apuração significativa do Datafolha é sobre os efeitos, pró-Aécio, da série de apoios políticos que ele recebeu. Do PPS de Roberto Freire à velha dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano, na estratégia de apostar em artistas para angariar simpatia popular, Aécio conseguiu, por seus méritos de articulador, juntar simplesmente todos os que são contra o PT. Vieram o PV, o PSC, o PSOL ficou no muro, mas Marina Silva desceu dele, com cabelos soltos e imagem jovial recuperada. A julgar pela frieza da pesquisa, porém, todas essas festas de adesão não foram suficientes para fazer Aécio manter sua posição anterior, quanto mais para abrir frente. Talvez a enxurrada de novos apoiadores tenha colado nele o carimbo de ser igual a ‘tudo o que está aí’ – e, assim, encarnar menos o sentimento de mudança.
A correção de rota, para Aécio voltar a deter o favoritismo, tem dois balizadores. Um deles é o tempo. Faltando seis dias para a eleição, com apenas mais um debate pela frente e três programas eleitorais, o senador tucano tem um espaço importante, mas ao mesmo tempo exíguo, para dar sua volta por cima.
A repetição de que a presidente está assacando ‘mentiras’ e sendo ‘leviana’ contra ele não está, ao que se vê pelos números, dando resultado esperado. Até aqui, ao menos, não deu. Apesar de colunistas da mídia tradicional terem visto um nocaute de Dilma, debaixo dos murros de Aécio, no debate do SBT, o grande público parece ter visto diferente. Sem buscar essa posição, até porque também estava na ofensiva, a presidente pode ter sido vitimizada – e obtido a solidariedade feminina.
Ao mesmo tempo, o ex-presidente Lula se encarregou de trazer à pauta questões como o teste do bafômetro que o candidato tucano se recusou a fazer no Rio de Janeiro, durante uma blitz em 2011, e baixou a sapata, em discurso em Minas Gerais, chamando-o de ‘filhinho de papai’ e ‘vingativo’.
Segundo o Datafolha, os dados todos desse caldeirão resultam, neste momento, em vantagem, pequena mas com viés de alta, para a presidente Dilma Rousseff. Significa que, em tese, a estratégia que o PT vem empregando – goste-se dela ou não – está dando os resultados pretendidos. Quem tem de se mover para fazer do vira um vira-vira é o adversário tucano.
Brasil 247
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