Por Umberto Martins, para o Portal Vermelho
Estima-se que cerca de 100 mil militantes estiveram envolvidos na mobilização, que também recolheu assinaturas para o projeto de lei de iniciativa popular que promove a reforma política e proíbe o financiamento privado de campanha. O ex-presidente Lula, artistas e até candidatos à Presidência, além de lideranças populares, votaram. Foi uma mobilização massiva, que ecoou as manifestações de junho e corresponde a um clamor das forças progressistas e do povo.
Um silêncio eloquente
Os grandes meios de comunicação, monopolizados por meia dúzia de famílias burguesas, simplesmente silenciaram. É um silêncio eloquente, que muito nos diz sobre a natureza de classe e o caráter ideológico desta mídia, que age como um partido político (o Partido da Imprensa Golpista – PIG, na definição do jornalista Paulo Henrique Amorim), francamente reacionário e hostil às forças progressistas e aos movimentos sociais.
Há uma ampla e crescente unidade na sociedade sobre a necessidade de uma reforma política democrática. A coalizão que liderou a campanha realizada entre 1 e 7 de setembro reúne OAB, CNBB, MST, UNE, CTB, CUT e outras centrais sindicais, partidos políticos de esquerda e centenas de entidades dos chamados movimentos sociais. Reina neste meio a consciência de que uma reforma política democrática é pré-condição para as mudanças mais profundas que a nação demanda.
A questão central, neste caso, embora não única, é o financiamento privado das campanhas políticas, realizado principalmente por grandes capitalistas, que sempre foram e serão movidos por interesses econômicos e ideológicos geralmente opostos aos do povo brasileiro. É por este meio que se consolida a subordinação do poder político ao poder econômico.
O TSE estima que R$ 73 bilhões deverão ser gastos na campanha eleitoral deste ano em todo o país, sem considerar o Caixa 2. O grosso desses recursos provém de grandes empresas nacionais e estrangeiras. Em outras palavras, é a grande burguesia quem tem poder para “doar” tantos bilhões e, com isto, acaba dominando os políticos e as instituições, em detrimento dos interesses do povo e da nação.
O que os capitalistas dão com uma mão cobram com a outra, impondo uma política econômica conservadora e bloqueando no Congresso Nacional propostas e iniciativas que contemplam interesses da classe trabalhadora, como a redução da jornada, a restrição da terceirização e a ratificação da Convenção 158 da OIT, entre outras.
Democratização da mídia
O financiamento privado é responsável em grande medida pela composição conservadora do Congresso Nacional e talvez seja hoje a principal fonte de corrupção política, pois transforma a organização de uma contabilidade paralela e ilegal (o Caixa 2 das campanhas) numa necessidade para todos os partidos políticos que a ele recorrem. Por isto, o projeto de iniciativa popular proíbe o financiamento privado, amplia o financiamento público e admite contribuições individuais no valor máximo de R$ 700,00.
A direita neoliberal, que representa os interesses dos grandes capitalistas, compreensivelmente é radicalmente contra a reforma democrática advogada pela coalizão de forças progressistas e a proibição das doações empresariais, alegando que isto vai resultar no aumento dos gastos públicos. A conduta dos grandes meios de comunicação reflete a conspiração silenciosa da classe dominante contra a demanda popular por democratização do sistema político e eleitoral do país.
Não é a primeira nem será a última vez que isto ocorre. Foi assim na campanha das Diretas Já, boicotada até a última hora. Mais recentemente os mesmos interesses obscuros motivaram o silêncio midiático frente ao parecer de 19 ministros do TST sobre a generalização da terceirização. Manifestações organizadas pelos movimentos sociais são solenemente ignoradas ou abordadas de forma hostil com o objetivo de desmoralizar suas lideranças ou incompatibilizá-las com a população.
Tudo isto sugere a necessidade de outra reforma, a reforma da mídia. É indispensável democratizar os meios de comunicação, combater os monopólios e fortalecer a mídia pública em detrimento da privada, financiar os veículos progressistas, ligados aos movimentos sociais e comprometida com a classe trabalhadora.
Umberto Martins é jornalista, assessor político da Presidência da CTB e colaborador do Portal Vermelho
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