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Brics avança a todo vapor com China e Índia como locomotivas

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A Sexta Cúpula do Brics atraiu mais atenção do que as demais reuniões de seu tipo na curta história da aliança, e não apenas de seus próprios integrantes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Dois grupos externos definidos por interesses divergentes acompanharam de perto a cúpula, realizada em Fortaleza, nos dias 14 e 15, e em Brasília, no dia 16.

Por Shastri Ramachandaran, na agência IPS

 

Presidente da Índia, Narendra Modi

Por um lado, as economias emergentes e os países em desenvolvimento, e de outro Estados Unidos, Japão e outros países ricos do Consenso de Washington e das instituições gêmeas de Bretton Woods, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O primeiro grupo queria que o Brics, formado em 2008, conseguisse dar os primeiros passos para uma ordem mundial mais democrática, que reforme as instituições internacionais para que sejam mais equitativas e representativas da maioria no planeta. O segundo grupo costuma prognosticar a morte do Brics e aposta em que a rivalidade entre China e Índia impeça que a aliança de países passe das palavras aos fatos.

O resultado da cúpula no Brasil deve ter sido uma decepção para este último grupo. Os obituários foram prematuros, quando não injustificados. E como “aconselhavam” seus mais sofisticados adversários, o Brics não se apegou a uma agenda econômica. Em seu lugar divulgou uma declaração política que ecoaria nos pontos mais conflitantes do mundo, de Gaza e Síria, até Iraque e Afeganistão.

Os gigantes asiáticos China e Índia, longe de que sua chamada rivalidade dilatasse as decisões sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e sobre o Acordo de Reservas de Contingência (ARC), seu fundo monetário, souberam pegar o touro pelo chifre e acrescentar uma dimensão estratégica ao Brics.

Com o deslocamento da balança do poder econômico mundial para a Ásia, a crise financeira e o colapso dos principais bancos e instituições financeiras do Ocidente, o fracasso do Consenso de Washington e das gêmeas de Bretton Woods, existia a necessidade urgente de ideias e novos instrumentos para a construção de uma nova ordem.

O Brics, com o pano de fundo do argumento convincente a favor de passos firmes e viáveis para uma nova arquitetura global das instituições financeiras, e depois de muita deliberação, conseguiu chegar a um acordo sobre o banco e o fundo de emergência. Do ponto de vista da Índia, foi um estrondoso êxito essa cúpula do Brics, grupo que representa um quarto do território do planeta em quatro continentes e 40% da população mundial, com um produto interno bruto combinado de US$ 24 trilhões.

O sucesso é mais doce para o governo da Aliança Democrática Nacional, coalizão encabeçada pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), já que a cúpula de Fortaleza foi o primeiro compromisso multilateral do primeiro-ministro Narendra Modi, que assumiu no dia 7 de junho.

Por ser estreante, Modi se defendeu com honra ao se manter afastado dos perigos do fórum multilateral e dos intercâmbios multilaterais, em particular em suas conversações com os presidentes da China, Xi Jinping, da Rússia, Vladimir Putin, e com a anfitriã, Dilma Rousseff. Modi também fez uma forte declaração política pedindo a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e do FMI.

Na verdade, a intensificação e o aprofundamento das relações entre China e Índia por seus respectivos governantes é um resultado importante da reunião no Brasil, embora o diálogo de ambos tenha ocorrido em um segundo plano da cúpula. No entanto, Modi e Xi se expressaram quase em uníssono sobre a política e os conflitos mundiais e a favor da reforma das instituições internacionais.

Os novos chefes de governo da China e da Índia enviaram um sinal inequívoco de que há mais interesses que os unem do que diferenças que os separem. A primeira viagem internacional de Modi também foi significativa pela comunhão que conseguiu estabelecer em sua primeira relação com Xi.

A estatura, a potência e a credibilidade do Brics dependem de sua coesão e harmonia interna. Isto gira quase totalmente em torno das relações entre China e Índia. Se ambas derem as mãos, falarem com uma só voz e caminharem juntas, então o grupo terá maior probabilidade de sucesso no sistema internacional.

Modi e Xi se entenderam, para consternação dos Estados Unidos e do Japão. Falaram de seus interesses e suas preocupações comuns, sua determinação de seguir adiante com a agenda do Brics e até coincidiram quanto à necessidade de chegar a uma rápida solução de seu problema fronteiriço.

Também convidaram-se mutuamente para uma visita de Estado e Xi deu um passo a mais ao convidar Modi para a reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, que a China organizará em novembro. Além disso, pediu à Índia que aprofunde sua participação na Organização de Cooperação de Xangai.

A frutífera reunião de 80 minutos entre Xi e Modi destaca que ambos estão inclinados a aproveitar as oportunidades que uma associação de mútuo benefício teria para seus objetivos econômicos, políticos e estratégicos. O encontro fixou o tom para a visita do líder chinês à Índia em setembro.

Embora o fortalecimento da relação entre China e Índia tenha sido um dos maiores êxitos dos dez anos de governo do ex-primeiro-ministro indiano Manmohan Singh (2004-2014), depois de certo ponto o vínculo perdeu força. Agora, Xi e Modi se esforçam para dar vitalidade à relação que repercutirá na região e fora dela.

Como é costume quando se trata de assuntos externos e de segurança nacional, o novo governo de Modi não se afastou do caminho traçado pela administração anterior. O Brics como prioridade representa a continuidade e a coerência em sua política externa. Ainda assim, o BJP merece uma nota máxima porque não tratou o Brics nem a cúpula no Brasil como algo que precisava ser cumprido como obrigação ditada pelo governo anterior de Singh.

Antes de partir para o Brasil, Modi destacou a “grande importância” que dá ao Brics e deixou claro que a política internacional seria prioritária em sua agenda. A cúpula foi um fato extremamente político que aconteceu “em um momento de agitação política, conflitos e crises humanitárias em várias partes do mundo”, afirmou. “Vejo a Cúpula do Brics como uma oportunidade de discutir com meus sócios como podemos contribuir com os esforços internacionais para abordar as crises regionais, as ameaças à segurança e restabelecer o clima de paz e estabilidade no mundo”, declarou Modi às vésperas do encontro. Além disso, elogiou a Rússia como “melhor amiga da Índia”, após se reunir com Putin.

A Índia pertence ao Brics e se o grupo é a maneira de avançar no mundo, então pode confiar que a Índia, junto com a China, vai liderar o caminho, independente das mudanças políticas em seus países. Essa parece ser a mensagem de Modi em seu primeiro evento multilateral.

Fonte: Envolverde

Blog do Mamede

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